Letras verdes de Carlos Adão vão da rua para galeria

Economista que há 17 anos espalha mensagens de autopromoção com sua assinatura por São Paulo expõe trabalhos pela 1ª vez

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Por Rodrigo Burgarelli
Atualização:

Carlos Adão - sim, aquele mesmo nome espalhado em preto e verde-limão por milhares de muros e paredes de São Paulo - virou artista. Ele inaugurou sua primeira exposição no Espaço Kabul, na Consolação, centro de São Paulo, na semana passada. Na galeria, 28 quadros dão uma pequena mostra da mente inquieta e ambiciosa desse economista de 56 anos que, por ou sem querer, é uma das figuras mais intrigantes da cidade.Paulistano do Butantã, Carlos Adão começou por lá mesmo, há 17 anos, sua mania de pintar nome e sobrenome pelas ruas da capital. Quem presta atenção na cidade certamente já se deparou com algumas dezenas de pinturas dessas, hoje espalhadas pelos quatro cantos de São Paulo. Depois, começou a fazer pequenas frases, quase sempre relacionadas a temas como amor e sexo - algumas inocentes, como "Carlos Adão é amor", e outras ousadas, como "Carlos Adão é penetrante" (leia acima).Mas a mudança mesmo, diz ele, foi há quatro anos, quando conheceu o grafiteiro Mundano e outros nomes da arte de rua de São Paulo. "Eles gostavam do meu trabalho, me procuraram e me incentivaram a fazer desenhos também, além das frases", conta Adão. E, neste ano, começou a pintar quadros. Até agora, foram 120, todos com temáticas já abordadas nas ruas da cidade.Tema. Aficionado por números desde a faculdade de Economia - hoje ele é aposentado, mas é dono de uma microempresa de motopeças -, Adão diz que já pintou sua marca exatas 106.423 vezes em 115 cidades de 5 Estados diferentes desde que começou o hobby. "Eu sou igual a matador de aluguel, que conta os assassinatos fazendo marquinha no cabo da arma. Não perco a conta de jeito nenhum", explica. No entanto, é difícil tirar dele uma boa explicação para essa fixação com o próprio nome - que é, na verdade, Carlos Alberto Adão. "Pintava meu nome no tênis desde a época do colégio", diz. Mas por que isso? Um delírio egocêntrico? "Não, não tem nada a ver com isso", se defende. "Na verdade, o "Carlos Adão" que escrevo não sou eu, mas uma marca. Quando eu digo que "Carlos Adão é filosofia", não estou falando de mim mesmo; falo da marca. E as pessoas tendem a associar várias outras coisas boas a essa marca. E isso é arte pura, é revolução",afirma.No entanto, ele mesmo brinca quando o assunto da frase é relacionado ao seu (largamente) autoproclamado charme com o público feminino. "Pega essa aqui, "Carlos Adão é sexy". Pô, você quer que eu diga o quê? Que eu sou feio?", diz, em tom de piada. E ainda emenda: "Já saí com 2.271 mulheres nessa vida. E todas eram bonitas, pode acreditar", garante Adão, que já se casou um vez, se divorciou e é pai de cinco filhos.Visibilidade. Seja lá qual for a motivação real, o fato é que Adão tem uma vontade ferrenha de fazer circular essa tal "marca". O próprio Mundano - o grafiteiro que é atualmente o curador do Espaço Kabul e que trouxe Adão para expor seus quadros no local - foi atrás de Adão por perceber a originalidade na concepção das pinturas do economista. "Ele sempre escolheu locais mais visíveis, nas esquinas, na altura dos olhos de quem passa", diz Mundano. Outra prova dessa teoria é sua obstinação em espalhar objetos com a "marca" - além de usar terno, camisa e cueca com o logo "Carlos Adão" pintado, ele distribui para amigos e conhecidos itens personalizados, como mochilas, calcinhas, adesivos, camisetas, cartões e até CDs com músicas que repetem o nome exaustivamente. Seu maior trunfo, segundo Mundano, é a curiosidade que o personagem desperta. Para ele, toda essa inspiração - e também a transpiração - ainda vai render um futuro grandioso ao artista. "Dos 28 quadros expostos, 7 já estão vendidos. E, se eu fosse você, comprava logo um enquanto eles ainda custam R$ 100 cada. Daqui a alguns anos, isso vai estar dez vezes mais valioso", diz.ServiçoEXPOSIÇÃO "CARLOS ADÃO É ARTE". ESPAÇO KABUL. RUA PEDRO TAQUES, 124, CONSOLAÇÃO. O ESPAÇO É UM MIX DE GALERIA, BAR E BALADA. DE R$ 10 A R$ 15. ATÉ 8/11. DE TERÇA A QUINTA-FEIRA, A PARTIR DAS 21H.

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