PUBLICIDADE

Igreja defende alimento granulado para pobres anunciado por Doria

Cardel d. Odilo Scherer chegou a pedir em 2013 a benção do papa Francisco ao projeto que desenvolve a 'farinata' para ajudar no combate à fome

Por Fabio Leite
Atualização:
Abertura da exposiçãoDoutores e Doutoras da Igreja: a beleza do testemunho da vida e da palavra, no Museu de Arte Sacra Foto: Sonia Balady

SÃO PAULO - Apoiadora da lei que instituiu a Política Municipal de Erradicação da Fome em São Paulo, a Igreja Católica defendeu nesta segunda-feira, 16, a distribuição de alimento granulado como uma espécie de suplemento para a população carente da capital paulista e lamentou as críticas que foram feitas ao projeto lançado na semana passada pela gestão João Doria (PSDB).

PUBLICIDADE

"Pela repercussão que estou ouvindo pela mídia fico até assustado com a falta de compreensão ou até distorção das informações que se tem dado", disse o arcebispo de São Paulo, cardeal d. Odilo Scherer. "Acho que seria uma pena uma coisa que nasce para ser boa, por equívocos ou manipulação política, seja de qual lado for, viesse a ser amputada ou boicatada. Os prejudicados seriam os mais pobres", completou.

Em outubro de 2013, d. Odilo chegou a enviar uma carta ao papa Francisco pedindo bênção do pontífice ao projeto feito pela Plataforma Sinergia, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que desenvolveu uma tecnologia que prolonga a vida útil dos alimentos transformando-os em pó. O produto é chamado de "farinata" e é feito com alimentos que seriam descartados por supermercados e restaurantes para ser doado a pessoas com desnutrição ou vítimas de catástrofe.   

No documento, o cardeal explica que a Arquidiocede de São Paulo foi um dos apoiadores ao lado da Sinergia na elaboração do projeto de lei que a cria a Política Nacional de Erradicação da Fome em São Paulo e Promove a Função Social dos Alimentos. A proposta foi aprovada este ano na Câmara dos Deputados e agora tramita no Senado. Uma versão municipal foi aprovada pelos vereadores da capital e sancionada por Doria na semana passada. "Esse não é um projeto do governo Doria, ele vem de muito antes", disse d. Odilo.

No evento de sanção, Doria anunciou o programa Alimento para Todos, baseado na distribuição de alimentos que seriam descartados para população pobre e exibiu uma versão granulada da farinata em forma de biscoito. Nas redes sociais, o produto foi chamado de “ração”. Em nota, o Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) se posicionou contra o suplemento dizendo que o produto “contraria os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada” e está “em total desrespeito aos avanços obtidos nas últimas décadas no campo da segurança alimentar”.

Para d. Odilo, “a farinata não é a pílula da fome”, mas uma “possibilidade alimentar” que pode ajudar no combate à desnutrição, ao desperdício de comida e a reduzir os danos ambientais causados pelo descarte de alimentos, três bandeiras históricas da Igreja Católica. "A farinata é uma possiblidade alimentar, não o todo alimentar. Os pobres, evidentemente, têm de que continaur comendo carnes, verduras, frutas e outros alimentos. O que se faz com a farinata não pode ser apresentada como solução para a fome de maneira cabal", disse o cardel.

Fundadora da Plataforma Sinergia, Rosana Perrotti explicou que a farinata usa uma tecnologia avançada que prolonga a vida útil dos alimentos transformando-os em pó para que eles possam ser consumidos com segurança. “A prioridade é o combate à fome e à desnutrição em situações de catástrofe. Aqui em São Paulo é possível que o próprio programa aumente as doações de alimentos in natura e nós nem precisemos transformá-los”, disse. 

Publicidade

Rosana afirma que a farinata é uma espécie de farinha que serve como base para a produção de outros produtos. "Cada alimento transformado, como a batata, o tomate, vai ter seus próprios nutrientes. E existem inúmeras receitas, como pão, massas, sheik e a própria farinha, que pode ser misturada com os alimentos. Na verdade, a proposta da farinata não é entrar onde os alimentos têm alcance, somente onde a população está carente de nutrientes. Daí o trabalho da Prefeitura de fazer todo mapeamento", disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.