Hopi Hari reabre após quase sete meses com exigência de máscara e tentativa de distanciamento social

Com medidas de seguranças reforçadas, parque recebeu cerca de 2 mil pessoas no primeiro dia. ‘Vamos testar na prática’, afirma presidente

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Por João Ker
Atualização:
Amigos que trabalham juntos no aeroporto de Viracopos comemoram a chance de conhecerem o Hopi Hari no primeiro dia de reabertura do parque Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Uma enorme máscara azul cobria o logotipo do Hopi Hari logo na entrada, quando ele abriu suas portas neste sábado, 26, pela primeira vez depois de quase sete meses. Esse foi o primeiro sinal de pandemia que os quase 2 mil visitantes encontraram ao entrar no parque. Na roleta de acesso, funcionários com face shields - as máscaras de acrílico - mediam a temperatura do público e, no interior, faxineiras desinfetavam incansavelmente todos os brinquedos, bancos e superfícies que encontravam pela frente, de acordo com as regras impostas pelo novo coronavírus.

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“Criamos o nosso protocolo em cima das recomendações do setor, porque o Hopi Hari é quase único no Brasil e tem suas especificidades por ser outdoor”, explica Alexandre Rodrigues, o presidente do país fictício que dá nome a um dos maiores parques da América Latina. Segundo ele, uma equipe interna trabalha desde abril, em parceria com a Associação das Empresas de Parques de Diversão do Brasil (Adibra), no desenvolvimento das novas normas de acesso.

Algumas das atrações, como os cinemas e corredores de terror, continuam desativadas por funcionarem em espaços fechados. Já as liberadas têm marcações no chão que indicam onde cada pessoa deve esperar sua vez na fila. Os 600 funcionários que trabalham no parque receberam um treinamento intensivo sobre como lidar com o público nesse novo contexto.

Alexandre Rodrigues, presidente do Hopi Hari, comemora reabertura do parque após quase sete meses de portas fechadas Foto: Tiago Queiroz / Estadão

“Não posso permitir que as pessoas andem sem máscaras por aqui, mas ao mesmo tempo temos que ter educação para cobrar isso sem constrangimento”, diz Rodrigues.

Esta foi a terceira tentativa de abertura do Hopi Hari, após um primeiro ensaio, em 9 de julho, não ter ido adiante porque o município de Vinhedo retrocedeu no Plano São Paulo e retornou à fase vermelha, a mais restritiva de todas. Uma segunda tentativa de abertura não prosseguiu depois que o governador João Doria (PSDB)adiou em uma semana a permissão para a retomada do setor.

Agora, o Hopi Hari funciona com apenas 40% da sua capacidade de lotação, o que significa 11 mil pessoas por dia. Abrindo apenas entre sexta e domingo, a expectativa do presidente é de receber ao menos 100 mil visitantes até o fim do ano.

Funcionários do Hopi Hari desinfetam todos os brinquedos do parque entre um ciclo e outro Foto: Tiago Queiroz / Estadão

"As pessoas acham que vai ter superlotação, mas temos o controle das vendas e estamos preparados para atender até 15 mil pessoas por dia, enquanto todos os brinquedos funcionam com metade da capacidade”, explica. Cerca de 90 mil profissionais da saúde se cadastraram no site do Hopi Hari, como parte de uma ação que garante entrada gratuita para médicos, enfermeiros, faxineiros, porteiros e “qualquer um na linha de frente do combate à covid”, conta Rodrigues.

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Ainda assim, ele não descarta que outras medidas de proteção sejam implementadas nos próximos meses. “Vamos testar na prática.”

Alívio para a quarentena

Nas curtas filas de acesso aos brinquedos, o distanciamento social de um metro e meio não é exatamente respeitado à risca, mas a máscara de proteção facial só saía do rosto na praça de alimentação, onde adesivos nos bancos indicavam quais estavam liberados ou não para uso.“Tem que ‘pular’ uma mesa para sentar”, alertava a faxineira Josefa de Souza. Entre um grupo e outro, todos os brinquedos são desinfetados com álcool em gel antes de começarem o próximo ciclo. Apesar de muitas, as precauções não incomodavam quem visitou o parque na manhã quente de sábado.

