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Família de jovem oferece R$ 10 mil por pistas de morte na USP

Qualquer informação sobre suspeitas deve ser enviada a uma página do Facebook criada para colher pistas dessa natureza

Foto do author Marco Antônio Carvalho
Por Marco Antônio Carvalho
Atualização:

Atualizada às 19h14 

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SÃO PAULO - A família do estudante Victor Hugo Marques Santos está oferecendo R$ 10 mil por informações que levem ao esclarecimento da morte do jovem. O valor foi reunido por amigos e parentes da vítima e será pago por pistas "precisas e concretas".

A iniciativa foi divulgada na tarde desta sexta-feira, 26, quando os pais do jovem falaram pela primeira vez à imprensa depois que o corpo foi encontrado na raia olímpica da Universidade de são Paulo (USP). Qualquer informação sobre suspeitas deve ser enviada a um perfil da rede social Facebook criado para colher informações dessa natureza, na qual se manterá o sigilo. O perfil é intitulado de "Victor Hugo (Misterio)".

De acordo com o advogado que representa a família, Ademar Gomes, o objetivo é auxiliar os trabalhos de investigação. "Todas as informações serão repassadas à polícia com intuito de esclarecer o fato", disse Gomes.

"Ele saiu de casa e ele queria voltar. Isso eu tenho certeza", disse a mãe de Victor Foto: Marco Antônio de Carvalho

Em trinta minutos de entrevista, a posição da família foi exposta predominantemente pelo bancário José Marques dos Santos, de 55 anos, pai de Victor. Ao seu lado, a podóloga Vilma da Consolação Costa e Santos, de 56 anos, mantinha-se calada e se emocionava a cada vez que o seu marido falava sobre o comportamento exemplar do estudante.

A voz clara de Marques falhou pela primeira vez ao ser perguntado sobre a rotina após a morte do seu filho."A dor de uma perda é a coisa mais horrível do mundo. É como se enfiasse uma faca no peito da gente e ficasse cutucando, mas só para machucar. Ela machuca muito. Uma criança que tinha tudo para ser um cidadão do bem. Ceifaram a vida do meu filho. Ceifaram a vida do meu filho", disse repetindo a frase final.

"Lindo" foi o adjetivo mais usado pelo bancário para descrever o estudante. "Meu filho é lindo, gente. O meu filho era a coisa mais linda. Eu quero entender o que está acontecendo", disse. Ao seu lado, Vilma chorava, tomava água em um copo plástico e voltava a chorar. Marques negou que o jovem fosse usuário de algum tipo de droga e que isso pudesse ser a razão da sua morte.

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Quando falou pela primeira vez, Vilma teve o braço direito apertado por Marques, em sinal de conforto. Falou sobre os últimos momentos com o filho. "Meu filho saiu e ele pensava em voltar. Ele saiu com o amigo de casa às 22h. Antes, ele pegou o colchão, arrumou o colchão onde o amigo fica, como sempre faz. Sete horas da manhã estava tudo arrumadinho e o meu filho não estava ali", lamentou.

Quatro amigos antigos acompanharam Victor em sua primeira festa no campus da USP. Às 9h do sábado, os pais receberam as primeiras notícias do desaparecimento. Os rapazes que haviam saído com o estudante não tinham conseguido encontrá-lo e deram início a buscas pelos mais variados locais.

Na festa que reuniu cerca de cinco mil pessoas, os amigos relataram aos pais que nem sempre ficaram próximos uns dos outros. Eles divergiam sobre a distância ideal em relação ao palco, onde se apresentaram as bandas CPM 22 e Marcelo D2. Na última vez que foi visto pelos amigos, Victor tinha se afastado para buscar uma cerveja às 4h30 do sábado.

Corpo de Victor Hugo Santos foi encontrado na raia olímpica da USP, próximo ao velódromo, local da festa Foto: Hélvio Romero/Estadão

Marco. Os pais organizavam o velório e sepultamento de Victor quando souberam da decisão da Direção da Escola Politécnica em proibir novas festas organizadas pelo grêmio na cidade universitária. Eles viram nessa posição um começo de conscientização e reflexão sobre o que ocorreu. E comemoraram. 

