Incêndio na Amazônia invade a pauta comercial do governo de SP no Japão

Tema foi abordado pela imprensa japonesa durante a visita de Doria. 'Brasil está fazendo todo o possível para evitar os incêndios'

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Por Fatima Kamata
Atualização:

TÓQUIO - A Amazônia acabou virando tema de conversa no primeiro dia da missão comercial do governo de São Paulo no Japão. A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, demonstrou interesse pelo assunto, assim como a imprensa japonesa que noticiou a vinda do governador João Doria (PSDB) ao país e a situação na floresta amazônica.

“Eu tenho defendido que o Brasil está fazendo todo o possível para evitar os incêndios. Mas eu tenho,  por obrigação, defender meu Estado. São Paulo não tem desmatamento, queimada, nem invasão em sua área de reserva e nos parques florestais. Aliás, a cobertura vegetal cresceu nesses dois últimos anos”, disse o governador.

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João Doria apresentou para a governadora de Tóquio, modelo de cooperação bilateral de manutenção do Centro Paraolímpico Brasileiro e a criação da Casa de São Paulo na capital japonesa, seguindo os moldes da Japan House instalada dois anos atrás na avenida Paulista. “Queremos montar um centro cultural e de convivência que preserve a história e a memória dos mais de 100 anos de imigração japonesa”, declarou o governador.

Em Tóquio, existe uma entidade que resguarda um pouco desse elo humano entre os dois países. Criada em 1932, a Associação Central Nipo-Brasileira reúne japoneses que tiveram alguma experiência de negócio com o Brasil. O secretário-geral Jiro Miyata, por exemplo, foi executivo da Sumitomo Corporation na América do Sul durante 14 anos e morou em São Paulo entre 2004 e 2008.

A agenda de reuniões da comitiva paulista até sexta-feira visa ampliar os negócios já existentes no Estado de São Paulo Foto: João Doria/Twitter

“Adoramos o Brasil, por isso dedicamos nosso tempo para falar desde política, economia brasileira, até cultura.” Ao todo a entidade tem 130 membros corporativos e 400 individuais que participam de seminários, editam boletins e promovem encontros para falar sobre um único tema: Brasil.

Miyata retornou à matriz da Sumitomo em 2008, no ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. “A conduta dos quase 2 milhões de nipo-descendentes que vivem lá levou à criação da expressão “japonês garantido né”, e isso nos ajuda muito a fazer negócios com os brasileiros”, diz.

Desde 1973, o governo de São Paulo já assinou 21 acordos de cooperação com o Japão em setores variados. Agora, os paulistas pretendem priorizar projetos com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) nas áreas de agronegócio, meio ambiente, segurança pública e defesa civil. “O Japão tem muita experiência em técnicas de salvamento, face a terremotos e situações que enfrenta relacionadas ao clima, e receberá representantes da Defesa Cilvil e do Corpo de Bombeiros paulista. Em segurança pública, representantes da Polícia Militar terão acesso a tecnologia e equipamentos japoneses para aperfeiçoar o trabalho que já é feito em São Paulo”, disse Doria.

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A cooperação econômica do Japão com o Brasil através da Jica completou 60 anos. Atualmente, por meio da Sabesp, a agência mantém projetos nas áreas de fornecimento de água e saneamento básico em São Paulo. “Vamos aumentar essa cooperação para despoluição dos rios (Tietê e Pinheiros) com novas tecnologias”, declarou o vice-presidente da Jica, Kazuhiko Koshikawa.

Oportunidade

No encontro com o presidente da Japan Bank for International Cooperation (JBIC), Nobumitsu Hayashi, a delegação paulista apresentou o plano de desestatização do governo de São Paulo. Atualmente, o Estado possui 21 grandes projetos de concessão e PPPs (parceria público-privadas) em andamento com potencial de investimento da ordem de R$ 40 bilhões.

A agenda de reuniões da comitiva paulista até sexta-feira visa ampliar os negócios já existentes no Estado de São Paulo. Porém, os japoneses têm sido comedidos em seu entusiasmo devido a experiências passadas.

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Nos 15 anos em que esteve na Sojitz do Brasil, quatro deles como presidente da filial brasileira, o executivo Satoshi Awaya diz viveu três períodos distintos. No final dos anos 90 e início de 2000, ele ficou no Rio de Janeiro e diz que acompanhou a boa fase do setor petroquímico. Entre 2008 e 2012, o destaque foi a agroindústria. “Mas a última vez, entre 2015 e 2018, foi o período mais amargo que passei no Brasil, por causa do cenário nacional.”

A Sojitz é uma trading focada em agricultura, máquinas e projetos de infraestrutura. Ela foi formada a partir da união da Nichimen e da Nissho Iwai, companhias centenárias no Japão, e iniciou as atividades no Brasil com importação de minério de ferro, em 1955. Os próximos negócios serão nos setores automobilístico, de energia, agricultura, transporte, logística e industrial.

Nesta quarta-feira, a comitiva do Estado de São Paulo terá café da manhã na Embaixada do Brasil, em Tóquio, com investidores japoneses. Em seguida, deverá se reunir com a diretoria da Mitsui e da NEC. O último compromisso do dia será com a diretoria da Toyota, que no dia seguinte fará anúncio oficial de um novo modelo de carro para ser produzido em sua fábrica no Brasil.

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