Famílias buscam retiro para integração e 'detox' de eletrônicos

Celulares dão lugar a ioga, meditação e brincadeiras de pais e filhos

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:
Juquitiba. Manuela e família: 'Aprendi a respirar, dar pausa' Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com a chegada da segunda filha, a bancária Manuela Toda, de 37 anos, sentia dificuldades para cuidar da pequena Theodora, de 1 ano, sem deixar de dar atenção para a filha mais velha, Catarina, de 7. Na casa da produtora cultural Yannick Carvalho, de 44, o problema é outro. Ela e o marido são obrigados a ficar conectados na internet praticamente o dia todo por causa do trabalho e até Ian, de 3, já está entrando na onda: chora porque quer ver desenhos no tablet ou acessar joguinhos no celular. Já a fotógrafa Beatriz Ramires Alba, de 35, vinha se preocupando com o pouco tempo que passava com a filha Raquel, de 13.

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Em comum, as três mães decidiram buscar uma experiência que reaproximasse a família e promovesse um “detox” de aparelhos eletrônicos. Decidiram embarcar em uma espécie de retiro de integração familiar, viagem na qual os celulares devem ser deixados de lado para que ganhem espaço atividades como ioga, meditação, trilhas, banhos de cachoeira, oficinas de pintura e brincadeiras entre pais e filhos.

Manuela, o marido e as filhas passaram um fim de semana de abril em um espaço de retiro em Juquitiba, no interior de São Paulo. “Na maioria das viagens, sempre tem os espaços de recreação para as crianças e não podemos ficar todos juntos. Eu e meu marido queríamos esse momento para toda a família, ainda mais depois do nascimento da bebê, que causou um certo ciúme da mais velha”, conta ela, que diz ter aprendido a conduzir a rotina de forma menos estressante. “Na viagem há atividades na fogueira, dança, canto, plantio, brincadeiras. Aprendi a respirar, dar uma pausa quando necessário, o que é muito importante nas relações familiares. Acredito que agora consigo ouvir melhor a minha filha”, afirma Manuela.

Beatriz optou por uma experiência ainda mais exótica. Em novembro do ano passado, passou quatro dias com a filha em Alter do Chão, na Amazônia, e se hospedou em uma maloca - cabana sem paredes, utilizada por povos indígenas. As duas dormiram em redes, conheceram igarapés e participaram de cerimônias típicas da região. “Nos aproximamos demais. Não ter a interferência de eletrônicos é muito positivo. Poder conversar, interagir com outras famílias. São relações que já nascem fortalecidas”, diz Beatriz, que repetirá a experiência no mês que vem, novamente acompanhada da filha.

Detox. “A gente oferece um cesto no início da viagem e convida as pessoas a deixarem o celular lá para poderem aproveitar melhor as vivências. No primeiro dia, a gente só vê um ou dois aparelhos no cesto. No segundo dia, já são vários. Percebemos que, se as crianças e os adolescentes estão ocupados, recebendo atenção dos pais, se desconectam naturalmente”, explica Sandrine Fresnel, de 41 anos, sócia da Leella, consultoria especializada em viagens de integração familiar.

Foi buscando “desacelerar a rotina” que Yannick topou a aventura e também viajará em julho para um lugar na Amazônia, com o marido, o filho e a mãe. “Vivendo em uma cidade grande, a gente vive correndo, sempre no celular. Mesmo pequeno, meu filho já é apegado à televisão e a joguinhos. A gente perde a dimensão da natureza, mas quero que ele cresça conhecendo quantas coisas lindas estão ao nosso redor”, diz.

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