18 de julho de 2007 | 19h15
Sem estardalhaço, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende demitir em breve a cúpula da Infraero, estatal que administra os aeroportos, e tirar poderes do ministro da Defesa, Waldir Pires, informaram à Agência Estado nesta quarta-feira, 18, interlocutores do presidente. Eles contaram que Lula, em conversas reservadas ao longo do dia, se queixou do brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero. Veja também: Lista das 186 vítimas do acidente O local do acidente Opine: o que deve ser feito com Congonhas? Os piores desastres aéreos do Brasil A cronologia dos acidentes em Congonhas Conheça o Airbus A320 Galeria de fotos Assista a vídeos feitos no local do acidente Conte o que você viu e o que você sabe Contaram também que Lula quer reforçar o Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac), criado em 2003 para assessorar a Presidência da República nas questões relacionadas ao setor aéreo. Formalmente, o Conac é presidido por Waldir Pires, mas será criada, como prevê o estatuto desse conselho, uma Secretaria Executiva, que, na prática, terá capacidade de gerenciar ações no setor, sempre acompanhada pelo Palácio do Planalto. A alternativa de reforçar o Conac, segundo uma pessoa próxima de Lula, é semelhante à tomada em 2001, no auge da crise do apagão de energia, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. À época, Fernando Henrique criou um grupo interministerial chamado "Ministério da Crise", sem demitir o então ministro de Minas e Energia, José Jorge, que, aliás, passou a fazer parte do grupo interventor. A próxima reunião do Conac está prevista para esta sexta-feira, e sua pauta prevê um debate sobre problemas na malha aérea. Silêncio Depois da declaração protocolar de luto oficial e da convocação de um comitê de crise, o primeiro movimento do governo após o acidente com o avião da TAM em Congonhas foi na ofensiva: Lula convocou a Polícia Federal para investigar a obra de reforma da pista do aeroporto. Em seguida o governo fez uma ação defensiva através de nota oficial de Pires, pedindo "cautela" nas especulações sobre as causas do acidente. Depois disso o governo parou. Quase um dia inteiro depois da tragédia e nenhuma autoridade federal de primeiro escalão diretamente ligada ao assunto veio a público para falar. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que estava em São Paulo acompanhando os trabalhos de resgate mantém-se em silêncio, assim como o ministro da Defesa, representantes do comitê de crise e outros. Isso sem falar nos presidentes de Infraero e Anac. Enquanto isso, o governador José Serra (PSDB) e o prefeito de Gilberto Kassab (DEM) estiveram no local da maior tragédia aérea do país e fizeram questão de falar muito com o público através da mídia. Ministro da Defesa Escanteado no gerenciamento da atual crise, o ministro, que vinha sendo atacado durante toda a crise aérea pela oposição, mídia e parcela da opinião pública, agora voltou a ter sua demissão exigida pela oposição. Se já era complicada por conta do acidente com o avião da Gol, a situação do ministro Waldir Pires entrou na fase mais difícil desde o início da crise aérea, disseram fontes do governo nesta quarta-feira. Horas após o acidente com o Airbus da TAM, na véspera, a oposição já pedia a cabeça do ministro. Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ponderam que dificilmente ele tomará alguma decisão sobre o futuro de seu auxiliar antes que as causas do acidente sejam minimamente esclarecidas. Muitos, no entanto, reconhecem que a imagem do ministro está "dilapidada" e que a conta do governo pode aumentar ainda mais por conta do imobilismo. Pires acompanhou o desdobramento do episódio na noite passada ao lado de Lula, mas não foi escalado a ir para São Paulo acompanhar o resgate de perto. Já Juniti Saito foi escolhido como único interlocutor do presidente. O contato entre eles é direto, pelo celular, relatou um assessor. Ação e reação De acordo com análises de bastidores do Planalto, feitas por funcionários que acompanham o caso diretamente, a iniciativa de Lula mostra que ele não está disposto a poupar ninguém, independente da relação com o governo. Segundo pessoas próximas ao presidente, os desdobramentos políticos sobre o acidente não eram avaliados com precisão na noite passada. Nesta manhã, no entanto, já corria no Planalto a avaliação de que, independentemente do resultado das investigações, o governo está sendo mesmo responsabilizado pelo ocorrido nas matérias da imprensa. A ordem é evitar especulações e impedir, nessa fase inicial, a propagação da tese de "tragédia anunciada". "O governo não está querendo disputar versão nem quer aceitar a atual versão como verdade", disse um assessor, referindo-se à tese de que o acidente aconteceu porque a pista principal de Congonhas não possui as ranhuras (chamadas de groovins) no asfalto, necessárias para aumentar a aderência entre aeronave e solo. Após a reforma, a via de pousos e decolagens foi colocada em funcionamento sem isso. (Com Natuza Nery, da Reuters)
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