Haitiano está ‘preso’ há três dias no aeroporto de Viracopos

Estrangeiro diz não poder embarcar por não ter carteira internacional de vacinação nem ter tomado vacina contra febre amarela

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Por Lucas Sampaio
Atualização:

Atualizada às 15 horas

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CAMPINAS - O haitiano Luckner Filosier, de 34 anos, está há três dias "preso" no aeroporto internacional de Viracopos, sem poder deixar do Brasil e voltar para casa. Sem ter avisado sua família, sem dinheiro e com apenas uma pequena mala de mão, uma bolsa e uma sacola, ele vagueia pelos terminais do aeroporto empurrando um carrinho com suas bagagens desde terça-feira, 27.

Sensibilizados com a situação do haitiano, funcionários terceirizados do aeroporto têm feito "vaquinhas" para que ele consiga ao menos almoçar - o dinheiro dá só para uma refeição por dia - e disponibilizado um banheiro para que ele possa tomar banho diariamente.

Sem dinheiro, haitiano conta com a ajuda dos funcionários do aeroporto para comer e tomar banho Foto: Paulo Giandalia/Estadão

"Estou com fome porque não tenho mais dinheiro para comer. Comprei a passagem e não sobrou nada", afirma Luckner, que em três dias já conhece cada detalhe dos dois terminais de Viracopos em operação -o novo, que segue em obras mas já recebe os voos internacionais do aeroporto, e o antigo, que ainda concentra os voos nacionais. "Eu não durmo. Fico andando para lá e para cá, subindo e descendo, indo de ônibus de um terminal para o outro."

Luckner diz que chegou a Viracopos às 14h37 de terça, vindo de Chapecó (SC), e partiria às 2h45 de quarta- em um voo da Copa Airlines, para o Panamá -de lá, viajaria para o Haiti para rever a mulher Fani, a filha Luni e os pais após dois anos e meio.

Mas ele afirma ter sido proibido de embarcar por não ter uma carteira internacional de vacinação nem ter tomado vacina contra febre amarela. Sua passagem aérea foi remarcada para 11 de fevereiro, e agora ele corre contra o tempo para resolver o problema enquanto perambula pelo aeroporto.

"Só quero voltar para o meu país", diz o rapaz de rosto jovem e cavanhaque que fala e entende português. Bem vestido e com uma camiseta azul jeans por cima de uma camiseta preta, calça jeans e tênis e bonés pretos, nem parece que está há três dias "morando" em Viracopos.

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Vacina. Instruído por funcionárias do aeroporto, Luckner foi até o posto de saúde do São José, na periferia de Campinas, e tomou a vacina na quarta. Mas ele diz que seu cartão de vacinação só ficará pronto na segunda, e a Anvisa recomenda aos viajantes que tomem a vacina no mínimo dez dias antes da sua viagem.

Por isso, a perspectiva é que até 11 de fevereiro o haitiano continue dependendo da ajuda alheia. "Minha mulher está me esperando, ela sabe que eu estou voltando, mas não que estou aqui", diz o rapaz, que veio para o Brasil para trabalhar e afirma ter se decepcionado.

Seu primeiro destino foi Manaus, onde tinha amigos - "lá se paga muito pouco", diz -, mas logo ele resolveu tentar a sorte no Sul, onde conseguiu um emprego como entregador de supermercado que só rendeu o suficiente para comprar a passagem de volta, por R$ 3,1 mil. "Aqui no Brasil a coisa está muito difícil."

Sumiço. Procurada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou que a Copa Airlines agiu corretamente porque tanto o Haiti quanto o Paraná exigem a vacina de febre amarela e o certificado internacional de vacinação para viajantes entrarem no país. "Se a companhia transportar passageiro sem certificado, ela é multada."

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Segundo o posto da Anvisa em Viracopos, o certificado de Luckner ficará pronto nesta sexta, 30, mas a vacina tem que ser tomada 10 dias antes da viagem (o que o impede de embarcar antes de sábado, 7 de fevereiro).

A Aeroportos Brasil Viracopos, concessionária que administra o aeroporto, informou que teve ciência do caso ontem e entrou em contato com a Prefeitura de Campinas para conseguir um albergue para Luckner até a regularização da sua situação. A concessionária ressaltou que a vacina é exigida pela legislação e que o passageiro é livre para sair e transitar pelo aeroporto. 

A prefeitura informou que uma equipe da assistência social o abordou no terminal e lhe ofereceu uma vaga no Samim (Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Medicante), um albergue municipal, mas Luckner recusou a ajuda dizendo já ter um lugar para ficar - sem querer dizer onde.

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A Copa Airlines não foi encontrada para comentar o caso.

Na manhã desta sexta, 30, Luckner não foi visto no aeroporto.

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