O Programa de Recuperação da Serra do Mar, do governo do Estado de São Paulo, está levando 1.754 famílias das mais de 5 mil que são retiradas das áreas de risco de Cubatão, na Baixada Santista, para outra região apontada como sensível por ambientalistas, o entorno de um mangue. São conjuntos habitacionais e casas que estão sendo construídos no Jardim Nova República, bairro afastado do centro de Cubatão que cresceu nos últimos 20 anos nas proximidades do mangue. Trata-se de um ambiente importante para a reprodução de peixes, mas que hoje já convive com problemas como esgoto a céu aberto e descarte de materiais nas águas.Os prédios chamam a atenção de quem sobe ou desce a serra porque são um reduto de concreto em meio ao verde dos mangues e da Serra do Mar, entre a Via Anchieta e a Rodovia dos Imigrantes. O terreno já havia sido desmatado décadas atrás e usado como depósito de materiais para a construção da Imigrantes.O temor é que a degradação da área já habitada, conhecida como Bolsão 8, torne-se a mesma nos Bolsões 7 e 9, que receberão as famílias. Já estão em processo de mudança 32 delas.Para Yara Schaeffer-Novelli, professora do Instituto Oceanográfico da USP e especialista em gestão de zonas costeiras tropicais, a urbanização trará prejuízos. "É um ambiente extremamente frágil em termos de equilíbrio." Segundo ela, a drenagem da água das chuvas será prejudicada e deverá mandar sujeira ao mangue. Ela defende a volta da área ao estado original. Yara afirma ainda que uma alteração no fluxo de águas facilita a erosão e que outras experiências mostraram que terrenos próximos a mangues sofrem afundamentos, o que afeta o sistema de esgoto.Para Fábio Dib, membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), a falta de vegetação altera o clima com a formação de ilhas de calor. Ele diz que será preciso educação por parte da população e um bom sistema de coleta de resíduos. Avalia que o uso para desocupar as áreas de risco é, dos males, o menor.