Funcionários de aviso prévio e sem esperança

PUBLICIDADE

Por Nataly Costa
Atualização:

Eram 16h de ontem quando o projecionista Antônio Vidal da Silva, de 46 anos - e 21 de cinema -, atendeu o telefone com a voz um pouco baixa, meio sem querer falar. "A gente sabe que vai fechar quinta. Mas ainda não confirmou, não", disse, deixando transparecer a sensação geral de esperança que parece ser regra para quem optou por trabalhar no Belas Artes até o fim. Tanto que o anúncio do fechamento pegou de surpresa quem, como seu Vidal, o funcionário mais antigo do Belas Artes, acreditava em um desfecho melhor. "A gente esperava outra reunião, uma resposta positiva. Mas não deu. Foi um choque", conta Aldo Pinto, que há sete anos recebe o público. Ele e seu Vidal fazem parte de um grupo seleto - os que não pediram demissão quando o cinema ficou na corda bamba, em meados de 2010. O lugar chegou à última semana com cerca de 30 funcionários, todos sob aviso prévio desde janeiro. Nem todo mundo era como Fernando Pereira, que até de graça já trabalhou no Belas Artes. Em 2005, então com 21 anos, foi para um Noitão (clássica maratona de filmes exibida às sextas) e nunca mais saiu de lá. "Cheguei do nada pedindo uma vaga de estágio, ajudante, qualquer coisa. O André (Sturm) ficou até desconfiado com minha cara de pau", conta Pereira, hoje organizador do cineclube e relações-públicas do cinema. "Sabe quando você perde um grande amor? Não sei se vou amar outro trabalho como amei o Belas Artes."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.