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Governo de SP muda critério de ocupação de UTI e facilita mudança de fase em plano de reabertura

Alteração visa destinar leitos ociosos de covid-19 para outros pacientes; taxa de ocupação de UTI para fase verde deverá ser inferior a 75% em vez de 60%

Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue e Marina Aragão
Atualização:

O governador paulista João Doria (PSDB) anunciou nesta segunda-feira, 27, mudanças no programa de reabertura econômica e flexibilização da quarentena, chamado Plano São Paulo. A principal alteração permite que regiões com taxa de ocupação abaixo dos 75% nos leitos de UTI para covid-19 entrem na fase 4 verde, enquanto o índice previsto anteriormente era de menos de 60%. As novas regras passam a valer nesta sexta-feira, 31.

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Nas demais fases, a taxa de ocupação deverá ser de até 80% nas amarelas e laranja, enquanto uma média superior a 80% coloca a região na fase vermelha. A alteração facilita que os municípios façam o remanejamento dos leitos exclusivos de covid-19 para outros pacientes sem mudarem de fase no plano. A mudança é especialmente defendida pela Prefeitura de São Paulo, que pretende utilizar parte desses leitos para retomar a realização de cirurgias eletivas. Na prática, a mudança não coloca nenhum município hoje na fase verde, que ainda considera outros critérios epidemiológicos.

"Agora, a necessidade é que voltamos a remarcar as cirurgias eletivas. Na cidade de São Paulo, nós precisamos ter um número de leitos um pouco maior para fazer a retomada desses processos. Essa reversão gradual vai ser bastante importante neste momento em que estamos retomando as cirurgias", disse o secretário municipal da saúde, Edson Aparecido, em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.

País criou 19,8 mil leitos de UTI para coronavírus. Foto: Werther Santana/Estadão

"O município de São Paulo não estaria verde neste momento (embora tenha taxa de ocupação de 66,2%). Lembrando que a calibragem é para garantir estabilidade. São Paulo não atenderia aqueles indicadores absolutos", destacou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen. Ela destacou que os municípios somente podem fazer a transição para a fase verde quando somam ao menos quatro semanas na fase amarela e, além disso, registram taxa inferior a 40 internações e 5 óbitos para cada 100 mil habitantes

"Nós mais que dobramos a quantidade de leitos disponíveis, o que nos dá hoje essa flexibilidade. Esses leitos continuam disponíveis para covid. Os leitos não podem ficar parados se tem gente precisando", destacou. 

Doria chamou as mudanças de “calibragem técnica” e negou que seja um "afrouxamento". Segundo ele, o objetivo foi “aprimorar” e tornar mais “eficiente e adequado” ao atual momento da pandemia. “Foram profundamente estudadas e discutidas pelo Centro de Contingência.”

João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19, também comentou sobre as mudanças. “Buscam dar estabilidade na transição das fases. É muito ruim quando a região altera de uma fase para a outra e na semana seguinte tem de retornar. Isso causa muitos problemas. Esse ajuste dá uma estabilidade maior no faseamento. Quando ocorrer uma transição do amarelo do verde, nós teremos uma segurança um pouco maior."

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O coordenador do Centro de Contingência, Paulo Menezes, disse que o Estado faz uma “progressão lenta e segura de uma fase para outra, sem colocar em risco a saúde da população”.  Ele destacou que os coeficientes e indicadores epidemiológicos, como número de óbitos e internações, continuam "exatamente os mesmos".

O Plano São Paulo dividiu o Estado em 22 regiões e sub-regiões, reunindo grupos de municípios sujeitos às mesmas regras. As fases de restrições e flexibilizações do funcionamento de serviços, comércios e atividades variadas são divididas em 1 (vermelha), a mais grave, 2 (laranja), 3 (amarela), 4 (verde) e 5 (azul). 

A fase amarela, em que está a cidade de São Paulo, permite o funcionamento de bares, restaurantes e salões de beleza em horário parcial, além de ampliar a taxa de ocupação de espaços liberados pela fase laranja, como shoppings centers.

Decisão divide opiniões entre especialistas

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Ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o sanitarista Gonzalo Vecina Neto considera “razoável” a decisão se ela resultar na retomada gradual das cirurgias eletivas. Mas ressalta que os impactos da mudança precisam ser acompanhados de perto.

“Nós precisamos começar a atender o que está parado”, diz o sanitarista, que também é colunista do Estadão e professor da USP e da FGVSaúde. “O grande problema é se aumentar o número de casos por causa desse clima de liberou geral. Precisa ter muito cuidado e, por enquanto, dar uma olhada como vai ficar e, dependendo, mantém ou deixa mais duro. São muitas variáveis.”

