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Fechado há cinco anos, Museu Paulista pode ser visitado na internet

Parcerias com Google e Wikipedia garantem acesso ao acervo

Por Edison Veiga
Atualização:

SÃO PAULO - Cinco dias depois da pior notícia da história dos museus brasileiros – uma tragédia que destruiu quase todo o acervo do Museu Nacional, instituição bicentenária do Rio de Janeiro – neste feriado de Sete de Setembro o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, vai anunciar uma novidade positiva.

Museu está fechado há cinco anos e um mêspor conta de problemas estruturais no prédio construído em 1885 Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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Fechado há cinco anos e um mês, por conta de problemas estruturais no prédio construído em 1885 – o forro de uma das salas estava cedendo e há rachaduras aparentes em praticamente todo o prédio –, o museu firmou duas parcerias, com Google e Wikipedia, e agora terá todo seu acervo disponível online, facilitando o trabalho de pesquisadores e se tornando mais acessível.

“Firmamos um convênio do Museu Paulista com o Google Art Institute em 2017. Desde então, estamos transferindo por lotes os nossos acervos”, conta a diretora da instituição, a historiadora Solange Ferraz de Lima. “Priorizamos o acervo de pinturas. Já estarão disponíveis a partir de agora mais de mil delas. Vamos abrir para o público neste Sete de Setembro, com uma exposição virtual sobre a nossa mais emblemática pintura Independência ou Morte”

Pelo projeto, o Google está captando o acervo por meio da tecnologia batizada de Art Camera – assim como já fez em instituições como o MoMA, de Nova York, e o Louvre, de Paris. “Isto permitirá zooms incríveis dos conteúdos”, ressalta Lima. “Nossa intenção é disponibilizar os acervos na medida em que estiverem revisados. E sempre associados a exposições virtuais.” A página do Museu Paulista no projeto é esta.

Para fazer as imagens do gigante quadro Independência ou Morte, que mede 4,60 metros de altura por 7,60 metros de largura, o Google precisou adaptar seu processo. “A Art Camera fotografa pedacinhos da obra em altíssima resolução para depois juntá-las, por meio de aprendizado de máquina, e, assim, permitir que as pessoas vejam os mínimos detalhes de uma obra - às vezes, até imperceptíveis a olho nu. Para o famoso quadro de Pedro Américo, foi necessário utilizar um andaime para concluir a captura do quadro, que hoje é a maior obra em Art Camera da plataforma no Brasil”, esclareceu a empresa, em nota.

Ainda na seara das plataformas digitais, o Museu do Ipiranga também terá seu acervo na plataforma colaborativa da Wikipedia, dentro dos princípios wikicommons de compartilhamento livre. Esta parceria foi idealizada pelo jornalista e sociólogo João Alexandre Peschanski, professor da Faculdade Cásper Líbero. “É um projeto incrível. Envolveu nossas equipes de documentação e do educativo”, empolga-se Lima.

Pelo projeto de Peschanski, o acervo do Museu se tornou tema para seus alunos de jornalismo. Eles elaboram verbetes sobre os itens disponibilizados. O Museu, em contrapartida, fornece a bibliografia necessária e faz a orientação – garantindo assim a qualidade informativa dos conteúdos. É um projeto que envolve diretamente as educadoras do museu, Isabela Arruda e Denise Peixoto. Para tornar o conteúdo acessível a deficientes, muitas das pinturas disponibilizadas na plataforma também passam a contar com áudio-descrições.

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“Todas as imagens ali estão em domínio público e podem ser ‘baixadas’ em boa resolução”, frisa a diretora. O projeto pode ser conferido em aqui.

Assim como o Museu Nacional, do Rio, o Museu Paulista também é mantido por uma universidade pública – no caso, a Universidade de São Paulo, principal centro de educação superior do Brasil.

Restauro

Se no campo digital as novidades são boas, a esperada reabertura do Museu do Ipiranga ainda está longe de se tornar uma realidade. Desde a interdição, em agosto de 2013, foram efetuados laudos de patologias na fachada, escoramentos emergenciais de forros e transferência de boa parte do acervo para imóveis locados nas redondezas. Algumas obras importantes, como o quadro Independência ou Morte, estão mantidas dentro do prédio – porque sua remoção é quase impossível – mas foram protegidas.

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No fim do ano passado, conforme o Estado divulgou com exclusividade, foi anunciado o projeto vencedor para a sonhada obra de restauro e ampliação do museu. Quem venceu o certame público foi o escritório H+F Arquitetos. Atualmente, de acordo com a administração do Museu, está sendo desenvolvido o projeto executivo – que dá as diretrizes da obra em si. Do total estimado para a recuperação do museu (cerca de 80 milhões de reais), apenas 3,2 milhões de reais foram captados. A instituição continua insistindo no plano original: que o Museu do Ipiranga esteja reaberto para as comemorações do segundo centenário da Independência do Brasil, em 2022. Torcida não falta.

Licitação da obra pode ser aberta já no início do ano que vem

Depois de desbancarem outros 12 projetos concorrentes e vencerem o concurso público promovido pela Universidade de São Paulo para o restauro e a ampliação do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, os profissionais do escritório H+F Arquitetos debruçam-se sobre a criação do projeto executivo. Desde o início do ano, foram dezenas de reuniões da equipe do escritório com funcionários dos mais diversos departamentos do museu – a fim de compreenderem os problemas e necessidades e pensarem em soluções.

