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Família Etzel tornou São Paulo menos cinzenta

Exposição de fotos homenageia criadores de jardins nos parques do Ibirapuera, da Luz e da Água Branca

Por Filipe Vilicic
Atualização:

A família Etzel deixou a cidade de São Paulo mais verde. Jardins simbólicos, como os dos Parques do Ibirapuera, da Luz e da Água Branca, das Praças João Mendes e da República e da Avenida Paulista foram plantados e cuidados por Antônio Etzel (1858-1930) e seu primogênito, Arthur (1889-1971). Pai e filho arborizaram a capital paulista com jacarandás, fícus, paus-ferro... A partir de sábado, esses pioneiros serão homenageados com a exposição Família Etzel: Construtores do Verde (São Paulo 1901-1971).

  

 

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A mostra traz mais de 50 fotos do arquivo da família, além de objetos pessoais, 30 sementes de árvores e uma escultura do rosto de Arthur. Estará espalhada por seis salas da Casa do Administrador, no Parque da Luz, no centro - o prédio abrigou os Etzel de 1901, quando foi construído, até 1971.

 

Nascido no Tirol, região que na época, meados do século 19, era austríaca e hoje pertence à Itália, Antônio Ezzel - que mudou o sobrenome para Etzel para facilitar a pronúncia em português - estudou agricultura e veio para o Brasil para trabalhar em Campinas. Sabe-se que em 1886 ele era jardineiro em uma propriedade de João Bierrenbach. Na época, recebeu o imperador d. Pedro II, que visitava oficinas de fundição de seu patrão.

 

De acordo com nota publicada no Diario de Campinas, que estará em exposição, o monarca e o então ministro da Agricultura se impressionaram com as habilidades de Antônio. "O ministro da Agricultura deixou entender que talvez viesse a precisar dos serviços desse profissional para a formação de um centro agrícola neste município", divulgou o jornal. Não se sabe, porém, se o jardineiro chegou a realizar tal trabalho.

 

Datam de 1889 os primeiros registros de Antônio em São Paulo. "Ele se mudou para cá para fugir de uma epidemia de febre amarela que assolava Campinas", afirma a ex-bibliotecária Maria Antonieta Etzel, de 86 anos, neta do patriarca, filha de Arthur e a mais velha descendente da família. Na época, o jardineiro cuidava das plantas e árvores da casa de Veridiana Prado, mãe de Antônio Prado, o primeiro prefeito de São Paulo. "Admirado com os conhecimentos de meu avô, Prado o convidou para cuidar das áreas verdes da cidade", conta Maria Antonieta. Antônio se tornou, então, o primeiro diretor do Departamento de Parques, Jardins e Cemitérios.

 

CASA

 

Dois anos depois, os Etzel se mudaram para o Parque da Luz, na recém-construída Casa do Administrador. Antônio era casado com Eudoxia Megerus e tinha cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Em 1906, com apenas 17 anos, seu primogênito, Arthur, se tornou ajudante do pai. Os dois batalharam para tornar a cidade mais verde. Entre seus feitos, foram os primeiros a transplantar, oficialmente, árvores em São Paulo.

 

Trouxeram grandes jabuticabeiras da região de Osasco para o Parque da Luz. E também ajudaram a construir plantações particulares, doando mudas e sementes para quem pedia. "Eles criaram e cuidaram de todos os jardins da cidade", afirma o biólogo André Camilli Dias, administrador do Parque da Luz. "Resolvemos organizar a exposição para resgatar a memória dessa família, tão importante para os parques paulistanos."

 

Antônio Etzel morreu em 1930, no Hospital Santa Catarina. "Provavelmente de câncer", diz Maria Antonieta, que tinha 8 anos na época. Arthur morava em uma casa no Parque da Água Branca e, com a morte do pai, mudou-se para o Parque da Luz. Viveu lá, com a mulher e três filhos, até 1971, quando foi vítima de um enfarte. "Meu pai morreu trabalhando, no Parque do Ibirapuera, onde teve o ataque", conta Maria Antonieta.

 

A Casa do Administrador foi restaurada entre dezembro de 2006 e julho de 2007 - um investimento de R$ 549 mil, bancado pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo. Hoje, além de servir de espaço para exposições, abriga a administração do Parque da Luz.

 

Família Etzel: Construtores do Verde (São Paulo 1901- 1971): de terça a domingo, das 10h às 17h; grátis. No Parque da Luz.

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