Também colunista do Estadão e infectologista do Hospital Emílio Ribas, Sergio Cimerman ressalta que esse movimento de remanejar vagas reservadas para pacientes da covid-19 já está ocorrendo na rede privada. “São meses de pandemia, quantas cirurgias não estão esperando? Cirurgias de pedra na vesícula, por exemplo, cirurgias ortopédicas importantes, cirurgias oncológicas.”

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O médico argumenta que essa retomada precisa ser programada com “tranquilidade” para que a oferta de leitos seja “maleável” caso os municípios que estão no platô voltem a enfrentar um pico de internações. “O que não acredito (que vá acontecer) nos momentos atuais”, estima.

Já Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto e colaborador do grupo de monitoramento Covid-19 Brasil, considera que a situação epidemiológica do Estado ainda não permite flexibilizações, pelo número que considera alto de casos e óbitos diariamente. 

“Todo o Plano São Paulo está equivocado”, critica. “O plano de relaxamento em outras regiões do mundo foi quando o número de casos e óbitos decaiu muito”, diz. 

Para ele, a medida é uma forma de atender à pressão de prefeitos e empresários. “É uma tentativa de fazer Santos e São Paulo passarem para a fase verde. Não vejo critérios voltado para a saúde pública.”

Cidade de SP tem queda de 27% nos óbitos; mortes sobem 16% no interior

Na coletiva, Doria destacou que o Estado teve uma queda de 4% no número de óbitos pelo novo coronavírus na última semana (entre 19 e 25 de julho) em comparação à semana anterior. No mesmo período, a redução foi de 27% na capital paulista, enquanto ocorreu um aumento de 16% no interior. Segundo destacou o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, os indicadores de óbitos e internações apontam que o Estado atingiu o platô na segunda semana de junho. 

O Estado chegou a 487.654 casos e 21.676 óbitos pela covid-19. "Nós tivemos novos óbitos ocorrendo especialmente no interior. Mas aí veio uma notícia boa. Uma diminuição do número de internações", disse. Nas últimas 24 horas, foram registrados 3.672 casos confirmados, mas o secretário ressaltou que costuma ocorrer um "represamento" de resultados no fim de semana e que os números divulgados nos próximos dias possivelmente serão superioes.

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A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 65,7% no Estado, taxa que chega a 63,3% na Grande São Paulo.  "A epidemia não ocorreu simultaneamente em todo o Estado de São Paulo. A epidemia iniciou na capital, mas agora se encontra numa fase descente e obviamente, como iniciou mais tarde no interior, vai terminar mais tarde também", justificou o secretário-executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo.

O secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, também comentou sobre a situação do interior. "É a primeira vez que o interior do Estado tem queda nas internações. Quando a gente olha o cenário, nós só tivemos 3 regiões do Estado que tiveram aumento no número de internações, Araçatuba, Bauru e Franca. E nós chegamos ao mais baixo índice de letalidade no Estado, com 4,47%. No dia 2 de junho, a gente tinha cerca de 20 leitos por 100 mil habitantes, hoje, estamos com 33."

Já o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), destacou os números da cidade. "Nós estamos praticamente com a mesma quantidade de internações novas ao longo destes últimos 15 dias. A cidade vem reduzindo na quantidade de óbitos. E a quantidade de ocupação de leitos de UTI mostrando que a gente está vivendo uma redução na ocupação de leitos de UTI. A gente tem a tranquilidade de garantir que ninguém ficará sem atendimento."

Volta às aulas ‘não tem compromisso com a data, e sim com as condições de segurança’

O coordenador do Centro de Contingência Contra a Covid-19, Paulo Menezes, voltou a declarar que o Estado somente permitirá a retomada das aulas em 8 de setembro se todos os municípios seguirem os critérios pré-estabelecidos, como estarem na fase amarela do Plano São Paulo por pelo menos 28 dias.

“O centro de contingência aprovou uma avaliação com regras que requerem a estabilidade da pandemia no Estado”, ressaltou. “Vai depender da avaliação dos indicadores das próximas duas semanas. O centro não tem compromisso com a data, e sim com as condições de segurança.”

Doria diz que vacinação contra covid-19 pode começar em janeiro

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O governador também comentou que, se os resultados dos estudos da vacina CoronaVac forem positivos, a produção poderá começar em dezembro. Com isso, a imunização teria início já em janeiro. 

Os testes da vacina em São Paulo começaram na semana passada. Ao todo, 22 centros de referência participam do estudo, com cerca de 9 mil voluntários, todos profissionais de saúde. 

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