Galindo, o maestro pop, quer exportar mpb

À frente da Jazz Sinfônica, ele é um dos maiores defensores da mistura do erudito e do popular. E hoje celebra com show no Ibirapuera os 20 anos de sua orquestra

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Por Redação
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SÃO PAULO - Com os olhos brilhando de empolgação, o maestro João Maurício Galindo gesticula os braços pelo ar e exclama: “O que falta agora é levar a Jazz Sinfônica para fora. Eles estão loucos atrás da gente por música popular brasileira. Loucos mesmo, você não tem noção de quanto.”

 

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Esse é o próximo desejo que o regente tem para sua orquestra, uma das mais ovacionadas nos salões de concertos e casas de show de São Paulo - a Orquestra Jazz Sinfônica, que comemorará 20 anos de existência às 11 horas de hoje em um concerto a céu aberto no Parque do Ibirapuera. E, a julgar pela paixão com que ele fala sobre o conceito inovador que norteou essas duas décadas, é difícil duvidar de que esse plano logo virará realidade.

 

Galindo esteve à frente da orquestra pela metade desse tempo e, desde o início, tem sido um dos maiores defensores da quebra de barreiras entre a música “erudita” e a “popular”. “Essa oposição é enganosa”, diz. Por isso, ele decidiu trilhar com a Jazz Sinfônica o caminho do meio. Na orquestra, rege músicos que tocam arranjos próprios de profissionais tão variados quanto o novo-baiano Moraes Moreira, o mestre do frevo Spok e o jazzista americano John Pizzarelli, por exemplo.

 

Ao contrário das orquestras tradicionais que vivem do passado, um dos maiores objetivos da Jazz Sinfônica é inventar um estilo orquestral brasileiro. “Somos a orquestra que mais produz músicas próprias do mundo, já que temos de adaptar as músicas populares ao nosso estilo”, explica o maestro assistente Fábio Prado.

 

O trabalho de composição é árduo e dividido entre um grupo seleto de músicos e colaboradores oficiais. São eles que, ao longo do ano, escrevem partituras para os 82 músicos que compõem o grupo - um corpo bem diferente do tradicional por possuir instrumentos como guitarra, baixo e piano elétricos e uma bateria e, principalmente, por serem incentivados a fazer algo que orquestras do mundo inteiro jamais cogitaram: improvisar.

 

Cerca de 20 músicos – ou quase 1/4 do total – improvisam durante as apresentações da Jazz Sinfônica. “Foi o jazz que inventou o improviso, é por isso que o temos no nome”, explica Galindo. E, para fazer toda essa máquina funcionar, ele tem de se virar para adaptar o modelo tradicional de regência aos instrumentos únicos da sua orquestra e aos vários espaços brancos reservados ao improviso nas partituras dos arranjos.

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Metrópole.

 

Assim como uma amante caprichosa, a vida de João Maurício Galindo tem girado em torno da cidade, pela qual se diz apaixonado. “Não existe lugar no mundo como São Paulo”, afirma. Mas, mesmo com essa convicção, o maestro vive indo e voltando da capital desde jovem, quando tocava violão nos barzinhos de São Bernardo do Campo – sua cidade natal –, até hoje, em que volta para dormir em sua casa em Alphaville, na Grande São Paulo.

 

“Comecei a trabalhar aqui em 1978, como técnico em uma emissora de TV. Naquela época, conheci muitas pessoas interessantes e passávamos várias noites nos barzinhos, discutindo sobre música e arte. Foi graças a essa efervescência cultural que comecei a me apaixonar pela cidade”, conta.

 

Pouco a pouco, ele começou a se envolver com o mundo da música erudita. Fez aula de violino no Sesc Consolação e, quatro anos depois, virou professor do mesmo curso que estudava e decidiu se mudar para São Paulo para ficar mais próximo do emprego.

 

Foi aí que sua paixão pela cidade se consolidou. Notívago confesso, Galindo é um grande admirador da vantagem paulistana de se encontrar qualquer coisa a qualquer hora da noite, faça chuva ou faça sol. Outra característica que lhe atrai em São Paulo é a possibilidade de se descobrir coisas escondidas onde menos se espera. “Você sabe onde fica a Vila Medeiros? Não, né? Pois então, outro dia me levaram num restaurante lá chamado Mocotó e foi maravilhoso! E eu nem imaginava algo parecido”, diz.

 

Mistura

 

Desde que veio para São Paulo pela primeira vez, Galindo já viveu por um ano em Manaus e rodou o mundo em cursos e apresentações em orquestras de diferentes países. Mas decidiu ficar mesmo na capital paulista em 2000, quando foi convidado para reger a Jazz Sinfônica. “Ele tinha experiência tanto com música popular quanto com música erudita. Era a pessoa perfeita para aquele cargo”, afirma um dos fundadores da orquestra, o músico Cyro Pereira.

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Hoje, Galindo trabalha muito. Tanto que mal tem tempo de curtir o que São Paulo tem para oferecer culturalmente. “Produzo muito mais cultura para os outros do que eu consumo”, lamenta. Por isso, além de levar a orquestra Jazz Sinfônica para o exterior, Galindo tem um outro plano: equilibrar essa balança e tentar aproveitar mais da cidade   cosmopolita que lhe ensinou o quão natural qualquer mistura – como a que inspirou a própria criação da sua orquestra, por exemplo – pode ser.

Cronologia

1940PopularizaçãoFoi nessa década, nas orquestras de rádio, que começou a mistura entre música popular e erudita, segundo o maestro Fábio Prado. Pixinguinha e Radamés Gnattali marcaram época.

1953PrimórdiosInicia-se a carreira de Cyro Pereira no rádio. Cyro é um dos fundadores e mentores da Jazz Sinfônica e produz arranjos para a orquestra até hoje.

 

1990EstreiaPrimeiro show da Jazz Sinfônica, no Memorial da América Latina.

 

2000RegênciaJoão Maurício Galindo começa a reger a orquestra.

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