
10 de maio de 2015 | 02h01
Usar um tampão no olho direito é um problema para Cauã Aguiar Durães Correia, de 6 anos. Ele não quer saber de brincar que é um pirata e reclama do objeto, que pode reverter os efeitos da ambliopia, também conhecida como olho preguiçoso, doença que reduz a capacidade visual de um dos olhos. Diante do videogame, porém, a tarefa fica mais fácil para o menino.
Cauã está no grupo de pacientes que aguardam o lançamento mundial do jogo Dig Rush (Ubisoft), anunciado em março, e que se apresenta como o primeiro game voltado para crianças com ambliopia. O objetivo dele é estimular os dois olhos enquanto o paciente o joga utilizando óculos 3D. O game aguarda regulamentação da Food and Drug Administration (FDA), agência que fiscaliza remédios e alimentos nos Estados Unidos.
"É uma ideia interessante. A criança já não quer usar os óculos, imagine o tampão. Ele tem pouca visão do olho esquerdo e não quer tampar o direito. Se for um jogo, é mais fácil. Quando usa o tampão, ele fica no videogame ou na televisão", conta a mãe do menino, a consultora de beleza Débora Correia da Silva, de 29 anos.
A ambliopia em Cauã foi descoberta por acaso, quando o menino acompanhou uma consulta do pai ao oftalmologista e foi examinado. "Não dava para perceber que ele tinha um problema. Descobrimos em dezembro. Ele faz birra com o tampão. A gente disse que é como se fosse um pirata, mas ele fala que não gosta de pirata."
Auxílio. Oftalmopediatra do D'Olhos Hospital Dia, de São José do Rio Preto, Kássey Vasconcelos afirma que a tecnologia pode ser uma aliada do tratamento tradicional, feito com o tampão. "Já é comum deixar o paciente com o olho tampado na frente do videogame, pois é estímulo visual. Esse software é revolucionário, porque faz com que os dois olhos sejam estimulados. Ele tenta fazer com que, de uma maneira lúdica, ocorra o tratamento."
Apesar da proposta inovadora, Vasconcelos explica que é necessário aguardar o parecer da FDA para falar sobre a eficácia do produto. "Para um primeiro momento, é uma grande novidade. Se vai funcionar, os estudos vão dizer."
Produtor sênior da Ubisoft Montreal, Mathieu Ferland afirma que ainda não há data de lançamento para o jogo, mas que ele deve ser liberado para todo o mundo. "A intenção é que o tratamento esteja disponível primeiro no mercado americano, seguido pelo Canadá e, então, pela Europa. Há potencial para fazer com que a terapia seja disponível em escala mundial." De acordo com Ferland, aproximadamente 3% da população do mundo tem ambliopia.
Mauro Goldchmit, chefe do setor de estrabismo do Instituto Cema, é cauteloso ao falar sobre o tema. "Os jogos exercitam (o olho) de forma mais lúdica, mas ainda estamos carentes de publicações que tenham fundamento científico." O especialista destaca a importância de levar as crianças nos primeiros anos de vida ao oftalmologista. "Os exames devem ser feitos de forma precoce."
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