Interior de SP registra aumento no nº de moradores de rua

Em Campinas, São José dos Campos, Ribeirão, Sorocaba, Rio Preto e Santos, prefeituras contabilizam, no total, 3 mil pessoas

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Por José Maria Tomazela
Atualização:
Jaíne, o marido e as filhas vivem na rua Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

SOROCABA - As principais cidades do interior de São Paulo registraram aumento no número de moradores de rua nos últimos anos. Em seis cidades - Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Sorocaba, São José do Rio Preto e Santos - as prefeituras contabilizam, no total, três mil pessoas nas ruas, mas a quantidade pode ser maior. Entidades que atuam no setor observaram aumento na demanda por refeições e cobertores este ano. Alguns municípios não têm dados atualizados sobre essa população.

Cidades mais próximas da capital, como Campinas e Sorocaba, receberam moradores de rua que migraram da Grande São Paulo. O aumento maior, porém, de acordo com agentes sociais, deve-se ao movimento interno de pessoas que deixam a casa por alcoolismo e drogas, além de famílias que têm moradia, mas vão para a rua em busca de alimentação.

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É o que acontece com a família do auxiliar de limpeza Sérgio Rodrigues dos Santos, de 35 anos. Ele, a mulher Jaíne do Carmo Lima, de 23, e as filhas Emily, de 7, Vitória, de 5, e Lídia Maria, de 1, passam as noites sob a marquise de uma agência bancária, na Praça Coronel Fernando Prestes, a principal da cidade. “Moramos num cômodo sem janela, sem chuveiro e com porta improvisada, na Vila Barão, mas a gente vem para o centro para não deixar as crianças com fome”, disse Jaíne. Ela conta que a situação se agravou depois que Sérgio perdeu o emprego em um supermercado há oito meses.

A família recebeu as marmitas distribuídas pelo ex-morador de rua Estevão Santos Silva e seu grupo de voluntários. Toda semana eles entregam duzentas refeições naquele ponto. “Vivi essa realidade durante oito anos, saí da rua em 2011 e agora procuro ajudar”, disse. Embora a prefeitura informe que a cidade tem 300 moradores de rua, os grupos de assistência estimam ao menos o dobro. Apenas a Igreja Católica distribui 200 refeições por noite em umúnico ponto, na Rua Padre Luís.

O vigilante desempregado Vanildo Joana, de 48 anos, que veio de Osasco, diz que a maioria se esconde para não ser abordada pelas rondas da polícia e do serviço social. “Quem é usuário de drogas dorme no mato, na beira do rio, ou entra em casas vazias e ninguém vê.”

Na região central, pelo menos trinta imóveis vagos para venda ou aluguel são ocupados à noite por moradores de rua. Na avenida Barão de Tatuí, cinco imóveis comerciais foram invadidos. Alguns proprietários se viram obrigados a contratar vigilantes. Outros, cederam a garagem em troca da preservação do restante do imóvel.

A prefeitura informou dispor de 138 vagas para a população de rua em sete entidades conveniadas, número suficiente para o atendimento, já que “grande parte dessa população opta por permanecer nos espaços públicos”. Também dispõe do Centro Pop, um centro de referência especializado para população em situação de rua, e de um centro de triagem na rodoviária.

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Abordagem. O último censo sobre população de rua em Santos foi feito em 2013 e apontou 591 pessoas nessa condição. O número quase dobrou em relação a 2010, quando eram 342. O próximo levantamento será realizado em 2017, mas a Polícia Militar já constatou aumento no número. Cerca de 80% são usuários de drogas e dormem em calçadas na zona portuária e no entorno do Fórum Cível da Vila Nova.

A prefeitura faz a abordagem e direciona para abrigos os que aceitam atendimento. Os quatro abrigos oferecem 202 vagas. No início de maio, por causa do frio, foi aberto um abrigo de emergência com 266 vagas. Em toda a Baixada Santista, 3,6 mil pessoas estão vivendo em situação de rua, segundo os serviços de assistência social.

Em Campinas, a Polícia Militar observou aumento no número de moradores de rua no centro, especialmente no entorno da Catedral e na Avenida Francisco Glicério. As abordagens mostram que muitos provêm da Grande São Paulo, embora estejam há vários anos na cidade. A Secretaria de Cidadania e Inclusão Social confirmou um aumento nessa população, de 563 pessoas em 2015 para quase 650 este ano. O município tem programas de acolhimento, mas a maioria prefere as ruas e os albergues não chegam à lotação completa. Desde o início de maio, a prefeitura distribuiu 2,5 mil cobertores.

Os números mais recentes indicam cerca de 600 moradores nas ruas de São José do Rio Preto. Em 2013, eram 136 e no final do ano seguinte, já somavam 523, quase quatro vezes mais. O dado inclui pedintes que têm moradia, mas preferem viver em espaços públicos. Somente em janeiro o Centro Pop atendeu 244 pessoas em situação de rua e distribuiu 200 passagens de ônibus para que os chamados “trecheiros” retornassem às cidades de origem.

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A prefeitura de Ribeirão Preto tem 505 moradores de rua cadastrados, mas o número pode ser maior. Eles se concentram no entorno da Unidade Básica de Saúde (UBS) Central, na Praça Santo Antonio, nos Campos Elíseos, e na Praça Schmidt, na Vila Tibério. Em São José dos Campos, 355 pessoas vivem em situação de rua, segundo levantamento da prefeitura. Cerca de 90% são do sexo masculino e 31% estão nas ruas há menos de um ano.

Em cidades onde os moradores de rua passavam despercebidos, agora há esforço para atender a população crescente. Em Piracicaba, o último mapeamento realizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social encontrou 71 moradores de rua. Em Bauru, a Secretaria do Bem Estar Social acompanha e atende 115 moradores de rua por mês. Destes, 103 são usuários de drogas. As casas de passagem têm 100 vagas. O trabalho é de redução de danos, já que a maioria prefere permanecer nas ruas.  “Quem não aceita trabalhar tem de seguir adiante”, diz vereadora

A assistente social e vereadora Maria do Carmo Guilherme (PMDB), de Rio Claro, interior de São Paulo, defende uma atuação mais dura do poder público em relação ao morador de rua. “Temos de dar capacitação para aqueles que querem trabalhar. Aqueles que não querem, que ficam na rua e não aceitam a formação que o município oferece, tem mesmo de colocar num carro e levar para outra cidade”, afirmou. Maria do Carmo disse que já teve de se explicar ao Conselho Regional de Serviço Social (Cress-SP) por declarar essa posição.

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Segundo ela, o número de moradores de rua tem aumentado em todas as cidades, principalmente em consequência da droga e do álcool. “A pessoa não aceita internação, a família não consegue lidar com o problema e essa pessoa acaba indo para a rua.” A vereadora, que integra a Frente Parlamentar dos Moradores de Rua de Rio Claro, disse que o município banca um custo alto para atender o morador de rua. “Quando o problema é de saúde, temos de encaminhar para tratamento. Se não é isso, ou ele aceita se capacitar para o trabalho ou deve seguir adiante.”