Jogos infantis escondem temas eróticos

Inocentes à primeira vista, games gratuitos da web podem trazer armadilhas para as crianças

PUBLICIDADE

Por Isis Brum e JORNAL DA TARDE
Atualização:

Com títulos como Sala de Aula Safada, jogos infantis encontrados gratuitamente na internet usam conteúdos sexuais e apelativos. Bullying, exposição do corpo e disputa entre gêneros também são temas recorrentes.Especialistas divergem quanto ao impacto desse tipo de game na formação psíquica, ética e moral da criança. Mas concordam que ele estimula a sexualidade precoce e deixa a criança vulnerável a pedófilos, que costumam entrar nesses sites. "O agressor pensa que crianças que frequentam esses sites estão mais dispostas a outras conversas", alerta Rodrigo Nejm, da ONG SaferNet Brasil, destacando que o problema é que os "jogos em si não são considerados crime"."Prazer e ganho associados à violência ou à sexualidade são linguagens muito ruins para a infância", explica a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora dos livros Bullying e Cyberbullying (Editora Moderna) e Comunicação entre Pais e Filhos (Integrare Editora), que tratam desse tema. "Algumas crianças podem internalizar os conteúdos e se sentir estimuladas a reproduzir, na forma de bullying ou violência, esse aprendizado da mulher como objeto, que pode ser desprezado e humilhado."No site Games2Win, hospedado em Mumbai, na Índia, a reportagem encontrou games eróticos. Alguns têm o selo "hot" (quentes), porque são mais "picantes". Em Babá Safada, a mulher que deveria olhar um bebê e um adolescente recebe o namorado na casa onde trabalha. O jovem derruba coisas no chão. Ao fazer a moça cair, além de o jogador ganhar pontos, ainda se depara com a personagem de calcinha ou sutiã. O jogo termina com a babá beijando na boca o jovem morador da casa. Em Biblioteca da Escola, o jogador tem sete dias para humilhar a bibliotecária. A professora de Naughty High School usa roupas curtas, tem olhar sensual e andar provocante. No segundo nível, um balde de água despenca sobre ela. Na sequência, uma casca de banana faz com que um homem - aparentemente o diretor do colégio - escorregue e caia entre as pernas da educadora. Pai de uma menina de 6 anos, o analista de sistemas Christiano Rodrigues, de 33, flagrou a filha em um jogo em que meninos não sabiam, por exemplo, fazer xixi em lugar correto. "Percebi que depois disso ela começou a se interessar por palavras impróprias para a idade dela e a pesquisar. Os resultados eram absurdos." A menina, diz ele, chegou ao site pesquisando "jogos para meninas" em um buscador na internet. "Amigos relataram ter tido o mesmo problema em casa."O combate a esse tipo de problema, diz Nejm, depende mais do diálogo entre pais e filhos do que de tecnologia que bloqueie ou retire página do ar. "Os pais têm de navegar com os filhos. É preciso acompanhar e colocar limites."Se os pais proíbem os filhos de saírem sozinhos na rua porque acreditam que não têm maturidade para lidar com os perigos, também não podem deixar os pequenos "andarem" a sós na internet. É esse o recado dos especialistas. Um dos motivos, afirmam, é evitar que se tornem iscas de pedófilos, que costumam frequentar sites de jogos. Outro é com relação ao impacto - negativo - desse tipo de conteúdo para formação da criança.Risco. Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Infância da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), alerta que esse tipo de site tende a levar a criança a acreditar que é natural tirar a roupa e se expor. "É uma arma para pedófilos."A psicóloga chama a atenção para os valores transmitidos pelos pais em casa. "A criança tem um lado que gosta de tudo o que é errado."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.