Juiz não aceita acordo proposto por defesa de Abadía

Segundo procuradora, 'dinheiro poderia ser revertido para área social'

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Pereira
Atualização:

O juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, negou o acordo proposto pelo megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadia. Segundo informações da procuradora-geral da República Thaméa Danelon, o acordo proposto pela defesa de Abadia não foi aceito porque o juiz não concordou em receber de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões, além da rendição de mais quatro comparsas do traficante, em troca da extinção de acusações contra a mulher do traficante e sua transferência para São Paulo. Ela lamenta que o acordo não tenha sido aceito. "Esse dinheiro poderia ser revertido para a área social, ONGs, infra-estrutura da Justiça e outros fins", disse. O megatraficante é chefe do cartel do Valle del Norte, na Colômbia. Ele está detido no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande (MS) e foi levado para a sede da Superintendência da Polícia Federal de São Paulo, na Lapa, na zona oeste da cidade, na noite de terça-feira, 15. Abadía passou a noite na sede da PF e chegou à Vara Criminal, que fica na Rua Ministro Rocha Azevedo, nos Jardins, no meio da manhã. Benefícios singelos O advogado do traficante, Luiz Gustavo Bataglin Maciel, disse que os pedidos de seu cliente eram "benefícios singelos e razoáveis" e que estuda eventual recurso nos tribunais superiores. "Ele (Abadía) colaborou desde o princípio, desde a fase inqueritorial, depois na fase judicial, entregando bens, patrimônio, reconhecendo a procedência ilícita, em absoluto respeito ao Estado brasileiro e portanto pretende benefícios singelos que tiveram a concordância do Ministério Público Federal. Não são exigências exageradass e infelizmente nesse momento tivemos procedimento juridicional desfavorável", disse Maciel no início da tarde, ao deixar o prédio da Justiça Federal. O advogado confirmou que o juiz se irritou com as exigências de Abadía e em alto tom de voz chegou a interromper a oitiva. "Foi uma situação que prefiro não comentar", concluiu Maciel. Acusado de mais de 300 assassinatos na América Latina e de outros 15 nos Estados Unidos, vários deles de policiais. A intenção da defesa do traficante é de negociar a extradição de Abadía para os Estados Unidos, onde ele responde por crimes de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e assassinatos. O traficante promete entregar cerca de R$ 70 milhões de sua fortuna caso a justiça federal agilize o processo de extradição. Outra exigência do criminoso para entregar o dinheiro é não ter de cumprir pena no Brasil. A polícia acredita que os R$ 70 milhões prometidos por Abadía façam parte dos R$ 100 milhões que estavam escondidos dentro de um carro, que está desaparecido, na garagem de um prédio em São Paulo. A decisão de extraditá-lo cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília. Abadía acredita que quanto mais rápido pisar em solo norte-americano, mais fácil será negociar uma redução de pena através da entrega de mais dinheiro. Prisão No dia 7 de agosto de 2007, em operação sob o comando da Polícia Federal, intitulada "Operação Farrapos", Ramírez foi preso num condomínio fechado em Aldeia da Serra, na Grande São Paulo. Parte dos bens do traficante já foi leiloada recentemente. De acordo com o Ministério da Justiça, o prazo para a permanência do traficante colombiano no presídio federal é de um ano, prorrogável pelo mesmo período. Juan Carlos Ramírez Abadía tem uma fortuna avaliada em US$ 1,8 bilhão segundo o Departamento de Estado Norte-Americano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.