Josefa de Souza é uma das 600 pessoas trabalhando para que o Hopi Hari atenda às exigências sanitárias na reabertura em meio à pandemia Foto: Tiago Queiroz / Estadão

As engenheiras Thaís Mendes, de 33 anos, e Carla Massari, de 37, chegaram às 10 horas para levar os filhos Maria Julia, de 5 anos, e Gabriel, de 3, ao parque, em um raro momento de diversão ao ar livre para os quatro, algo que não acontecia desde o início da pandemia. “Ficamos completamente em casa esse tempo todo, só à base de televisão e doce”, diz Thaís. 

A amiga, que já foi ao parque outras três vezes, reclamou ainda do quanto a rotina foi estressante para as crianças e não negou que também estava animada com o passeio. “Vamos em todos os brinquedos que eles puderem ir”, comemora.

Thaís Mendes e Carla Massari aproveitaram a reabertura do Hopi Haripara o primeiro passeio com os filhos Maria Julia e Gabriel desde que a pandemia começou Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“Tem sido meio complicado”, admite Rafael Rocha, de 39 anos. Ele saiu de Mangaratiba, no Rio de Janeiro, na noite de sexta-feira com os dois filhos e o sobrinho, Beatriz, de 13 anos, José Pedro, de 7, e Miguel, de 9. “Eles só estavam saindo de casa para dar uma volta na rua à noite ou ir para a casa da avó, só com TV e internet. Não é a mesma coisa.”

Rafael foi infectado pela covid-19 há cerca de um mês e passou três semanas seguidas em isolamento. “Se eu comecei a me sentir mal ficando em casa, imagina elas”, afirma. Na viagem, eles ainda pretendem visitar o zoológico antes de voltarem ao Rio. “Melhorou um pouco e diminuíram os casos, mas seguro não está, porque o vírus continua aí. Estamos andando só de máscara e passando álcool em gel.”

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Rafael Rocha saiu do Rio de Janeiro na sexta à noite com os filhos, Beatriz e JoséPedro, e o sobrinho, Miguel, para aproveitar a reabertura do Hopi Hari Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Por toda a extensão do parque, os próprios visitantes cuidavam da proteção e não tiravam a máscara nem quando a aventura envolvia água. No máximo, ela ficava pendurada no queixo e voltava para o rosto quando acabava o ciclo. A cada cinco minutos, os muitos alto-falantes reforçavam a obrigação de usar a proteção e passar álcool em gel ao sair de um brinquedo. 

Cristiane Baccarin, de 41 anos, que tinha acabado de sair da queda d’água do Splash, decidiu ir ao parque pela segunda vez, agora com o marido Antônio, de 40, e com a filha Júlia, de 13, quando viu a notícia da reabertura nas redes sociais. Apesar de dizer que o isolamento social tem sido tranquilo, a adolescente foi rápida em discordar: “Tá tranquilo não”. Longe da escola desde março, ela tem feito as aulas online e visto os amigos apenas por videochamadas. 

A adolescente Julia Baccarin foi ao Hopi Hari com os pais, Cristiane e Antonio, e aproveitou a visita para aliviar o isolamento social da quarentena Foto: Tiago Queiroz / Estadão
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Assim, com muito contato pela internet e nenhum encontro presencial, que as amigas Tamires Izaccarelli, de 26 anos, e Alexia Ravesh, de 22, sobreviveram aos mais de seis meses em que o Hopi Hari ficou de portas fechadas. Autodeclaradas fãs do parque, elas mantinham uma rotina pré-pandemia de visitá-lo juntas quase todo mês, desde 2012. 

“Foi dolorido, sentimos saudades das atrações, dos brinquedos, dos shows”, conta Alexia. A última vez que ela e a amiga estiveram juntas ali foi no final de fevereiro, quando assistiram à apresentação de Simone e Simaria. Agora, mesmo que tenham achado o novo clima “bem diferente e estranho”, estão felizes de voltarem. 

As amigas Tamires Izaccarelli e Alexia Ravesh são fãs autodeclaradas do Hopi Hari e vão pelo menos uma vez ao mês parque Foto: Tiago Queiroz / Estadão

“Diferente e estranho” pode não ter sido a experiência para todas as pessoas que foram ao primeiro dia de reabertura do Hopi Hari. Um grupo de dez amigos que trabalha na viação Azul, no aeroporto de Viracopos, visitou o parque pela primeira vez neste sábado, após várias tentativas frustradas. “Planejávamos, mas nunca dava certo”, conta Kananda Costa, de 23 anos, que tem trabalhado com os colegas durante a pandemia e comemora a chance de se encontrarem em um contexto mais leve. “Depois de tanto tempo, é reconfortante. É renovador.” 

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