Incêndios na floresta cobrem sol em São Paulo

Céu distópico lembrou Gotham City (de Batman) ou ‘O Senhor dos Anéis’; presidente Jair Bolsonaro culpa ambientalistas

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Por The Economist
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No meio da tarde do dia 19, a maior cidade da América do Sul escureceu. Às 3 da tarde, sob uma nuvem negra e compacta, os edifícios acenderam as luzes e motoristas acionaram lâmpadas de freio no tráfego congestionado. Os paulistanos tiveram medo. 

A explicação mais provável e aceita é que o responsável seja o fogo que consome a distante floresta úmida da Amazônia Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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A mídia social postou fotos da escuridão, justapondo o distópico céu da tarde de São Paulo com lugares apocalípticos ficcionais, como a Gotham City de Batman, a Mordor de O Senhor dos Anéis e o mundo de ponta-cabeça de Stranger Things. Meteorologistas tentavam explicar o que ocorria. Mas a explicação mais provável e aceita é que o responsável seja o fogo que consome a distante floresta úmida da Amazônia

Climatempo, um popular site meteorológico, informou que uma frente fria trouxe nuvens baixas que se juntaram à fumaça, formando o denso nevoeiro negro. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), incêndios florestais estão mais frequentes que nunca - 84% mais que no mesmo período de 2018. Mais da metade dos incêndios é na Amazônia. 

Na estação seca da Amazônia, é comum fazendeiros fazerem queimadas ilegais para “limpar” a terra. O presidente populista, Jair Bolsonaro, encorajou-os ao enfraquecer as agências responsáveis pela regulamentação ambiental. Ele entende que proteger florestas detém o desenvolvimento econômico. E acusa ridiculamente ONGs de atearem elas próprias o fogo, para deixar o governo mal e como retaliação pelo corte de financiamentos.

Bolsonaro diz travar uma “guerra de informações” sobre a Amazônia e pede que governos estrangeiros e ONGs parem de se intrometer. Após o Inpe divulgar dados mostrando crescente desmate, em julho, o presidente afirmou que os dados eram falsos e demitiu o chefe da agência, Ricardo Galvão, um físico respeitado. 

Tal beligerância deixa ultrajados cientistas e ambientalistas. “Demitir o diretor foi um ato de vingança contra os que expõem a verdade”, disse Marcio Astrini, do Greenpeace, um grupo de pressão. A destruição da floresta está fora das vistas, da mente, de muitos brasileiros, a maioria em grandes cidades próximas ao litoral. A escuridão, porém, trouxe o desmate a suas portas. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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