
31 de março de 2015 | 15h42
No terminal de ônibus da Praça do Correio, na região central de São Paulo, nem a chuva nem os ficais da São Paulo Transportes (SPTrans) intimidam as pessoas que "alugam" Bilhete Único para passageiros. Durante duas semanas, a reportagem do Estado flagrou dois homens negociando a venda de passagens sem qualquer interferência. "Estão sempre aqui abordando os passageiros", conta um motorista que prefere não se identificar.
Nos horários de maior movimentação, de manhã e no final da tarde, é possível "alugar" um Bilhete por R$ 2,50, R$1 a menos que a tarifa oficial dos ônibus municipais. O 'inquilino' o devolve assim que passa pela catraca. "Passam pela fila gritando 'Passa e devolve o bilhete' e muitas pessoas compram. Eles têm vários cartões e anotam o quanto ainda há de crédito em cada um", diz a estudante de publicidade Beatriz Silva, que costuma pegar ônibus no terminal.
Para inibir essas fraudes, desde de setembro do ano passado, a Prefeitura está instalando novos validadores e câmeras de monitoramento nos ônibus. De acordo com a SPTrans, cerca de 9 mil veículos já estão equipados. O validador mostra a imagem da fotografia dos Bilhetes Únicos especiais enquanto a câmera fotografa o usuário. Por meio do reconhecimento facial, feito por comparação entre as imagens, é possível evitar irregularidades. Porém, a fotografia não é feita quando o modelo é tradicional, mensal ou semanal. Nesse caso, a fraude é avaliada pelo sistema que monitora o número e a localização das viagens feitas por um bilhete.
As novidades, no entanto, não têm sido suficientes para evitar a ação dos fraudadores. "É normal isso lá no Santa Madalena", explica um cobrador da linha 314J-10, que liga o bairro da zona leste até o centro da cidade. "A gente não fala nada porque não quer arranjar encrenca. Mas, também, não estão fazendo mal pra ninguém, né?"
Segundo a SPTrans, a explicação está no tipo do bilhete, pois essa fraude seria praticada com o bilhete comum do modelo antigo, cujo o cadastro não é obrigatório. "Como é permitido fazer até quatro embarques no período de três horas pagando apenas uma passagem, se o fraudador conseguir vender as quatro passagens por R$ 3, ele recupera a recarga de R$ 3,50 e ainda sobram R$ 8,50", explica a empresa.
Pelas regras do Bilhete Único, a integração é pessoal e intransferível. Além disso, quem tem direito ao modelo especial, que garante gratuidade (idoso, obeso, pessoas com deficiência), pode perder o benefício caso permita que outra pessoa utilize seu cartão. No caso do Bilhete Único Mensal, que exige cadastro, essa prática pode ser considerada fraude contra a Prefeitura.
De janeiro de 2014 até agora, foram apreendidos pela equipe de fiscalização de campo da SPTrans 3.835 bilhetes, referentes à comercialização de passagem com cartão do tipo comum e utilização por terceiros de cartões cadastrados dos tipos idoso, PCD e estudante. Além disso, só no primeiro trimestre de 2015, 1.795 cartões foram cancelados através de análise de dados.
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