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Jovens são maior desafio para reduzir mortes no trânsito de SP

Óbitos caíram 15% na capital, mas ficaram estáveis na faixa entre 18 e 24 anos, mesmo com redução de velocidade

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - As políticas de segurança viária adotadas no último ano em São Paulo não surtiram efeito entre a população de 18 a 24 anos, justamente a faixa etária que concentra a maioria das vítimas no trânsito. Embora o total de mortes na cidade tenha caído 15% na comparação entre 2015 e 2016 (de 1.119 para 950 casos), nesse grupo o número se manteve estável: oscilou de 172 mortes, em 2015, para 173 no ano passado. Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga), serviço do governo do Estado que coleta dados com base nos registros do Instituto Médico-Legal, em parceria com a consultoria Instituto Falconi e o Centro de Liderança Pública (CLP).

Em meio à polêmica sobre o aumento dos limites de velocidade nas Marginais do Tietê e do Pinheiros, os dados consolidados do Infosiga para 2016 mostram que a redução de mortes na capital aconteceu em ritmo maior do que na comparação do Estado como um todo, como os dados parciais do sistema já vinham apontando ao longo do ano passado. Enquanto a cidade teve a redução de 15%, na soma dos 645 municípios do Estado a queda foi de 5,6% (de 6.066 casos, em 2015, para 5.727 ano passado). O Infosiga traz perfil dos acidentes, como tipo de ocorrência e sexo das vítimas (veja quadro abaixo). Nesse cenário, o fato de as mortes não terem caído entre os mais jovens ganha mais relevância. “Se você tirar os jovens e refizer os cálculos, verá que a queda poderia ser ainda maior”, diz o engenheiro e consultor de mobilidade Horácio Augusto Figueira.

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Hipóteses. Uma das hipóteses para explicar a prevalência de jovens nos índices de mortalidade no trânsito seria a autoconfiança natural da idade. Outra seria a falta de habilidade ao volante. “Nessa faixa, as seguradoras já sabem e cobram mais caro das pessoas nesse perfil. Eles têm um comportamento mais lúdico, sentem a adrenalina, querem transgredir”, diz o mestre em Transportes pela USP Sergio Ejzenberg. “Isso aliado à pouca experiência. São menos ‘malandros’ ao volante, não conhecem situações de risco.”

O professor de Jornalismo Luciano Guimarães relata situação em que o despreparo dos jovens motoristas foi evidente. No fim do ano, ele voltava da USP para casa pela Marginal do Pinheiros quando um rapaz, que queria sair da via, cruzou com seu carro e eles bateram. “Vi o vulto do carro branco chegando e ainda tive o reflexo de desviar”, conta. Mas o gesto não evitou a colisão. “O rapaz tinha 20 anos. Ele saiu do carro tremendo. Sou uma pessoa tranquila, acabei acalmando ele. Perguntei se estava bem, se o colega do carro estava bem, perguntei se tinha seguro”, lembra. “Ele não tinha passado por isso antes”, afirma o professor.

Guimarães, no entanto, diz que o acidente só não foi mais sério porque ambos estavam em velocidade baixa. E relata receio de que, com o aumento dos limites nas Marginais, uma situação futura possa ser pior.

Ações. Diante da constatação de que só a redução dos limites não foi suficiente para evitar a morte dos mais jovens, os especialistas citam outras ações que o poder público deveria adotar. A primeira delas é a educação.

“Esses jovens são aquelas pessoas que acabaram de sair da autoescola. Mas elas têm compulsão. Compulsão por beber, por falar ao celular, por empinar a moto”, afirma o médico Dirceu Rodrigues Alves Junior, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). “A educação é essencial e deveria vir desde a escola, ao longo dos anos, da forma como o Código de Trânsito Brasileiro prevê.”

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Horácio Figueira, que se mostra contra o aumento das velocidades nas Marginais, reconhece que o conjunto de ações adotadas pela Prefeitura para evitar as mortes nas vias expressas está correto. “A sinalização, a presença dos agentes, isso é o que tem de fazer. Mas deveria ser feito na cidade inteira”, afirma. A reportagem questionou a CET sobre eventuais expansões do programa dessas vias, chamado Marginal Segura, para outras áreas da cidade, mas não teve resposta.

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