Governo diz que situação das represas de SP é grave; Nordeste já está em ‘colapso’

Ministros fazem balanço e destacam que Cantareira está 11% abaixo do volume útil. ‘Quadros continuam críticos’, diz presidente da Agência Nacional de Águas (ANA); em 50 cidades nordestinas, fornecimento chega a ser feito uma vez a cada 15 dias

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Por Lisandra Paraguassu e Rafael Moraes Moura
Atualização:

Atualizada às 20h42

BRASÍLIA - O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, disse nesta quarta-feira, 1, que, mesmo com o cenário favorável de chuvas em fevereiro e março, o quadro no Estado de São Paulo continua “grave”. Além disso, mais de 50 municípios no Nordeste estão em colapso hídrico neste momento - esse número pode chegar a 105 se o regime de chuvas na região não melhorar. 
“Mesmo tendo sinais de uma quantidade de água mais favorável chegando aos reservatórios, os quadros continuam críticos. Medidas que foram adotadas até aqui no controle e na redução das vazões dos reservatórios e dos rios têm de ser mantidas”, disse Andreu, no Palácio do Planalto, ao apresentar um balanço da crise hídrica no País. “Nenhuma medida deve ser abrandada.”
Ao falar especificamente do principal manancial paulista, Andreu destacou que, apesar das chuvas registradas nos últimos dois meses, as vazões no Cantareira, que estava ontem com 19,1% da capacidade, ainda não atingiram as médias do reservatório. “Se você considerar a água em relação ao volume útil, hoje o reservatório está com -11% em relação ao volume útil, o que significa que você ainda está usando água abaixo do volume útil”, disse o diretor-presidente da ANA.

Há algumas semanas, a Sabesp passou a divulgar um novo cálculo para a contagem da reserva do Cantareira, após pressão do Ministério Público Estadual Foto: Evelson de Freitas/Estadão

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“O que choveu não foi suficiente para recuperar o reservatório”, reforçou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Ela disse que o planejamento da campanha sobre uso racional da água, que está sendo preparada pelo governo, deve ser retomado neste mês, com a proximidade do fim do período de chuvas. 
Como mostrou o Estado, uma divergência na formulação da campanha entre a Secretaria de Comunicação do governo - que pretendia creditar a seca que atinge grande parte do País ao aquecimento global - e o Ministério do Meio Ambiente, que pretendia deixar de fora uma questão que ainda não tem consenso científico, travou a campanha. Izabella afirmou que já marcou uma visita ao novo ministro da Secom, Edinho Silva, para tratar do tema. “Será uma campanha de informação. Vamos tentar influenciar o comportamento de cada brasileiro. Temos de poupar água.”
Nordeste e transposição. Ao falar do cenário na Região Nordeste, o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, ressaltou que o governo tem investido na construção de poços para atender municípios. “Queremos entregar as obras hídricas o mais rápido possível”, disse. 
Um levamento feito pelo Ministério da Integração Nacional, com dados dos Estados, relata que há 50 cidades em estado de calamidade, com o fornecimento de água uma vez a cada quatro dias - chegando até a uma vez a cada 15 dias.
O governo federal também deve começar a oferecer carros-pipa nas próximas semanas. “O apoio do governo federal será feito, não definimos como nem quando. Faremos dentro do que é possível. Na área rural, o abastecimento é feito pelo Exército e com todo controle eletrônico”, afirmou o ministro da Integração Nacional. As alternativas, segundo ele, serão discutidas na próxima semana.
Occhi ressaltou, no entanto, que a solução para a questão hídrica no Nordeste é a transposição do Rio São Francisco. “A partir do segundo semestre, começaremos a entregar quilômetros dessa obra e, até o fim de 2016, vamos entregá-la por inteiro”, disse. 
Mas os dados da Agência Nacional de Águas mostram que mesmo o Rio São Francisco está ainda longe de um nível satisfatório. Dos dois reservatórios do manancial, o de Três Marias, na cabeceira, teve recuperação nesse período de chuvas no Nordeste, mas ainda opera em nível muito baixo. Enquanto isso, o de Sobradinho mantém-se em situação crítica.

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