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Filho de Portinari diz que quadros foram 'seqüestrados' do Masp

Avaliada em US$ 5 milhões, tela de Candido Portinari foi roubada nesta quinta junto com obra de Pablo Picasso

Por Pedro Dantas e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Abalado com o furto da obra do pai, o professor João Portinari acredita que o ato, definido por ele como " uma tragédia", possa se tratar de um seqüestro. "Não consigo atinar a motivação, por isso acho possível a hipótese de que nas próximas horas apareça uma demanda pelo resgate da obra", afirmou. Na madrugada desta quinta-feira, 20, três ladrões entraram no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e, em uma ação que durou três minutos, levaram as telas O lavrador de café, de Candido Portinari, e Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso. As obras são avaliadas em US$ 5 milhões e US$ 50 milhões, respectivamente. EXCLUSIVO: assista ao vídeo com imagens do roubo Masp não tinha seguro para os quadros de Picasso e PortinariLadrões roubam quadros de Portinari e Picasso do Masp Masp aciona Interpol, Itamaraty e PF para recuperar quadrosBrasil é o quarto do mundo em roubo de obras culturaisBlog do Daniel Piza: um roubo, uma crise e a tristeza Veja galeria de fotos do roubo da Masp  No entanto, João Portinari afirmou que ainda não sabe se os ladrões "já causaram algum dano irreparável à obra ao manusear a tela." Ele classificou como "fantasiosa" a hipótese de um furto encomendado por algum colecionador. Segundo ele, o quadro O Lavrador de Café, era um dos poucos do pintor acessíveis ao público. "O meu conhecimento sobre os fatos do furto é limitado, mas o considero uma tragédia, porque 95% das 5 mil obras de Portinari estão em coleções particulares e longe dos olhos do público", afirmou. "Além disso, o quadro retrata a história do trabalhador brasileiro e da próprio pintor que em um poema diz: saí das águas do mar e nas no cafezal da terra roxa, em referência à fazenda de café onde nasceu no interior de São Paulo", afirmou o filho de Portinari. Diretor do Projeto Portinari na PUC-Rio, o professor afirmou que o trabalho apenas pesquisa a obra do pintor. "Não temos estrutura de pessoal e recursos para investigar as condições de segurança das obras de Portinari, que estão abertas a visitação pública. Acredito que esta função é um dever das instituições que possuem quadros e documentos". Portinari criticou a passividade da sociedade diante do furto. "Não sinto a mesma intensidade da revolta das pessoas contra este crime do que a repulsa com o crime financeiro. Isto é como se roubar a alma do povo brasileiro não fosse tão grave assim", considerou. O filho do pintor revelou que recentemente o documentarista Eduardo Coutinho encontrou com o homem que posou como modelo para o pai no quadro O Lavrador de Café, pintado em 1939, e também no quadro O Mestiço, que está na Pinacoteca de São Paulo. "Ele era um homem simples. Chamávamos ele de seu Milton e tinha uma proximidade grande com o meu pai" , lembrou João. O professor avalia que além da história do trabalhador, a tela traz referências a história da imigração e da cultura cafeeira no país, pois a tela apresenta um negro em primeiro plano como símbolo da classe proletária e uma locomotiva atravessando a paisagem de uma típica fazenda de café. Segundo ele, antes de ser doada ao Masp, a tela teve apenas um dono, o colecionador José Whitaker, que comprou a obra de Portinari e depois a doou ao Masp.

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