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Garota libertada de seqüestro fala à polícia em Santo André

Ex-namorada do seqüestrador é mantida refém há dois dias dentro de casa; apartamento está cercado

Por Solange Spigliatti
Atualização:

Nayara, de 15 anos, que foi liberada no fim da noite de terça-feira, 14, por Lindemberg Alves, de 22 anos, presta depoimento à polícia no começo da tarde desta quarta-feira, 15. Nayara é amiga de Heloá, que ainda é mantida refém por Alves. Ela está no 6ºDP de Santo André, no ABC paulista. A garota chegou à delegacia no final da manhã e até as 13h30 ainda era ouvida. Em entrevista à RedeTV, Alves afirmou que fez a menina refém pois "queria conversar". O seqüestro começou pois ele estava inconformado com o fim do namoro. Veja também: Jovem diz que vai matar se polícia invadir 'Ele estava com revólver e várias balas no bolso' Segundo irmãs, rapaz nunca andou armado Alves afirmou em entrevista que nestes mais de dois dias de seqüestro ele dormiu, não se sente cansado e que queria notícias da mãe dele. Alves afirmou que a jovem tentou tirar a arma das mãos dele e, por isso, a arma disparou. Questionado se libertaria Heloá, Alves afirmou que o seqüestro vai terminar "na melhor hora". Heloá pediu que as exigências dele fossem atendidas e disse que a vida dela está "nas mãos dos policiais". Apesar de estar com voz nervosa e quase chorando, ela afirmou que está calma e tentou tranqüilizar os pais e a família do ex-namorado. Dois dias de seqüestro O seqüestro completou dois dias e, no começo da tarde desta quarta, Heloá recebeu comida pela janela. A comida foi colocada em uma trança de lençóis e puxada até o terceiro andar do prédio, pela janela do apartamento onde ela é feita refém desde às 13h30 de segunda-feira. Alves faz a jovem refém e continua negociando com a polícia. Agentes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) cercam o apartamento, em uma CDHU no Jardim Santo André, em Santo André, no ABC paulista. A polícia não fala com a imprensa e com os familiares da jovem e de Alves. Quatro policiais do Gate estão na escada entre o segundo e o terceiro andar do prédio. As negociações foram retomadas na manhã desta quarta, após serem interrompidas por volta das 23 horas de terça. Nesta manhã, uma toalha vermelha foi colocada na janela do banheiro do apartamento e, por volta das 7 horas, foi retirada pelo rapaz. Lindembergue apareceu na janela, colocou o revólver para fora, mas não disparou. Segundo a polícia, desde a tarde de segunda, quando o apartamento foi invadido, ele já disparou quatro vezes contra as pessoas que estavam em frente ao local. Para evitar que os tiros atinjam alguém, a polícia isolou a área. Além do rapaz, a ex-namorada também fez uma aparição na janela do apartamento, jogando dois sacos de lixo. Policiais do Gate que estavam no local para ajudar nas negociações estão posicionados em vários pontos do prédio, montando uma estratégia para invasão. A polícia não confirmou se os agentes do Gate irão invadir o local, mas os grupos estão posicionados ao lado do apartamento onde estão o rapaz e a refém, no apartamento de cima, no de baixo e em frente. O seqüestro O seqüestro começou às 13h30 de segunda-feira no apartamento da ex-namorada de Lindembergue em um conjunto habitacional da CDHU, no Jardim Santo André. Nayara, de 15 anos, foi libertada às 22h50 e os outros dois colegas que eram feitos reféns, na noite de segunda-feira. Durante o seqüestro, Lindembergue fez quatro disparos. Armado com um revólver calibre 38 e uma pistola, ele entrou no apartamento em que Heloá mora com o pai e os irmãos. O seqüestrador invadiu o imóvel porque estaria revoltado com o término do namoro. Seu objetivo era ficar sozinho com Heloá. Para isso, convidou o irmão da menina, de 14 anos, para ir ao parque jogar bola, mas o deixou lá e voltou. Na hora em que o apartamento - no terceiro andar do bloco 24 - foi invadido, Heloá havia acabado de chegar da escola com Nayara, o namorado dela e um colega. Eles estudam na Escola Estadual José Carlos Antunes e iriam fazer um trabalho de geografia. "Ele disse que ela (Heloá) teve sorte de não estar só. Perguntou quem éramos e deu uma coronhada", contou João (nome fictício), 15 anos, um dos reféns. Enquanto os garotos estavam no apartamento, só Nayara não havia sido agredida. Às 17 horas de segunda-feira, Heloá recebeu uma mensagem em seu celular de um rapaz. Ao terminar de ler a mensagem, Lindembergue bateu no rosto dela. Ele manteve os quatro no quarto de Heloá sob a mira da arma. Para evitar contato com os familiares, tomou os celulares de todos e quebrou o modem do computador. Deu frutas, bolachas e água para eles jantarem. A polícia soube do caso às 20h30, porque o pai de um dos garotos, estranhando a demora do filho, foi ao prédio, bateu na porta do apartamento e ouviu Nayara pedindo para ele se afastar. Ele, então, chamou a polícia. Quando a PM chegou, Lindembergue atirou duas vezes, mas ninguém foi atingido. O Gate começou a negociação por celular. O seqüestrador também conversou com familiares das jovens. O primeiro refém, João, foi solto às 21h15. "As meninas e meu amigo pediram para ele me libertar. Estava passando mal." O segundo foi libertado às 22 horas. Na manhã de terça, Lindembergue apareceu na janela do apartamento. Durante o dia, também mostrou as garotas. Vizinhos e parentes acompanharam as negociações em frente ao prédio. Lindembergue e Heloá namoraram durante três anos. Ele desmanchava e ela reatava. Mas da última vez, ela recusou retomar o relacionamento. Os dois moram no mesmo conjunto da CDHU. "Ele disse que só sairia de lá morto, porque para a cadeia não iria", disse o comandante do Gate, Adriano Giovaninni. A polícia desligou a luz às 17 horas de terça. Lindembergue cortou as negociações às 18h50. Às 22h10 o seqüestrador pediu que a luz fosse religada e o Gate negociou a libertação de uma refém. A luz foi religada e às 22h50, quando ele soltou Nayara. Ela relatou aos policiais que Heloá havia sido agredida com chutes e puxões de cabelo. Texto ampliado às 15h43 para acréscimo de informações.  (Com informações de Robson Fernandjes, de O Estado de S. Paulo, Daniela do Canto, Marcela Spinosa, José Dacauziliquá e Vitor Sorano, do Jornal da Tarde.)  

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