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Justiça exige o fim da greve em SP e PM escolta caminhões de combustível

Multa por desobediência é de R$ 1 mi/dia; pelo menos 100 dos 2 mil estabelecimentos da Região Metropolitana relataram falta do produto

Por Artur Rodrigues , Bruno Ribeiro e Nataly Costa
Atualização:

No segundo dia de paralisação na distribuição de combustíveis na Região Metropolitana, promovida por caminhoneiros contrários às restrições na Marginal do Tietê, a Prefeitura decidiu parar de negociar e agir: pediu ajuda à PM para escoltar caminhões-tanque e obteve na Justiça liminar para que os grevistas suspendam a greve - sob pena de multa diária de R$ 1 milhão. Ontem, 100 dos 2 mil postos da Grande São Paulo já relatavam falta de etanol, gasolina ou diesel.O prefeito Gilberto Kassab (PSD) ainda fez duras críticas aos manifestantes. "É inadmissível a falta de compreensão das empresas de distribuição e de transporte em relação à necessidade da restrição de horários", disse Kassab ao Estado. "Então fizemos o Rodoanel para quê?" A restrição aos caminhões na Marginal vale das 5 às 9 horas e das 17 às 22 horas nos dias úteis. Aos sábados, é das 10 às 14 horas.Sem avanço nas negociações, a administração municipal decidiu, à tarde, entrar com ação civil pública e obteve resposta rápida do juiz Emilio Migliano Neto, da 7.ª Vara da Fazenda Pública. "O movimento paredista levado a efeito pelos integrantes dos sindicatos requeridos está comprometendo o abastecimento de combustíveis de veículos nos postos de distribuição, o que está gerando uma insegurança no cidadão paulista, em especial o paulistano, inclusive com a paralisação de serviços essenciais", escreveu o magistrado. Para evitar represálias de grevistas, escoltas policiais passaram a ser realizadas desde a manhã de ontem. Antes disso, em São Caetano do Sul, um motorista teve o veículo apedrejado e a chave atirada no Córrego dos Meninos por manifestantes. O juiz Emilio Migliano Neto ainda ordenou à noite que cessem as ações do sindicato, "em especial 'piquetes' nos centros de distribuição e paralisações de caminhões em vias públicas, interrompendo o fluxo regular do tráfego de veículos".Para gerenciar o trabalho de segurança, a Polícia Militar também criou um gabinete de crise, que inclui a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a São Paulo Transportes (SPTrans), o Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis (Sincom) e a Polícia Rodoviária Federal. Os carregamentos eram para postos instalados dentro de pátios da Prefeitura e para o Aeroporto de Congonhas. Nenhum veículo foi escoltado para abastecer postos comuns, mas a PM afirma que essa operação ainda poderá ser feita, respeitando a prioridade dada aos serviços essenciais. "Não podemos forçar os motoristas a trabalhar, mas damos garantia de deslocamento, caso exista impedimento", disse o porta-voz da PM, major Marcel Soffner. Negativas. O Sindicato dos Transportadores Rodoviários de Bens Autônomos do Estado (Sindicam-SP), principal organizador do bloqueio à distribuição dos combustíveis, afirmou que as escoltas da PM não farão o movimento recuar. "Nós mesmos pedimos às distribuidoras que elas buscassem escoltas, para evitar algum ato perigoso. Afinal, o produto que transportamos é uma carga perigosa. Mas esses serviços essenciais não estavam sendo bloqueados", alegou Norival de Almeida Silva, presidente da entidade. Ele negou que as agressões relatadas por caminhoneiros que tentaram furar os bloqueios tivessem sido feitas pelos manifestantes do sindicato. E negou inclusive que houvesse bloqueios dentro dos centros de distribuição de combustível.Silva afirmou ainda que os caminhoneiros que distribuem combustíveis não vão retornar ao trabalho enquanto a restrição não for revista. "Eu sou dono do meu caminhão. Ninguém pode me obrigar a trabalhar. Se essa restrição me dá prejuízo, eu prefiro ficar em casa. Estamos tentando negociar com a Prefeitura desde segunda-feira", afirmou.Entretanto, o sindicato ainda se reuniria hoje para avaliar eventuais mudanças de estratégia para manter as manifestações contra as restrições ao trânsito na Marginal do Tietê.O outro sindicato requerido na ação da Prefeitura, o das Transportadores de Carga do Estado de São Paulo (Setcesp) - que oficialmente não apoiou a ação dos grevistas -, disse que só se manifestaria sobre o assunto hoje, após ter acesso à decisão judicial. Empresários ouvidos ontem pelo Estado, no entanto, cogitavam suspender as atividades hoje por dois motivos: o temor da falta de combustíveis e o aumento de custos trazidos pelas restrições. Urgência. Empresas de ônibus da capital temiam que a paralisação dos caminhoneiros autônomos começassem a afetar o transporte público a partir do meio-dia de hoje. A falta de diesel nas bombas das garagens pode comprometer a saída de parte dos coletivos. O anúncio da articulação da Prefeitura com a PM, no entanto, deveria possibilitar o reabastecimento das bombas, o que estava marcado para ocorrer durante a madrugada de hoje - de forma a evitar que o transporte público fosse afetado ao longo do dia. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), com o combustível que havia disponível ontem os 8,9 mil ônibus que rodam em linhas das 15 empresas concessionárias conseguiriam circular só durante a manhã de hoje. "À tarde não tem garantia", informou a Assessoria de Imprensa. /COLABORARAM CAIO DO VALLE e FELIPE TAU

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