Governo de SP libera, mas pessoas resistem a tirar a máscara

A determinação do governador João Doria, baseada na queda de casos, não afastou totalmente o receio de contaminação

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Por Gonçalo Junior
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No primeiro dia após o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes fechados, frequentadores de shopping centers, supermercados e cinemas mostraram cautela e resistiram a tirar a proteção. O avanço da vacinação contra covid-19 e a queda nas internações e óbitos, justificativas para a liberação, ainda não afastaram totalmente o receio de contaminação em vários pontos da cidade.

Movimentação no shopping Center Norte, com pessoas com e sem máscaras de proteção contra novo coronavírus Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 18/03/2022

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Nos corredores do shopping Center Norte, um dos principais da zona norte, o número de frequentadores com máscara era visivelmente superior àqueles sem a proteção na manhã desta sexta-feira. 

Embora a utilização de máscaras continue compulsória apenas em locais de prestação de serviços de saúde, como hospitais e UBSs, e nos locais de acesso e veículos de transporte coletivo, como no Metrô, trem, ônibus e em aeroportos, o profissional autônomo Antonio Marcos da Silva Melo acha ainda é cedo para tirar a máscara. Um dos motivos da resistência é a morte do irmão Luiz Silva Melo, de 53 anos, no começo da pandemia, em 2020. “Ainda acho que é um momento de prevenção. Não me sinto seguro”.

Aqueles que decidiram sair sem máscara confessaram alívio, sensação de libertação, mas também estranhamento. Esta sexta-feira foi a primeira vez que a funcionária pública aposentada Carla Nabia, de 51 anos, saiu sem a proteção facial. Ela decidiu fazer um passeio com o filho Pedro Luiz, de 11 anos. “Eu queria sentir essa liberdade, mas confesso que ainda estou com receio”, confessa a moradora do Parque Mandaqui. “A gente se sente desprotegida. Toda hora eu penso em colocá-la”, completa. Para o filho, prevaleceu a sensação de alívio. “É muito difícil respirar com a máscara. Estou feliz”.

Essa mistura de sentimentos também marcou o casal Wellington Tadeu, de 53 anos, e Carla Souza, de 51. Os dois estavam sem máscara nos corredores do shopping. “Pensei que era alguma fiscalização. A minha máscara está na bolsa”, sorriu a professora com a chegada da reportagem do Estadão. Os dois encaram essa fase como um momento de transição, de testes, para entender como as outras pessoas vão se comportar.

O cenário foi o mesmo em outros shopping centers da cidade. Em Itaquera, a dentista Andreza Silva, de 28 anos, ficou admirada com a quantidade de “mascarados” no shopping que recebe o nome do bairro. Ela precisou ir às pressas comprar um vestido para o aniversário da filha – o que foi comprado pela internet não tinha chegado. “Eu achei estranho. Pensei que ninguém estaria de máscara após a liberação”, diz a moradora da zona leste.

Em outros locais fechados, abrir mão da máscara ainda parece distante para os frequentadores. É o caso dos cinemas. Todos que cobraram ingressos para a primeira sessão desta sexta-feira, no Cine Marquise, na Avenida Paulista, usaram máscara durante a projeção. Também era essa a intenção do publicitário André Junqueira, de 35 anos, que ia aproveitar o dia de folga para acompanhar o novo Batman no final da tarde. “Eu vou demorar muito para tirar a máscara no cinema”, prevê.

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Para o diretor do Cine Marquise, Marcelo Lima, o fim da obrigatoriedade vai atrair mais cinéfilos. Mesmo com máscara. “Ir ao cinema é super seguro, mas redobrar a segurança (com a máscara) sempre é bom”, avalia.

Ambientes abertos

Mesmo com a liberação do uso das máscaras em ambiente aberto desde o dia 9, muitas pessoas ainda recorrem à precaução nas calçadas. Na esquina da Avenida Paulista com a Rebouças na tarde desta sexta-feira, o número de pedestres com e sem máscara estava equilibrado.

Para o gerente de lojas Diego Duarte, de 32 anos, o trajeto entre o escritório e o ônibus para sua casa, na zona sul, é o único momento de respiro – literalmente. Ele estava sem máscara. Embora o uso seja opcional em escritórios, comércios, salas de aula, academias, a loja de confecção em que trabalha já definiu que a máscara continua sendo obrigatória. “É um alívio poder respirar melhor e ver o rosto das pessoas, mas ainda não acabou (a pandemia)”, alerta.

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A busca por essa sensação de alívio foi mais forte para os frequentadores do Supermercado Castanha, que possui uma loja na Vila dos Remédios, zona oeste da cidade. Funcionários contam que na noite de quinta-feira, logo após a liberação do uso de máscaras pelo governo de São Paulo, muitos clientes chegaram dizendo que tinham o direito de entrar sem máscara no endereço de 48 anos de história.

Nesta sexta-feira, o olhar das equipes aponta equilíbrio entre clientes com e sem máscaras. No caso dos funcionários, a opção era livre, como conta a proprietária Shirlei Castanha. A maioria optou por trabalhar com máscaras.