Jovens e moradores de rua fazem manifestação pró-sopão no centro

Protesto foi marcado após secretário de Kassab dizer que haveria proibição da distribuição da comida a moradores de rua

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Por Cristiane Bomfim
Atualização:

Uma pequena banda formada por jovens dava o tom animado e pacífico ao protesto contra a tentativa da Prefeitura de São Paulo de proibir a distribuição do sopão a moradores de rua.

A manifestação foi organizada pela internet com o nome “Sopão da gente diferenciada”. Às 18h30 de ontem eram 150 pessoas na frente da entrada principal da Prefeitura, no Viaduto do Chá, região central da cidade. Duas horas depois, o coro já tinha 300 vozes, entre elas, a do padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua.

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 Enquanto aguardavam o início da caminhada até a Praça da Sé para a entrega do sopão, os manifestantes alternavam os refrões “Kassab, bobão. Proibiu o sopão” e “Dança, Kassab. Dança até o chão. Aqui é o povo unido contra a higienização”. Também mostravam seus cartazes com frases como “Comida na rua: antes tinha. Agora não tem” e “Ei Kassab, tira a mão do meu sopão” para motoristas que paravam nos semáforos.

A presença de tanta gente surpreendeu o jornalista Luiz Pattoli, de 34 anos, que organizou o evento pelo Facebook, pelo fato de o prefeito Gilberto Kassab (PSD) ter voltado atrás na decisão. “Depois de o Kassab recuar da decisão, pensei em cancelar o evento. Mas já tinha muita gente mobilizada. Acho que, se ninguém se manifestasse, o sopão seria proibido mesmo. Por isso estamos aqui”, disse Pattoli.

Oficialmente, nenhuma das 48 instituições que distribuem sopão de forma voluntária no centro participou do ato. Moradores de rua eram a minoria, mas alguns empunhavam cartazes, como o artesão Renato Sanches, de 54 anos. Ele contou que há dois anos dorme sob as marquises do centro e que seu jantar é o sopão. “Fico muito contente de ver que não somos tão invisíveis assim e que há pessoas que, mesmo não precisando, estão lutando por nossos direitos”, afirmou.

A iniciativa também foi elogiada pelo padre Lancellotti. “É um orgulho ver jovens se unirem por uma causa como esta. O restaurante popular Bom Prato, que é do Estado, oferece almoço. E no jantar os albergues não conseguem atender toda a população de rua. É um problema que precisa ser discutido”, disse.

Já na Praça da Sé, a entrega de cerca de 50 quilos de sopa vegana – sem carne ou qualquer produto derivado de animais – foi precedida por um ato simbólico de preparo da sopa. Três jovens prepararam em um pequeno fogareiro dois macarrões instantâneos. A sopa foi preparada por um grupo formado por alunos e ex-alunos da USP adeptos do veganismo – e distribuída aos moradores de rua e a quem quisesse experimentar. “A sopa dos diferenciados todo mundo pode tomar. Quem tem dente e quem não tem”, disse Anderson Lopes, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua.

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