
04 de julho de 2010 | 00h00
Victor Dubugras e o palimpsesto
Uma lembrança que sempre me vem à cabeça quando penso na imensidão de São Paulo é a definição sobre a cidade que ouvi do professor Benedito Lima de Toledo: palimpsesto. A palavrinha define o que se fazia antigamente com os papiros: raspava-se a escrita anterior para que sobre o mesmo "papel" se voltasse a escrever - com resultado pior. É o que ocorre aqui: um incessante redesenho de mapas, arquitetura, modos de vida.
Outro dia, guiado por Toledo, fui ler sobre Victor Dubugras. Entre outras obras, ele criou a Ladeira da Memória, monumento estudado pelo professor em livro que bem traduz palimpsesto: São Paulo: Três cidades em um século.
Dubugras é figura importante no cenário paulistano, conhecida no meio acadêmico, mas praticamente ignorada pela cidade. Fora o Largo da Memória, pouco dele se manteve. Amantes da obra do arquiteto encontram cada vez menos referências dele na paisagem paulistana.
A professora Sylvia Ficher, da UnB, que escreveu sobre o francês em livro de um outro cobra no assunto, Nestor Goulart Reis, diz: "No art nouveau, Dubugras equipara-se, além de Gaudí, a outros grandes como Horta, Guimard e Mackintosh, conforme inquestionavelmente demonstram algumas de suas criações mais inspiradas e infelizmente não construídas, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro (1904) ou a Prefeitura de Niterói (1908), além de uma longa série de residências em São Paulo."
TRÊS PERGUNTAS
''Há grande descaso com o patrimônio''
Qual a relevância da Dubugras?
Sylvia Ficher - Não há muito a comentar. Quase tudo foi demolido... Onde hoje está o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, havia uma das mais belas realizações dele.
Há Dubugras preservados?
SF - Tanto quanto eu saiba, há apenas os pousos do Caminho do Mar, a estação de Mairinque e umas duas ou três casas em São Paulo. Em Salvador, a Escola de Medicina (no Pelourinho), que foi restaurada há pouco.
São Paulo se preocupa com seu patrimônio histórico?
SF - Infelizmente, há um grande descaso com o patrimônio urbano. Os espaços mais importantes da cidade são enfeados constantemente, sem cuidados. É o que aconteceu com a Praça da Sé, quando da construção do metrô. E com o Vale do Anhangabaú, com a destruição do que havia sobrado do projeto de Bouvard (1910) e a desfiguração do Viaduto do Chá. Se nem os cartões-postais da cidade são respeitados, imagine o resto...
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