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Led Zeppelin e grama plástica

Por PAULO SAMPAIO e RIO
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Em um intervalo de apresentações do Rock in Rio, o engenheiro de som Peter Racy coloca para tocar Dancin' Days, clássico da banda inglesa Led Zeppelin, enquanto a universitária Carolina Osta e quatro amigos na faixa dos 20 anos aguardam na fila de mais de 100 pessoas para dar um giro na roda gigante.Ninguém tem ideia de que banda é aquela. "Ai, moço, ganha alguma coisa se responder? Pode dizer qualquer m... Sei lá: Guns?" Os cinco vieram à cidade do rock principalmente para assistir o show de Rihanna, a última a se apresentar na noite, por volta da uma hora. Nas palavras de Marlon Atos, de 20, "ela é safadinha e gosta de apanhar na cama, hahaha". E a roda girando.O espanhol Fernando Berral, de 35, que coordena embarques e desembarques, explica a necessidade de vir alguém de tão longe para montar uma atração básica em qualquer parque de diversões de posto de gasolina: "Não existe nenhuma igual a essa, de 40 metros, no Brasil". Cada pessoa dá três voltas, que duram cerca de cinco minutos. Berral garante que, na Espanha, ela roda muito mais rápido (aqui, de fato, para mais que gira). "O Rock in Rio não quis que ela corresse."Do outro lado da Cidade do Rock, a montanha russa também é bastante procurada, mas nada como a tirolesa. A enfermeira Carmilix ("mistura do nome da minha mãe, Carmem, com o da minha avó, Alix") Marliere, de 41, esperou cerca de 3 horas na fila de sete voltas: "Nunca experimentei descer na tirolesa. Vou estrear no Rock in Rio, cara, pensa bem, vale à pena", diz ela, amassada pela multidão no gradil de ferro que margeia a fila.Um pouco atrás, na terceira curva da fila, a cirurgiã dentista Flávia Lacerda, de 35, diz que está ali mais pelo marido, o médico Francisco Valente, de 33: "Esperar 2 horas para descer 30 segundos em uma corda... É mole?", pergunta ela, com forte sotaque carioca.Metaleiro. Ali perto, o universitário militar Luiz Ramona, de 25, explica que foi dispensado do quartel porque o subtenente é metaleiro e simpatiza com o Rock in Rio. "Ele deu a maior força para eu vir", conta. Ramona é apaixonado por Katy Perry, que se apresentou depois de Cláudia Leitte: "Ela é simples, simpática e carismática", diz ele. Ou seja, nada metaleira.O militar e duas amigas estão sentados modorrentamente na grama de plástico que forra boa parte do chão da cidade do rock. Juliana Peres, de 22, que é universitária e baterista, acha que "lama é muito mais rock and roll", referindo-se ao estado geral em que se transformou a Cidade do Rock no festival de 2001. Por sua vez, a designer Beatriz Canelas, de 19, argumenta: "Não dá para honrar a essência dos festivais, trazer o passado para o presente. A gente vive na era da tecnologia, do plástico". Por fim, Ramona encerra o debate com um argumento que levaria os hipongas sujinhos de Woodstock a se sentirem pré-históricos. "A grama natural pinica, dá alergia".

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