Jovens ainda são vítimas: viraram ''zumbis''

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Por Redação
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O educador Itamar Moreira, de 38 anos, mudou-se da Bahia ainda criança para o Jardim Kagohara, bairro na zona sul. O ano era 1979. Ele tinha 7 anos. Nessa época a escalada de assassinatos começaria a transformar a região do Jardim Ângela numa das áreas mais violentas de São Paulo.Assim como muitos migrantes que foram morar nas periferias da cidade, o começo foi duro. Dividindo um barraco de madeira com a mãe e mais três irmãos, num terreno invadido, passou fome e conseguiu sobreviver nas fases mais duras à base de restos de feira.Também teve de driblar a violência, que levou muitos amigos a sucumbir durante os anos 1980 e 1990. Nos primeiros anos em São Paulo, conviveu com os justiceiros. Tempos depois, quando já era jovem, vizinho dos integrantes da gangue dos Ninjas e de grupos rivais, cujas rixas levaram a mais de 150 mortes, conseguiu ficar de fora da confusão. "Talvez o fato de eu ter bronquite tenha ajudado. Ficava dentro de casa, longos períodos internado em hospital", diz.Em sua trajetória alternativa, Itamar acabou tornando-se uma das principais lideranças da região a contribuir para a reversão do quadro de desordem e de assassinatos. A paixão pelas aulas de danças, que dava voluntariamente nas escolas públicas, foi o ponto de partida. "Ia nas casas noturnas mais badaladas, no centro. Aprendia os passos novos e ia ensinar na periferia", conta. Passou a organizar festivais de danças, que atraíam jovens de toda a cidade. "Às vezes era preciso negociar com o crime. Apelava para o emocional, lembrando que eles não gostariam que os filhos seguissem o mesmo caminho".Em 2004, ajudou a abrir um telecentro no bairro. O local virou também ponto para inscrição nos programas de renda. Como muitos analfabetos o procuravam, organizou parcerias que permitiram ensinar a ler e escrever quase 3 mil pessoas. Segundo Itamar, depois da queda da violência, o principal desafio nos dias de hoje são as drogas. "A venda e o consumo aumentaram muito na periferia. Não temos mais tantas mortes, mas vemos hoje zumbis, jovens que não conseguem se livrar do vício. O que também é muito ruim. Chego hoje a pensar se todo o esforço valeu a pena", diz.

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