Laudo do IC aponta que Metrô falhou na fiscalização da Linha 4

Diversos fatores teriam causado cratera, como falha no gerenciamento do risco e instabilidade do solo

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Por Eduardo Reina
Atualização:

O Metrô de São Paulo falhou na fiscalização das obras da Linha 4-Amarela. A conclusão foi apresentada no laudo final do Instituto de Criminalística (IC) apresentada nesta quinta-feira, 28, sobre o acidente nas obras da Estação Pinheiros, que deixou sete pessoas mortas em 12 janeiro de 2007. No documento, são apontadas várias causas para o desabamento. No entanto, o fato da obra não ter sido paralisada um dia antes do acidente é destacado.   Veja também: Empresas do Via Amarela vencem nova licitação Via Amarela transferiu técnicos após acidente Confira as conclusões do IPT sobre o acidente    Especial sobre o acidente do Metrô  Vídeo da cratera no Metrô  Versão da Via Amarela sobre o acidente    Em nota, o Consórcio Via Amarela afirma que não tomou conhecimento formal do documento. O Metrô informou que recebeu no dia 26 de agosto uma cópia do laudo e que encaminhou o documento para análise interna. Além disso, o Metrô afirma que vai esperar as manifestações do Ministério Público e da Justiça.   No dia 10 de junho deste ano, o Estado antecipou que o promotor Arnaldo Hossepian, responsável no Ministério Público Estadual (MPE) pelas investigações sobre o acidente deve denunciar por homicídio culposo (sem intenção) os responsáveis pelo poço de escavações que veio abaixo em janeiro do ano passado, matando sete pessoas. A pena prevista é de 1 a 3 anos de detenção. Mas a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), o governo do Estado e o Consórcio Via Amarela também devem ser denunciados.   Tragédia podia ser evitada    Um dia antes do acidente, uma reunião foi feita entre o Consórcio Via Amarela (CVA) e técnicos da obra para discutir o que seria feito com a instabilidade do terreno. Mesmo sabendo do problema, a obra não foi paralisada. São apontadas como possíveis causas do acidente a desconformidade no gerenciamento de risco, na instrumentação e no monitoramento da obra, a saturação do solo, a alteração da seqüência executiva da construção.   Entretanto, os peritos do IC observam que "não havia risco iminente" de queda do túnel. "Os valores da instrumentação (equipamentos que medem alterações no solo e na construção) estavam dentro de patamares registrados em outras ocasiões". Isso levou os responsáveis pela obra a crer que não havia indícios de que era preciso acionar o plano de emergência ou mesmo paralisar os trabalhos.   Nesta quinta, foram relacionadas ainda algumas recomendações, principalmente a revisão dos arranjos contratuais (turn-key), auditoriais e de controle.   24 horas antes   No dia anterior ao desabamento, foi realizada uma reunião entre consórcio e Assistentes Técnicos de Obra (ATO) para discutir o que poderia ser feito sobre a instabilidade do terreno, já que foram detectadas visualmente algumas alterações nas paredes do túnel. Entretanto, nada ficou definido e 24 horas depois tudo veio abaixo.   Em depoimentos à polícia, assistentes técnicos disseram que o fato de comunicarem aos diretores do consórcio os problemas faria com que o CVA determinasse a paralisação da obra. Já a direção do consórcio alegou que foram os ATOs que não teriam mandado paralisar os trabalhos.   Para eles, houve falta de comunicação entre Consórcio Via Amarela, Metrô e Assistentes Técnicos de Obra, o que provocou uma falsa sensação de segurança à construção. E principalmente que houve falha de fiscalização do Metrô. CVA, Metrô, ATO, monitoramento e projetistas demoraram ou foram incapazes de identificar os problemas surgidos durante a construção.   Já a hipótese da existência de uma grande rocha que deslizou e provocou o desabamento, levantada pelo especialista norueguês Nick Barton, foi descartada pela polícia. O colapso teve origem, diz o laudo, na lateral Abril do estação, e não na calota do túnel, conforme relatório apresentado pelo Via Amarela. Os peritos chamam a atenção para o modelo geológico utilizado no projeto ser "simples demais" em relação á complexidade do solo.   Leia mais informações em O Estado de S. Paulo de sexta-feira, 29.

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