''Jurados dão mais crédito para discurso que prega a certeza''

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Por Análise: Luiz Flávio Gomes
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Durante os debates no último dia do julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, o promotor de Justiça Francisco Cembranelli fez um discurso afirmativo, agressivo. O defensor Roberto Podval, por sua vez, procurou explorar as dúvidas sobre o caso da morte da menina Isabella Nardoni - morta em 29 de março de 2008, após ser jogada do 6.º andar do Residencial London, na Vila Isolina Mazzei, zona norte de São Paulo.Habitualmente, os jurados dão mais crédito para discursos que pregam a certeza. A linha do tempo usada por Cembranelli foi fatal nesse sentido. Ali ele decidiu os rumos desse júri. O promotor narrou para os jurados minuto a minuto o que aconteceu das 23h36 até meia-noite daquele dia em que a menina Isabella foi jogada pela janela. Essa estratégia da acusação matou o julgamento. Isso comprovou que o casal estava na cena do crime. É muito importante também ressaltar que os gestos de Cembranelli eram sempre largos, amplos. Ele encarava o jurado olho a olho. O defensor do casal, no entanto, levou a mão ao rosto quase 20 vezes durante suas falas. Ele pensava para falar. O gestual e as expressões faciais, porém, são muito importantes em um Tribunal de Júri como esse.Além disso, se a defesa tivesse insistido na inocência de Anna Jatobá, teria conseguido a sua absolvição, pois a prova contra ela é muito fraca - embora os legistas tenham apontado ferimentos no pescoço de Isabella compatíveis aos provocados pela força das mãos de uma mulher. Mas, como isso não aconteceu e no contexto em que as coisas se deram ontem, os dois foram condenados. Após os debates, o juiz Maurício Fossen optou por formular 14 quesitos para os jurados responderem sobre cada réu. Não era necessário, mas ele preferiu desdobrar em vários quesitos de autoria do crime para que tudo ficasse mais claro no momento da votação. LUIZ FLÁVIO GOMES É JUIZ APOSENTADO E PROFESSOR DE DIREITO PENAL

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