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GCM ‘limpa’ calçadas de estações na Cracolândia

Usuários de drogas foram tirados da Luz e da Júlio Prestes, mas só mudaram de rua

Por Diego Zanchetta
Atualização:

SÃO PAULO - A Prefeitura de São Paulo dobrou o número de equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e de limpeza que atuam na região ao lado das Estações de trem da Luz e Júlio Prestes, no centro da capital paulista. Dezenas de usuários de drogas foram removidos, no início da manhã desta segunda-feira, 28, das calçadas da Praça Júlio Prestes e da Rua Helvetia. Em seguida, equipes de varrição e outras com jatos d’água em caminhões-pipa lavaram as calçadas.

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A "faxina" foi repetida mais duas vezes, no horário do almoço e no início da noite. A limpeza pouco comum em ruas por onde as pessoas costumam tropeçar no lixo a cada 20 metros causou até espanto. Por toda a região conhecida como Cracolândia também não havia ontem uma única barraca ou lona montada pelos dependentes.

"Algum furacão passou por aqui e levou todo mundo? Nunca vi esse chão limpo a essa hora, olha só, dá até para sentar", brincou a manicure Luiza Menegaldo Pereira, de 44 anos, que pegava o metrô na Luz por volta das 17h40.

"O prefeito (Fernando Haddad) quer essa área limpa. A sujeira degrada muito essas quadras", afirmou ao Estado o secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto. Ele nega que a ação tenha caráter higienista. À noite, centenas de dependentes que foram removidos das calçadas ao lado da Júlio Prestes se aglomeraram em cerca de 100 metros da Alameda Dino Bueno, ao lado da base da PM no Largo Coração de Jesus.

"Ninguém prendeu ninguém, não houve confronto. O prefeito quer aquele espaço limpo, sem lixo espalhado pela rua. O lugar onde os dependentes estão é para onde eles vão todas as noites", argumentou o secretário. "A sujeira degrada muito essa importante e bonita área da cidade. Além da limpeza, queremos ocupar o espaço com atividades culturais nos fins de semana. No domingo já houve futebol de rua e bloco de carnaval", acrescentou Porto.

Efetivo. O número de guardas-civis na Cracolândia aumentou, desde domingo, de 47 para 70 por turno. No fim da tarde desta segunda, equipes de motos e em caminhonetes impediam que usuários de drogas montassem barracas e tendas ao longo da Rua Helvetia.

"O prefeito já disse que não quer mais eles aqui ao lado da estação (Júlio Prestes)", disse o inspetor Francisco Rocha Uchôa, coordenador da operação da GCM. "Fizemos uma limpeza inicial aqui na praça e ao lado do Liceu Salesiano. Não vamos deixar mais nenhum tipo de barraca ser montada, essa é a ordem." Na calçada ao lado da Estação Júlio Prestes, onde os "noias" costumavam montar barracas, a GCM montou uma base e estacionou dois ônibus da corporação.

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Já na Alameda Dino Bueno, no começo da noite desta segunda, ninguém conseguia passar pelo quarteirão onde os dependentes químicos se espremiam. Os motoristas que tentavam passar pela via, por volta das 18 horas, tinham de dar marcha à ré com os carros e tomar um caminho alternativo.

"Agora, quem passa a caminho das estações não vê mais nada, dá a impressão de que está tudo limpinho. Mas o ‘bicho pega’ mesmo é aqui no meio. Eles (GCMs) tiram da calçada da estação e jogam eles (dependentes) para cá", reclamou José Francisco Cardoso, de 52 anos, dono de uma padaria na Dino Bueno.

Nesse mesmo quarteirão, a Prefeitura lacrou três bares e uma pensão no início de março. Na época, Haddad havia anunciado que queria iniciar uma nova etapa de trabalho na Cracolândia, chamada de "incômodo ao fluxo", para impedir que usuários consumissem drogas em vias públicas.

Parque D. Pedro. O programa da Prefeitura de combate ao consumo de crack e acolhimento dos usuários na Cracolândia, o De Braços Abertos, será estendido para a região do Parque d. Pedro II, outro reduto de usuários na capital. No início da semana passada, o governo começou a cadastrar pessoas em situação de vulnerabilidade.

Na Cracolândia, os usuários de droga ganham R$ 15 por semana para fazer serviços de zeladoria urbana, têm quartos em hotéis e assistência social e de saúde. A Prefeitura ainda não definiu os benefícios que serão dados para a população do Parque d. Pedro.

Segundo o secretário Roberto Porto, pesquisas iniciais mostraram que o perfil das pessoas na área é diferente do encontrado na Cracolândia. No Parque d. Pedro há famílias, muitas com crianças de colo, que moram sob viadutos, sem receber assistência.

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