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Livro conta a história do parque mais antigo de SP

Criado em 1798, o Jardim da Luz foi palco de acontecimentos importantes da cidade

Por Edison Veiga
Atualização:

O mais antigo parque paulistano se chama Jardim da Luz. Foi ali que paulistanos puderam ver, pela primeira vez, em 1883, a maravilha da luz elétrica. Também ocorreu no parque a primeira quermesse da cidade, a recepção aos soldados que lutaram na Guerra do Paraguai e muitas outras saborosas histórias da São Paulo antiga. Elas estão descritas no recém-lançado livro Jardim da Luz - Um Museu A Céu Aberto (Editora Senac SP, 240 págs., R$ 60), dobradinha do arquiteto e designer Ricardo Ohtake e do historiador Carlos Dias.Boa parte da pesquisa do livro não foi feita agora. Entre 1998 e 2001, Ohtake foi secretário municipal do Verde e Meio Ambiente. E Dias, seu chefe de gabinete. "Logo que assumimos, decidimos vistoriar vários parques. O da Luz foi o primeiro", conta o historiador. Bastante deteriorado à época, o local foi tratado como prioridade pela gestão de Ohtake. "Restauramos todo o espaço. Não havia mais projeto paisagístico. O parque estava desaparecido, era um matagal lá dentro", conta o ex-secretário. "Era uma pena, pois o parque é muito bonito, com influência dos jardins ingleses e filosofia baseada no romantismo."A intenção governamental de se criar o Jardim da Luz data de 1798: um documento real ordenava a fundação de um horto botânico em São Paulo, Pernambuco e Rio. O parque nasce dois anos mais tarde. "Ele foi inaugurado como viveiro de plantas. Afinal, queriam era produzir matéria-prima mesmo", diz Dias.Não havia preocupação de uso do espaço para o lazer da população. "Parecia um tabuleiro: eram ruazinhas intercalando os canteiros", comenta o historiador. O local já contava com um lago. Em 1825, o parque teve a primeira reforma. E foi realmente transformado em passeio público. "Até então, as cidades brasileiras não tinham esse conceito. Pela primeira vez São Paulo ganhou local com água, árvores, estátuas, lugar de contemplação da natureza", pontua Dias. O Jardim da Luz passou por nova remodelação na segunda metade do século 19, com a chegada da ferrovia. "Administradores começaram a se preocupar porque ali era a porta de entrada de São Paulo. Então tinha de ser uma coisa bonita." Em 25 de abril de 1870, quando os cerca de 200 soldados do batalhão dos Voluntários da Pátria retornaram da Guerra do Paraguai, foram recebidos pelas autoridades com um banquete no parque. Acesso. Por causa da Estação da Luz, a região ganhou linhas de bonde - que serviam principalmente para que gente de toda parte da cidade tivesse como chegar à ferrovia. A primeira linha, com veículos de tração animal, foi aberta em 1872. O benefício teve um efeito colateral: o parque passou a ser muito frequentado, sobretudo nos fins de semana. Afinal, era fácil acessá-lo. A partir daí, virou referência de entretenimento paulistano. Em 1874, ganhou torre de cinco andares - demolida em 1900 -, onde funcionou o primeiro observatório meteorológico de São Paulo. No mesmo ano, um botequim foi aberto no parque. Em 1876, ganhou iluminação: 763 combustores a gás. Foi ali também que aconteceu a primeira quermesse da capital - organizada pela comunidade francesa em 1882. E, em outubro de 1883, a primeira exibição de luz elétrica em São Paulo - com uma multidão de curiosos que precisou pagar ingresso para ver a maravilha tecnológica. Século 20. Na virada do século 19 para o 20, o Jardim da Luz passou por sua última grande remodelação. Ganhou minizoológico - com capivaras, veados, macacos, lobos, avestruzes e outros bichos - e passou a ter uma rua interna onde funcionava a grande atração: sob pagamento, podia-se dar a volta em um automóvel. Sua decadência coincide com a crise do café, no final dos anos 1920. "A partir de então, ele se torna apenas um espaço de passagem. Há reportagens, já na década de 30, questionando a má administração do espaço", conta o historiador. NOME DO PARQUEJardim da LuzREGIÃO CENTRALO Jardim da Luz tem esse nome por estar no bairro da Luz. Que foi batizado assim por razões religiosas: refere-se a Nossa Senhora da Luz. A imagem instalada no caminho do Guaré é um dos símbolos católicos mais antigos da cidade - está presente em São Paulo desde o século 17.

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