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Para o pai da vítima, a morte precisa ser debatida para que o caso não se repita. "A perda do meu filho tem que ser um marco para que outras pessoas não se percam da forma como meu filho se perdeu. Ela tem que valer a pena. Meu filho não pode ter se perdido simplesmente sem que isso cause algum reflexo. A gente não quer que outras pessoas se percam desse jeito", enfatizou Marques.

Ele distribuiu fortes críticas à organização por ter escolhido o velódromo localizado no interior da cidade universitária como local da festa. O bancário foi ao local em duas oportunidades ainda durante o final de semana, enquanto o jovem estava sumido. E o que viu não o agradou. Ele classificou o local como "mausoléu". "Aquele lugar parece um mausoléu. Lá não tem um aparato estrutural para receber ninguém. Não tem segurança nenhuma. Não tinha uma câmera", reclamou.

Em razão disso, o advogado Ademar Gomes falou sobre a intenção de acionar judicialmente a USP, onde a festa ocorreu, o Grêmio, que organizou o evento, e a empresa Cos Group, contratada para fornecer segurança na área. Para Gomes, tem de se aguardar a investigação, mas ele já enxerga omissão por parte dos envolvidos.

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A USP informou no final da tarde desta sexta que não iria comentar as declarações da família e do advogado. A instituição, porém, pediu que fosse reiterado o conteúdo de nota divulgada nesta semana. No documento, a USP lamentou o ocorrido e disse estar "discutindo a adoção de medidas para que casos como esse não voltem a ocorrer no câmpus".

O Grêmio e representantes da Cos Group não atenderam a telefonemas da reportagem na tarde desta sexta. Em pronunciamentos anteriores, no entanto, a Cos Group havia reforçado que não houve registro de nenhuma briga no evento e se colocou à disposição da polícia para a investigação. Ao todo, 90 seguranças e 50 controladores de acesso trabalharam no velódromo na noite da festa. 

O mesmo posicionamento havia sido adotado pelo grêmio, que enxergou positivamente a proibição da direção da Poli de festas em razão do momento de luto e investigação policial.A entidade também se colocou à disposição para auxiliar as investigações e reforçou que possuía autorização da universidade para realizar o evento.

O caso. A morte está sendo investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil paulista. Dezesseis pessoas, entre amigos, familiares e seguranças já prestaram depoimento para fornecer detalhes da festa na cidade universitária.

O evento organizado em comemoração aos 111 anos do Grêmio da Escola Politécnica da USP aconteceu no velódromo da instituição e contou com a presença de cerca de cinco mil pessoas. Victor desapareceu na madrugada do sábado e o seu corpo foi encontrado na manhã da terça-feira passada na raia olímpica, a 100 metros do velódromo.

A polícia aguarda a finalização de exames solicitados ao Instituto Médico Legal (IML) que poderão apontar direcionamentos importantes para a investigação. Não se sabe se a morte foi acidental, se ocorreu de forma criminosa e há quanto tempo o corpo estava na água.

O boletim de ocorrência detalha as condições nas quais o corpo do jovem foi encontrado. O documento elaborado por agentes e peritos acrescenta informações que poderão ser úteis aos investigadores. O boletim aponta que o jovem apresentava "escoriações de aparente arrasto no lado esquerdo da face, no nariz, na parte esquerda do lábio inferior e nos cotovelos". 

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Além disso, também relata um edema no olho direito e diz que o corpo "não apresentava inchaço, tampouco rigidez cadavérica." Para os peritos, os ferimentos inicialmente constatados "não são compatíveis com lesões letais."

O boletim traz ainda a informação que reforça a tese de que o corpo teria sido jogado na raia olímpica na madrugada da terça-feira. Isso porque um instrutor de remo que foi ouvido relatou que treinos ocorreram no local no sábado, domingo e segunda passados, sem que fosse notada qualquer alteração.

Na manhã da terça, no entanto, um corpo foi visto boiando pelos primeiros participantes do treino do período da manhã, que acionaram a polícia. A raia tem 2,5 km de extensão, 100 metros de largura e média de 2,5 m de profundidade. Toda a área é cercada e o acesso só é permitido mediante apresentação de carteirinha em um dos quatro portões da raia.

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