Falta d'água vira tema de marchinhas

A partir de hoje nas ruas da capital, blocos usam o bom humor para criticar o desabastecimento

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Por Edgar Maciel
Atualização:

A maior crise hídrica da história de São Paulo virou tema e inspiração para as tradicionais marchinhas de carnaval. A partir de hoje, as canções que vão embalar as brincadeiras pelas ruas da capital levam um pouco de alegria para um tema que está preocupando os paulistanos.

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"Por natureza, o brasileiro gosta de fazer brincadeira com o próprio sofrimento. A gente só resolveu fazer graça naquilo que não tem graça nenhuma", disse Emerson Boy, um dos compositores do bloco Jegue Elétrico. Hoje, às 16h, o grupo vai estrear a marchinha Espreme Calcinha. A ideia surgiu em dezembro, juntando uma homenagem ao presidente do Uruguai, Jorge Mujica, e o volume morto do Cantareira.

No começo da marchinha, uma solução para quem não sabe o que fazer se a água acabar em São Paulo. Uai, bye bye/Vou pro Uruguai/Vou brincar com Mujica/Lá tem meu remédio/Vou sair do tédio. "Mujica e o Uruguai mostram para o brasileiro que a gente pode viver com pouco, de um modo mais despreocupado. Por isso, se faltar água em São Paulo, fujamos todos para lá", brincou Boy.

Nos versos seguintes, o cavaquinho se junta com os três trombones, dois saxes e um trompete do Jegue Elétrico e entoam a rima do Cantareira. A letra diz: Não quero saber/ Se o volume tá morto/ Se a seca do Nordeste/Vem pras bandas do Sul. "A cada dia, está mais insuportável viver sem água por aqui. E aí surgiu a ideia de falar do volume morto, que é uma baita frase para se usar numa marchinha", contou o compositor. Satirizar temas atuais já é uma tradição do bloco. Em 2014, o Jegue Elétrico teve como tema os polêmicos "rolezinhos".

Cambuci. No Cambuci, região central, a inspiração, no dia 7, será a marchinha de Joaquim Antonio Candeias Junior. Ele é o autor da famosa Lata d'água, samba de 1952. O bloco da Ressaca do Cambuci promete "encenar" de um modo diferente os versos Lata d'água na cabeça/Lá vai Maria, lá vai Maria/ Sobe o morro e não se cansa/ Pela mão leva a criança/ Lá vai Maria no desfile Sem eira nem beira. Ressaca da Cantareira.

Em vez de lata, baldes sobre a cabeça dos foliões. Vazios. "É para não desperdiçar o pouco que a gente já tem. Vai ser uma brincadeira com um tom de protesto e conscientização", contou Marcelo Antônio Ferri Neto, presidente do bloco. Mais de seis mil pessoas são esperadas para pular carnaval nas ruas do Cambuci no próximo sábado, a partir das 16h30. "Nossa marchinha ainda está em produção. Vamos fazer surpresa até o dia 7", disse Ferri Neto.

Vestida como sereia, Joana canta o refrão Tô seca não tô molhada/ Eu sou sereia do Cantareira. "Pensamos muito no tema. No começo, a intenção não era fazer nada muito politizado, mas a questão da água foi maior. Precisamos brincar com esse assunto importante no carnaval", disse Joana.

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