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“Estamos trabalhando a todo vapor”, disse ao Estado o arquiteto Pablo Hereñú. “Já entregamos o anteprojeto e, dentro do cronograma pré-estabelecido, devemos finalizar o projeto executivo nos primeiros meses de 2019. Antes disso, já no início do ano, a USP terá condições de organizar e lançar o processo de licitação.”

Segundo Hereñu, com as obras se iniciando até o fim do ano que vem seria perfeitamente possível ter o Museu do Ipiranga reaberto em 7 de setembro de 2022, para as comemorações do segundo centenário da proclamação da Independência. “Nosso prazo não é folgado, mas é suficiente”, afirma. “Este é um projeto que tem uma especificidade: em tese, permite o andamento simultâneo de duas frentes de obra. O restauro pode se iniciar em paralelo com a construção do anexo, o que permite uma economia de tempo. É como se fossem duas obras separadas.

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Estudos

Para a produção do projeto executivo, os arquitetos, além de visitas in loco ao prédio, estão trabalhando a partir de dados de levantamentos topográficos, métricos e patológicos já realizados nos últimos anos pelo Museu Paulista, desde que a instituição foi fechada. “Há um material de escaneamento a laser da fachada, por exemplo, que nos tem ajudado e auxiliado a produzir bases com uma qualidade que nunca houve com relação a esse edifício”, explica o arquiteto. Além disso, uma profunda pesquisa histórica vem sendo produzida. “Nunca foi feito algo assim: estamos levantando todas as transformações que ocorreram neste centenário edifício. E foram muitas”, ressalta.

Apresentado com exclusividade pelo Estado em 17 de dezembro, o projeto de restauro e ampliação do Museu do Ipiranga prevê uma nova entrada para o público, em um espaço de 3 mil metros a ser construído no subsolo da instituição. Ali, ao nível do Parque da Independência. Este hall deve ter imensas vidraças que permitam a observação dos chafarizes e de todo o ambiente externo. No local, estão previstas, além das bilheterias, uma livraria, um café, um auditório e salas para o educativo.

Por meio de escadas rolantes, o frequentador chegaria ao salão de entrada atual do museu.

As coberturas do edifício, anteriormente utilizadas para reserva técnica – este sobrepeso, aliás, é apontado como uma das causas para os problemas atuais do imóvel – também devem ser utilizadas como espaços expositivos, com passagens envidraçadas que permitam ao visitante admirar o horizonte da região. No topo, haverá um mirante.

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Área passará por ampliação

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou nesta quinta-feira, 6, a ampliação do Parque da Independência. Em posse da gestão municipal há mais de dez anos, o espaço chegou a passar por obras iniciais, que pararam após a descoberta de um muro remanescente de um antigo internato católico centenário.

Segundo a Prefeitura, o parque terá um aumento de 16% da área, com o acréscimo de 26 mil metros quadrados, que serão somados aos atuais 161 mil metros quadrados.

A primeira etapa das obras é focada em acessibilidade, implementação de playground, paisagismo e equipamentos de ginástica, ao custo de R$ 1,7 milhão, bancado pelo Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social (Fema). A estimativa é de oito meses de obras e entrega em 2019.

Entrevista: Solange Ferraz de Lima, historiadora e diretora do Museu Paulista

Faz cinco anos que o Museu Paulista está interditado. Até agora, a obra de restauro não começou. O que falta para começar? Ou quanto falta para começar?

Estamos com o projeto executivo contratado e em desenvolvimento. A previsão é de finalizar o projeto executivo em abril de 2019, com início das obras no segundo semestre do próximo ano.

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Ainda está mantida a data de 2022 para a reabertura do Museu?

Nosso empenho é total para que em 2022 o edifício-monumento seja o palco das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil. Mas essa missão não pode ser considerada uma missão exclusiva da Universidade de São Paulo. É um projeto caro, complexo, para devolver para a sociedade um dos principais espaços da cidade e símbolo nacional. Trata-se de um patrimônio com um incrível potencial educativo, de lazer, e turístico. A USP está comprometida com o planejamento e execução do projeto, articulando ativamente entes públicos nos três níveis de governo e entes privados. No entanto, a sociedade deve permanecer atenta, pois ainda permanece o grande desafio de mobilizarmos os recursos necessários, para fazermos frente ao cronograma justo de execução.

Quanto até agora já foi obtido por meio deles? É via leis de incentivo ou outra modalidade?

Até o momento, entre patrocínio direto e aportes via Lei Rouanet, o projeto está recebendo 3,2 milhões de reais. A FUSP - Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo é o proponente do projeto e responsável pela execução dos recursos.

Há uma estimativa de quanto seria necessário para a obra?

Continuamos operando com a estimativa do ano passado, cerca de 80 milhões de reais. A confirmação precisa do valor depende das etapas ainda a serem desenvolvidas no projeto executivo.

Qual sua posição quanto à disponibilizar os acervos, de forma livre e gratuita, pela internet? É entusiasta pessoal dessas parcerias que vêm sendo firmadas?

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As possibilidades são muitas e as perspectivas, excelentes. As equipes trabalham para documentar, conservar e disseminar os acervos e o conhecimento produzido a partir dele. Esses objetivos integram a missão de um museu universitário como o Museu Paulista. Sempre fizemos isso. A diferença está na escala. Conseguimos atingir milhares de pessoas, e esse alcance multiplica também as colaborações. Acredito que este é o futuro da disseminação do conhecimento. É o que hoje vem sendo tratado como Humanidades digitais. As possibilidades educacionais são incríveis também, na medida em que permite engajar alunos na elaboração de conteúdos, e promover uma reflexão sobre a importância e necessidade da certificação das informações, de trabalhar com fontes confiáveis. /COLABOROU PRISCILA MENGUE

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