27 de julho de 2011 | 00h00
O Hospital Umberto Primo, ícone arquitetônico da capital abandonado há 18 anos, será transformado em um complexo com hotel de luxo, centro cultural, dois teatros, cinemas, lojas e restaurantes. Ontem, a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), dona da área desde 1996, assinou a venda do terreno à holding de investimento WWI e ao grupo francês Allard, após mais de um ano de negociação.
A compra dos 27 mil metros quadrados de área na Bela Vista, região central da capital, foi fechada por R$ 117 milhões, já pagos à Previ. Os novos donos do imóvel, tombado em 1986 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), vão agora dar entrada com o projeto nos governos municipal e estadual para viabilizar a obra de revitalização, que deve custar pelo menos R$ 200 milhões.
O Estado apurou que o grupo está em negociações com o Banco do Brasil para que a instituição patrocine o centro cultural do complexo. O grande chamariz do empreendimento, no entanto, será o hotel de luxo, com projeto do designer pop Philippe Starck e do grupo francês Allard, dono de três propriedades históricas em Paris transformadas em hotéis. Starck, que já veio a São Paulo para estudar o local, voltará à cidade e dará ideias que serão depois adaptadas por um arquiteto brasileiro. O hotel deverá ficar na área da maternidade do Umberto Primo, que foi aberta em 1943 e chegou a ser considerada uma das melhores da América do Sul.
Por meio de uma nota oficial, a Previ afirmou que a venda foi resultado da elaboração de um plano de negócios que levou em consideração a "complexidade" do antigo hospital, em razão de "questões tais como o tombamento e sua importância histórica para a população; exigências legais e ambientais para a utilização do imóvel; bem como o compromisso do comprador em preservar as características do imóvel". O presidente do grupo de investimento WWI não foi encontrado pela reportagem para comentar o negócio.
Abandono. Inaugurado em 1904 na região da Avenida Paulista, na Bela Vista, o Umberto Primo foi totalmente financiado pela colônia italiana de São Paulo. Um dos que mais contribuíram foi o conde Francisco Matarazzo, que também ergueu o império Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo. Com o abandono nos últimos anos, o conjunto de prédios do hospital e da maternidade está com forros caindo, infiltrações e fiação exposta.
Desde 1999 a Previ tentava vender o hospital, mas teve dificuldades por causa de restrições impostas pelo patrimônio público. Há cerca de um ano, a Previ negociou com a mesma WWI e com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) a venda do imóvel. A informação causou uma saia-justa com a Fundação São Paulo, órgão ligado à Igreja Católica e mantenedor da instituição, que não sabia do caso. A PUC saiu do negócio, mas a WWI levou o projeto adiante, selado agora.
Alguns detalhes do novo complexo, no entanto, ainda poderão mudar de acordo com as diretrizes ditadas pela Prefeitura e pelos órgãos de patrimônio.
CRONOLOGIA
1904
O Hospital Umberto Primo é inaugurado pela Societá de Beneficenza em San Paolo per l"Ospedale Umberto Iº.
1986
O conjunto arquitetônico é tombado pelo patrimônio histórico do Estado.
1993
O hospital é interditado pela Vigilância Sanitária. Três anos depois, a Previ compra o imóvel, com projeto de reforma do hospital, o que não leva adiante.
1999
A Previ não consegue anular o tombamento e a área é praticamente abandonada.
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