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Greve de motoristas se espalha por mais 16 cidades; em SP, não há acordo

Nesta quinta, foi a vez de ônibus intermunicipais do ABC e da Grande São Paulo pararem. Problemas pontuais voltaram a acontecer e normalização total do sistema é incerta. Juíza culpa trabalhadores, empresas e sindicatos, mas decisão fica para 2ª

Por Fabio Leite e Caio do Valle
Atualização:

SÃO PAULO - Os motoristas e cobradores de ônibus que haviam paralisado o serviço em São Paulo decidiram não retomar a greve até que a decisão final da Justiça sobre o movimento seja anunciada, algo que só deve ocorrer na segunda-feira. No entanto, a própria pulverização do movimento, sem líderes claros, mostra que não há como descartar paralisações pontuais. Nesta quinta-feira, 22, a greve atingiu os veículos intermunicipais e se espalhou por 16 cidades do ABC e da região oeste da Grande São Paulo.

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Segundo a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), as quatro viações que registraram paralisações nesta quinta-feira operam linhas em Barueri, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu-Guaçu, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Itapevi, Jandira, Juquitiba, Osasco, Pirapora, Santana de Parnaíba, São Bernardo do Campo, São Lourenço da Serra, São Paulo e Taboão da Serra.

Capital. Nesta quinta, voltaram a ser registrados problemas na capital paulista, apesar da perspectiva de que os grevistas esperariam uma resposta judicial ou uma intervenção do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Depois de passar dois dias bloqueado por coletivos estacionados, o Terminal da Lapa, na zona oeste, voltou a funcionar durante todo a quinta-feira - a exemplo dos outros 28 terminais. No entanto, ônibus de 12 linhas da Santa Brígida que operam no local não circularam.

Segundo Anderson Reis, que trabalha na Santa Brígida e representa parte dos dissidentes, não havia paralisação programada. Mas o movimento se mostrou pulverizado, com motoristas e cobradores discordando dos rumos sugeridos até por representantes.

Tanto trabalhadores quanto empresas foram criticados pela paralisação na tarde desta quinta, durante audiência preliminar no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2.ª Região. A desembargadora Rilma Aparecida Hemetério informou que o movimento grevista não cumpriu a lei federal 7.783/89 - que define greves em serviços essenciais -, como o aviso às empresas com antecedência mínima. Além disso, não houve assembleia para decretar o estado de greve.

De acordo com ela, a paralisação desta semana constituiu um "mal irreparável" que afetou "toda uma coletividade". Em sua avaliação, todos falharam em não encontrar soluções para conter os danos e os prejuízos à população. "Ninguém vai abraçar a causa de um trabalhador que só olha para si mesmo", afirmou Rilma.

Por outro lado, ela afirmou que as empresas devem respeitar a lei e, nesse caso específico, as viações poderiam ter pedido medidas cautelares para deter a paralisação. "Nós estamos aqui de plantão 24 horas", ressaltou. "O direito de greve é uma garantia constitucional, mas os trabalhadores têm de perceber que o direito deles também esbarra no direito de muitas outras pessoas", afirmou a juíza, lembrando quem tinha compromissos, até médicos, e dependia do transporte.

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Tanto o sindicato dos patrões, o SPUrbanuss, quanto o dos empregados, Sindmotoristas, afirmou que não poderia responder por uma greve deflagrada por pessoas insatisfeitas com o acordo salarial. Mas a desembargadora discordou. "As categorias são representadas pelos diretores do sindicato", ressaltou. Uma decisão final sobre a legalidade da greve será tomada por um grupo de dez desembargadores em sessão marcada para 17h de segunda-feira.

Intermunicipais. Nesta quinta, foi a vez de a EMTU ser surpreendida pela paralisação nas Viações Miracatiba, Osasco, Mobi Brasil e Urubupungá - 230 mil usuários foram afetados só em Diadema e Osasco. A Miracatiba, que opera 46 linhas, amanheceu paralisada e voltou a operar com 85% da frota a partir das 13h30. Já a Urubupungá operou com 80% da frota, o que afetou 49 linhas que circulam por Barueri, Osasco e São Paulo.

Por causa da greve, a MobBrasil deixou de operar todas as 17 linhas em Diadema e São Bernardo, prejudicando cerca de 15 mil pessoas. Uma reunião da empresa com grevistas prevista para o fim da tarde foi suspensa e caberá à Justiça julgar a greve.

Já os 400 ônibus da Viação Osasco não circularam durante todo o dia, afetando 75 mil pessoas. Na cidade, pelo menos 65% da população está sem ônibus, conforme estimativa do prefeito Jorge Lapas. "Nós já havíamos fechado o acordo de reajuste no sábado. Fomos pegos de surpresa. É ação igual à da capital." /COLABORARAM LAURA MAIA DE CASTRO, FABIANA CAMBRICOLI e MARCELO OSAKABE

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