SÃO PAULO - A instalação do corredor verde no Minhocão, no centro da capital, revela contradições entre duas propostas distintas de cidade, segundo o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik. “As cidades grandes no século 20, principalmente São Paulo, foram construídas sacrificando seus espaços públicos em nome do ‘rodoviarismo’, fazendo desaparecer a vida que antes existia ali”, diz o professor da Universidade de São Paulo (USP).
Hoje, afirma Wisnik, os projetos para as metrópoles estão no polo oposto à valorização do automóvel individual e ao sacrifício de espaços como parques e praças. “É muito simbólico fazer jardins verticais no tabu (no Minhocão), no lugar que foi o grande trauma da cidade.”
Wisnik foi curador da Bienal de Arquitetura em 2013 - que teve uma exposição chamada High Line em um apartamento com vista para o Minhocão. No local, pôde ser conferida a trajetória da construção do parque aberto em uma via férrea abandonada em Nova York.
A mostra levou o professor a se aproximar do Movimento 90° e a se tornar um apoiador do projeto do corredor verde. Ele até gravou um depoimento para o vídeo do grupo sobre o jardim vertical instalado no Largo Padre Péricles no ano passado. “O resultado desses painéis é como uma invasão verde. As empenas cegas são um resquício que a Lei Cidade Limpa revelou. São elementos mudos, meio tumulares, e é legal que eles se transformem em algo vivo. Esse choque de mundos vem trazer uma nova ideia de espaço público”, diz.