Livro desvenda as histórias do Teatro Municipal de SP

Obra narra passagens vividas por estrelas que brilharam nos palcos, anônimos dos bastidores e personalidades marcadas pelo ícone da cultura paulistana

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Por Artur Rodrigues
Atualização:

SÃO PAULO - Das estrelas que brilharam no palco e quatrocentões que vestiam as melhores roupas para se exibir nos camarotes, passando pelos que trabalhavam nos bastidores dos grandes espetáculos e chegando até os pichadores que competiam para macular o "templo da elite". Mais que a arquitetura eclética de Ramos de Azevedo, o que torna o Teatro Municipal único são as histórias das pessoas que passaram por ele.

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Os jornalistas Edison Veiga, do Estado, e Vitor Hugo Brandalise esbarraram com elas por acaso, quando investigavam um caso de fraude em licitação para compra de instrumentos musicais do municipal. Acabaram fisgados pelas curiosidades que envolve o lugar e, 198 entrevistas depois, nasceu o livro "O Teatro Municipal - Histórias surpreendentes e casos insólitos".

A obra é resultado de um trabalho de pesquisa de quatro anos. Um período em que os personagens que tiveram suas trajetórias marcadas pelo teatro não paravam de crescer. "Chegou um momento em que percebemos que todos têm alguma história relacionada ao municipal de São Paulo, mesmo quem nunca entrou lá", diz Veiga. Por todos, entenda-se uma gama de personalidades que vai do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à dançarina Susana Alves, a Tiazinha.

O que dá liga às histórias são temas em comum envolvendo as personalidades mais diversas, como o cartunista Maurício de Sousa e a modelo Silene Zepter. Ele, que na adolescência viu a primeira mulher nua em um espetáculo no teatro, e ela, que fez a entrega de um prêmio sem nenhuma roupa.

Sem ordem cronológica, a narrativa acaba sempre voltando ao período mais importante do teatro, a Semana de Arte Moderna de 1922. O episódio é relatado por pontos de vistas dos protagonistas, como Oswald de Andrade e Anita Malfatti. E também estão ali visões menos conhecidas, como René Thiollier, o grande patrocinador dos modernistas, e Nazareth Prado, amante do escritor Graça Aranha. Os dois, de maneira bem humorada, disputam o mérito pela realização da semana. "Basta dizer que o Teatro Municipal me foi cedido, a mim, por alvará de 6 de fevereiro de 1922, pelo então prefeito da nossa capital, o saudoso doutor Firmiano Pinto", disse Thiollier. "Naquela época, 1922, eu estava em São Paulo, em casa de minha família. Graça Aranha necessitava de pretexto para me ver. A Semana de Arte Moderna foi um belo pretexto", afirmou Nazareth.

A história do municipal confunde-se e incorpora importantes características da metrópole. Como os congestionamentos. Na noite de inauguração, em 12 de setembro de 1911, o magnata Francisco Matarazzo ficou preso no primeiro engarrafamento da cidade, quando um terço dos 300 carros da frota paulistana seguiam para o evento.

Desde o primeiro dia, a elitização do espaço foi o principal motivo de críticas ao municipal. O escritor Mário de Andrade, como diretor do Departamento de Cultura do teatro, disparou: "Acabemos com essa falsificação ridícula, mera manifestação do luxo de alguns e não manifestação do luxo da cidade". Em 1915, a população já chegou a protestar pela democratização do municipal. Se hoje o motivo dos protestos é preço do ônibus, na época os manifestantes queriam ingressos mais baratos para a ópera no teatro.

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E assim como é difícil falar de São Paulo sem falar no municipal, muitos paulistanos ilustres e anônimos também não conseguem contar as próprias histórias - seja de amor, de fantasmas ou de encantamento - sem lembrar do imponente prédio da Praça Ramos de Azevedo.

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