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Gasto de Doria com manutenção de córregos e bueiros é o menor em 4 anos

Recurso aplicado, de R$ 84,2 mi, corresponde a 56% do previsto para essa finalidade; moradores reclamam de sujeira e alagamentos

Foto do author Marco Antônio Carvalho
Por e Marco Antônio Carvalho
Atualização:

SÃO PAULO - A Prefeitura de São Paulo gastou pouco mais da metade (56%) da verba para serviços rotineiros de manutenção do sistema de drenagem das chuvas, que inclui bocas de lobo, bueiros, córregos e piscinões. O volume, R$ 84,2 milhões, é o menor desde 2014, em valores corrigidos pela inflação. Além disso, apenas 12% das obras previstas no orçamento para tentar controlar as cheias foi gasto pela gestão João Doria (PSDB). A Prefeitura diz que os serviços são feitos de acordo com a necessidade de cada uma das 32 prefeituras regionais da cidade. 

Zona leste.Obra de contenção no Córrego Lajeado foi feita só em uma margem, causando desmoronamento no outro lado Foto: Werther Santana/Estadão

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Com serviços pela metade e o início da temporada de chuvas, os paulistanos que vivem em áreas onde as enchentes são comuns já estão preocupados. “Este ano, ainda não vi limpeza de bueiros aqui na região. Há três córregos, o Três Pontes, o Itaim e o Águas Vermelhas. Todos estão sujos”, afirma Anderson Migri da Cunha, líder comunitário do Jardim Pantanal, bairro da zona leste famoso pelos constantes alagamentos. “Esses três córregos deságuam em um lago que, na semana passada, ficou no limite de transbordar.”

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Dos R$ 147 milhões em serviços previstos no orçamento para as prefeituras regionais fazerem a manutenção do sistema de drenagem, os órgãos gastaram R$ 84,2 milhões até a última sexta-feira, segundo levantamento realizado pelo Estado com dados da Secretaria Municipal da Fazenda. Para comparar, em 2016, também até o mês de outubro, haviam sido gastos R$ 120,9 milhões, em valores corrigidos. Os investimentos deste ano só são equivalentes ao gasto até outubro de 2013, de R$ 78,9 milhões.

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Há diferenças entre as regiões. O Butantã, na zona oeste, gastou 71% dos recursos propostos. O Itaim Paulista, na zona leste, está no fim da tabela. Ali, 33% da verba foi aplicada. A região divide a lanterna com Guaianases (32%), também na zona leste, e Vila Maria (36%), na zona norte.

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Na Lapa, zona oeste, quem vive e trabalha próximo do Mercado Municipal do bairro reclama da falta de limpeza dos bueiros. Por causa da falta de espaço para a água escoar, já houve ao menos três alagamentos ali só neste ano. “Carro que tenta passar em meio ao alagamento fica boiando porque só dá para passar ônibus. Não entra água no mercado porque eles abaixam as portas e protegem, senão entraria”, conta o balconista Cassiano Adolfo, de 22 anos, funcionário do mercado.

O taxista Ricardo Albuquerque, que trabalha no bairro há um ano, relata ter visto limpeza das bocas de lobo só uma vez. “Em julho, vi os caminhões com os equipamentos e eles estavam fazendo a limpeza. Mas quando a chuva vem forte isso aqui fica intransitável.”

“Todo o sistema de macrodrenagem da cidade está superado há 20 anos”, afirma o engenheiro civil Julio Cerqueira Cesar Neto, consultor da área de drenagem urbana e ex-diretor de planejamento do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). “A cidade cresceu demais, ficou impermeável. Os canais já não têm capacidade para escoar as águas das chuvas”, afirma. “Toda tempestade que a cidade enfrentar vai resultar em alagamentos”, acrescenta. 

Demanda

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Por meio de nota, a gestão Doria informou ter feito neste ano limpeza manual em 1,4 mil quilômetros de córregos - sem informar a extensão total de córregos da capital -, além de limpeza em 77 mil metros com máquinas. 

“O cronograma de limpeza é definido para cada uma das 32 prefeituras regionais, de acordo com necessidade e planejamento técnico”, informa o texto enviado pela Prefeitura. Sobre os córregos da zona leste, a administração disse que os locais são monitorados e seguem cronogramas de serviço. A Prefeitura disse ainda que a regional da Lapa vai avaliar a situação relatada pelos moradores nos próximos dias.

Obras

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Os recursos para custear esses as ações de manutenção vêm do Tesouro Municipal. É uma situação diferente do dinheiro para obras de melhoria da drenagem, feitas com dinheiro da Prefeitura e de transferências dos governos do Estado e federal. 

Somadas as três fontes, os recursos para este ano eram de R$ 564 milhões. Mas apenas R$ 70 milhões já foram investidos. Além do fim dos repasses do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que fizeram sumir quase R$ 380 milhões da verba, a Prefeitura afirmou que havia problemas de documentação em alguns dos convênios e pretende concluir as obras já iniciadas. 

Córrego Lajeado.A sujeira e o mato alto já são motivos de queixas Foto: Werther Santana/Estadão
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Obra inacabada faz terra deslizar na zona leste 

A Vila Silvia Teles, no Itaim Paulista, zona leste, é um daqueles bairros em que, quando se pergunta sobre enchentes, os moradores normalmente apontam para a cintura ou mesmo para o peito, ao explicar o nível a que a água chegou na última estação chuvosa. É um bairro por onde o Córrego Lajeado passa em seu caminho até o Rio Tietê. Ali, os temores habituais com relação às chuvas estão maiores neste ano, por causa da falta de manutenção do córrego e da demora nas obras para controle das enchentes de São Paulo.

“Meu pai, à noite, está saindo de casa para dormir com a gente, com medo de a margem (do Lajeado) desmoronar e levar a casa dele. A casa fica vazia”, conta a professora Luciene Vieira, de 46 anos. 

O temor de desmoronamento é causado por uma obra de contenção das margens iniciada neste ano e ainda não acabou. A sujeira e o mato alto já são motivos de queixas. Além disso, os moradores dizem que a obra, feita em só uma das margens, acabou por fazer a margem oposta ceder, chegando à porta das casas. 

“Começou a entrar máquina, mexer em terra, e a margem do outro lado começou a desmoronar”, afirma o gari Claudinei Aparecido da Silva, de 38 anos, que vive com a família na margem do córrego. “Quando chover forte, e tiver correnteza, a margem vai embora”, diz. 

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A erosão da margem é um problema de décadas. A professora Luciene diz que sua família fez em 2016, por conta própria, um muro de proteção para evitar uma tragédia. Gastaram R$ 4 mil com material de construção. O muro agora está embaixo da água.

Segundo a Prefeitura Regional de Itaim Paulista, houve dois solapamentos de terra durante a obra, um no dia 17 e outro no dia 19 deste mês. Por meio de nota oficial, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) informou que o serviço ainda deve durar mais quatro meses. “Além disso, o local recebe limpeza mecânica três vezes ao ano, ou de acordo com a demanda”, diz a Prefeitura.