15 de fevereiro de 2020 | 05h00
SÃO PAULO - Um “balé” de drones com luz laser, um aplicativo de realidade aumentada e equipamentos que permitem mapear a emoção dos foliões. Aos poucos, o carnaval de São Paulo adota ferramentas mais tecnológicas para se aproximar do público e aumentar a interatividade, tanto nos blocos quanto no sambódromo.
O custo é, ao menos por enquanto, o maior impeditivo para a proposta se disseminar de forma mais generalizada. Por isso, iniciativas do tipo costumam envolver apoio ou patrocínio de empresas de tecnologia ou envolver desfiles com grande previsão de público.
É o caso do bloco dos DJs Jetlag e Malifoo, de música eletrônica. O desfile será domingo, 16, em um grande trio elétrico, que os organizadores dizem ter o triplo do tamanho tradicional e traz laterais revestidas com telões de LED. “Vai ter bastante conteúdo visual, feito exclusivamente para acompanhar as músicas, sincronizado com efeitos pirotécnicos e fumaça”, conta Thiago Mansur, um dos DJs do Jetlag.
Em dois pontos do trajeto, dez drones vão realizar um “balé”, com lasers e pontos de iluminação. Além dos efeitos visuais, a própria exibição dos DJs utiliza tecnologia. “Temos músicas que são 100% criadas com sintetizadores, que a gente capta os sons com o microfone do celular, que o sax da música foi tocado em um programa de instrumento virtual”, diz Mansur. “A tecnologia é essencial.”
Já o Chucrute Zaidan, que desfila neste sábado, 15, aposta em tecnologia desde o primeiro desfile, em 2016. “No carnaval, a tecnologia ainda é muito ausente, ainda mais nos blocos. E ela pode transformar de fato a folia”, alega Giliardi Pires, idealizador do bloco e empresário da área, que será acompanhado por 12 drones, que farão o monitoramento do público, a fim de “mediar o entusiasmo” dos foliões. O custo estimado é de R$ 19 mil.
A ideia foi discutida durante uma disciplina de pós-graduação da Escola Politécnica da USP, que buscava uma forma de popularizar os conceitos e ideias discutidas no livro Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial, um Olhar para o Brasil. “O livro teve um interesse baixo, e passamos a nos questionar ‘como comunicar isso para a sociedade?’”, lembra Elcio Brito, pós-doutorado na USP e sócio de uma empresa de tecnologia. Após definir o carnaval como alternativa para tratar o tema, o grupo firmou parcerias com empresas e faculdades, chegando a uma das patrocinadoras da Rosas de Ouro.
Brito lembra que a primeira proposta foi negada pela escola, porque a “tecnologia não emocionava”, o que começou a ser resolvido após a criação de um mascote, o robô ROXP4, que guia a narrativa. Segundo ele, cerca de 200 pesquisadores envolvidos participaram do desenvolvimento do enredo.
Uma equipe do Centro Universitário FEI auxiliou, por exemplo, na modelagem em 3D e em recursos de realidade aumentada dos carros alegóricos. Já o Instituto Mauá criou uma pulseira eletrônica para monitorar as reações de integrantes da escola e espectadores.
O desfile terá ainda uma ala com monociclos elétricos, fantasias com QRCode e um aplicativo que permitirá customizar os carros alegóricos de forma virtual e fazer selfies com um filtro que simula um look carnavalesco, dentre outras funções. “Será um case de referência, até por envolver algo praticamente artesanal, que é o carnaval.”
O vice-presidente da Rosas de Ouro, Osmar Costa, comenta que a modelagem dos carros em 3D, por exemplo, permitiu antecipar possíveis problemas. “O carnaval sofreu várias revoluções. Antigamente, todo mundo era comandado por um apito. As coisas foram acompanhando o crescimento do carnaval, com o rádio comunicador, as gravações de imagens para corrigir erros, a transmissão quase em tempo real – além das próprias revoluções tecnológicas em relação à parte musical ou até sonorização”, compara.
“Algumas coisas desse desfile vão deixar um legado. Outras são mais difíceis, porque o acesso é oneroso. Nesse momento, temos a oportunidade de um auxílio luxuoso.”
O governo do Estado utilizará 50 drones para fazer o monitoramento, além de instalar câmeras de reconhecimento facial. Já a Prefeitura terá quatro drones para “visualizar possíveis conflitos” e auxiliar no monitoramento de trânsito. Além disso, os laboratórios digitais da rede Fab Lab Livre SP realizarão oficinas aplicadas ao carnaval, como de criação de adereços e máscaras com corte a laser, por exemplo./COLABOROU RENATA OKUMURA
Desfile do bloco Jetlag & Malifoo:
Data: 16 de fevereiro (domingo)
Horário da concentração: 12 horas
Horário da dispersão: 16 horas
Endereço da concentração: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 4.150
Mais informações: www.jetlagmusic.com.br
Desfile do bloco Chucrute Zaidan
Data: 15 de fevereiro (sábado)
Horário da concentração: 14 horas
Horário da dispersão: 19 horas
Endereço da concentração: Avenida Doutor Chucri Zaidan, 1.550
Mais informações: www.blocochucrutezaidan.com.br
Desfile da Rosas de Ouro
Data: 23 de fevereiro (domingo), às 5 horas
Endereço: Avenida Olavo Fontoura, 1.209 (Sambódromo do Anhembi)
Mais informações: ingressosligasp.com.br
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