Mãe ainda não sabe que o filho morreu no acidente

Parentes evitaram dar a notícia para Hilda, 85; corpo de seu primogênito foi enterrado em Porto Alegre

PUBLICIDADE

Por Marcelo Auler
Atualização:

No mesmo dia em que Hilda Lima da Luz, de 85 anos, recebeu alta do hospital onde passou 90 dias internada, seu filho mais velho, José Antônio Lima da Luz, de 60, embarcou no vôo 3054 da TAM para São Paulo, onde faria a conexão de volta a Londrina, cidade onde morava. Auditor contábil da Unicred, José Antônio estava em Porto Alegre visitando a mãe, um mês após a morte do pai. Veja também: Cobertura completa do acidente com o vôo 3054 da TAM Sua mulher, Ilza, de 59 anos, foi acompanhada por uma vizinha ao Instituto Médico Legal de São Paulo. O auditor, identificado por meio de seus documentos, foi enterrado na quinta-feira à noite no Cemitério João XXIII em Porto Alegre. Debilitada, Hilda ainda não sabe da morte do filho. "É muita tragédia para uma senhora dessa idade", admitiu na quinta a irmã de Hilda, Nilza Nascimento Machado, que tem se dividido com a sobrinha Vera, de 44 anos - terceira filha de Hilda -, nos cuidados médicos que ela ainda necessita. Foi o segundo filho perdido em acidente. Há 20 anos, o filho do meio, Edson, então com 37 anos, morreu num acidente de carro. A irmã desconfia, no entanto, que o sexto sentido de Hilda está funcionando. "Ela, que falava muito, está bastante quieta desde que o marido morreu. Está muito mais observadora. Não sei como ainda não perguntou se o filho já ligou de Londrina. Ele ligava todos os dias. Vai ver que ela não pergunta para não ouvir a resposta que não quer", desabafou Nilza. Gerente comercial do SBT Outra vítima identificada pelos documentos foi o gerente comercial do SBT em Porto Alegre, José Luiz Souto Pinto. O corpo dele foi o primeiro das vítimas gaúchas a retornar à cidade, onde deve ser cremado. A família, no entanto, ainda aguarda a chegada de seu filho Igor, de 19 anos, que estuda na Austrália. Souto Pinto tinha viajado para São Paulo na companhia do diretor geral do SBT no Sul, João Brito, para reunião com clientes da rede de TV. Pretendia voltar na quinta-feira para casa. Ele morava apenas com a mulher Neusa, já que a segunda filha do casal - Débora, de 26 anos - faz mestrado em Brasília. O gerente da SBT tinha o hábito de arrecadar entre amigos, clientes e empresas donativos para distribuir entre entidades que dão assistência a idosos e menores carentes. A cremação do gerente, além de depender da chegada do filho, também terá de esperar autorização legal. As vítimas de acidentes não podem, por lei, ser cremadas imediatamente, pois depois não há a possibilidade de exumação, se necessária, para algum esclarecimento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.