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Maior festival de rock pesado vira megafiasco

Sem pagamento, bandas nacionais e internacionais deixam de comparecer; parque em São Luís cheira a estábulo e público enfrenta falta de água e luz

Por Marcelo Moreira
Atualização:

Filas enormes, espectadores acampados em estábulos malcheirosos, falta de energia elétrica e água e cancelamentos de última hora de 11 das 46 atrações. Esse era o desastroso saldo do Metal Open Air, minutos antes de o festival ter início anteontem em São Luís (MA). O que era para ser o maior festival de rock pesado da história do Brasil e da América do Sul se transformou em um dos maiores fiascos na área de entretenimento de que se tem notícia.Tudo começou a dar errado há 11 dias, quando a banda santista Shadowside anunciou que havia desistido de tocar no evento. Na época, os integrantes justificaram apenas que houve problemas em relação ao horário agendado, para o dia 21 (ontem), pela manhã. "Não teríamos como chegar a tempo, o voo só aterrissaria em São Luís no meio da tarde", declarou a vocalista Dani Nolden.Com a explosão de problemas relacionados ao festival, na quarta-feira a cantora resolveu falar abertamente sobre os outros motivos para abandonar o festival. "Tentamos amenizar o discurso porque pensávamos que só nós estávamos passando por aquilo tudo: sem contrato, sem pagamento antecipado, sem passagens para São Luís. Quando vimos que outras bandas sofreram a mesma coisa, não deu mais para ficar calada. Dificilmente teremos outro festival desse porte no País, falta credibilidade", disse Dani.A crise estourou de vez dois dias antes do início do festival, programado para começar anteontem. A banda gaúcha Hangar anunciou a desistência e denunciou pelo Facebook que não tinha recebido o cachê prometido e as passagens para o deslocamento de São Paulo a São Luís - e sem receber justificativa dos organizadores.Ao mesmo tempo, o Corpo de Bombeiros do Maranhão e o Procon local vistoriaram o local - o enorme Parque Independência - e constaram falhas estruturais na construção de banheiros, dos palcos e no estabelecimento de áreas de dispersão do público, estimado em 240 mil pessoas para três dias de shows. Já o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais (Ecad) tentava, sem sucesso, suspender na Justiça o evento por falta de pagamento de taxas.Sem nenhuma informação ou orientação, o público começou a se acumular um dia antes do festival na porta do parque - eram os espectadores que tinham comprado os pacotes para acampar dentro do local do evento, nos moldes dos festivais europeus. Só tiveram acesso ao local horas depois do programado e encontraram uma péssima surpresa: não havia energia elétrica, água encanada, banheiros e o pior, a área de camping estava localizada dentro de um estábulo, com forte cheiro de esterco de cavalo - o Parque Independência é usado com frequência para feiras agropecuárias.Internacionais. Os problemas estavam longe de acabar. As bandas inglesas Saxon e Venom, que estavam entre as cinco principais atrações, anunciaram horas antes do início do festival que não viriam mais ao Brasil. Alegam "falta de pagamento de cachê, falta de contrato e problemas com a documentação para visto de entrada e trabalho".Outras sete bandas brasileiras desistiram no mesmo dia com as mesmas alegações, enquanto outras, como os Ratos de Porão, ameaçavam não embarcar sem garantias. Na sexta, a primeira banda a conseguir subir ao palco e tocar foi a canadense Exciter, com cinco horas de atraso.Os organizadores, Felipe Negri (Negri Concerts) e Natanael Júnior (Lamparina Produções), só vieram a público na noite de sexta-feira. Em declarações a jornais e TVs de São Luís, culparam o governo do Estado do Maranhão pelo corte das verbas prometidas e pela falta de infraestrutura do local.Enquanto isso, fiscais do Procon percorriam o parque, recolhendo depoimentos de espectadores para investigar denúncias de propaganda enganosa. Alguns tiveram de ouvir dos roqueiros que "isso é só uma prévia do que vai ocorrer na Copa 2014".

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