Idade Média vira hobby na SP do século 21

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Por Felipe Oda
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Apesar de encerrada há seis séculos e do período não fazer parte da história brasileira, a Idade Média sobrevive como hobby para alguns paulistanos. Praticantes do "medieval reenactment" - algo como encenação ou recriação medieval, em português -, eles fabricam e recriam armaduras, armas, roupas, pratos e até mesmo músicas medievais em pleno século 21. Unidos pelo gosto do período histórico, os medievais de São Paulo organizam-se em pequenos grupos ou "guildas", como preferem chamar, para desenvolver diferentes tipos de atividades e pesquisas.Como a Guilda dos Armoreiros, localizada em uma oficina próxima do MorumbiShopping, na zona sul. Lá, três ferreiros trabalham na confecção de armaduras, espadas e escudos. "Mas chegamos até a fabricar ferramentas para conseguir produzir algum artefato", explica Sérgio Uberti, de 30 anos, designer digital que prefere ser chamado de mestre artífice.A preocupação com a fidelidade das peças não se resume aos materiais e técnicas de produção empregados na fabricação. "Fazemos um densa pesquisa em livros, documentos e catálogos de museus internacionais", afirma o estudante de História e ferreiro Tarcísio Lakatos Polito, de 26 anos. Para produzir uma única armadura, eles trabalham "meses ou até alguns anos", segundo Uberti. Atualmente, os três integrantes da Guilda dos Armoreiros conseguem viver da atividade. O último grande trabalho do grupo foi a fabricação de armaduras e espadas para um comercial de cerveja. Outra que conseguiu transformar o hobby medieval em profissão é a estilista e figurinista Luciana Dizioli, de 33 anos. Proprietária do Atelier de Prosérpina, ela é especialistas em roupas de época. "Buscava satisfação. Montei o ateliê por achar a história o máximo. Comecei atendendo o pessoal do cosplay (pessoas que se vestem como personagens de histórias em quadrinhos), mas percebi que podia fazer modelos medievais", conta Luciana. O preço dos vestidos pode alcançar até R$ 10 mil. Comida e música. Nem só de cavaleiros e princesas é formada a Idade Média. A gastronomia é a especialidade do franco-brasileiro Olivier Georges Decroix, de 58 anos. Chef de cozinha do Consulado-Geral da França, ele estuda a culinária da Baixa Idade Média (entre 1.400 e 1.450)."Na época da faculdade eu já gostava de história, mas comecei a me aprofundar quando passei a cozinhar", afirma. Entre as principais receitas medievais estão faisões, javalis, patos, gansos e pães. "Servidos nos encontros medievalistas", completa Decroix. Não é apenas nos encontros entre medievalistas que o chef prepara suas receitas. "Também costumo prepará-las em ocasiões especiais do consulado", diz o franco-brasileiro. Já Raul Brabo, de 44 anos, do grupo Les Folies, revive a Idade Média pela música. Tocando gaita de fole, tambores, flautas e rabeca em eventos medievalistas, a banda "busca a sonoridade e a técnica medieval", diz Brabo."Mas não abrimos mão de utilizar certos instrumentos por não existirem no período", explica o músico. Mil anos. O termo Idade Média refere-se a uma divisão do tempo que engloba mil anos de história da Europa. Começa no século 5.º e vai até o século 15. Muitos conceitos e invenções da época medieval perduram até hoje, como a universidade, o relógio e a concepção de cidade e Estado.PARA ENTENDERReencenação é comum em outros paísesComum no continente europeu e nos Estados Unidos, o reenactment, ou recriação/ reencenação histórica, em português, começa a aparecer no País. A maioria dos grupos nacionais reproduz fatos históricos mais recentes, como a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. No restante do mundo, as reencenações vão da guerra civil norte-americana a lutas de gladiadores romanos. São comuns também publicações especializadas no assunto. Ainda não existem associações ou entidades brasileiras que integrem os praticantes de recriação histórica. Em São Paulo, os interessados em praticar ou conhecer o medievalismo podem procurar a Guilda dos Armoreiros pelo e-mail: contato@guildadosarmoreiros.com.br.

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