Exército ficará no Alemão até julho

Tropas vão substituir forças policiais até instalação de UPP; decisão desagrada às Forças Armadas, que temem contaminação pelo tráfico

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Por Tania Monteiro , BRASÍLIA Alfredo Junqueira e RIO
Atualização:

Mesmo contrariado, o Exército vai permanecer no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro até julho de 2011. As tropas federais substituirão as Polícias Civil e Militar nas duas comunidades ocupadas. A avaliação da cúpula da Força é que há um consenso político, irradiado a partir do Planalto, que prega a permanência das tropas e torna a ampliação da missão irreversível. Acrescente-se ainda o clamor da população, que apoiou maciçamente a operação contra o tráfico. A pressão política já era notada pela manhã, quando o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), anunciou a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, na zona norte, para 2011. Todo o processo deve levar de seis a sete meses. Esse é o tempo estimado para a realização de concursos públicos e treinamento dos policiais militares que vão atuar nas comunidades. A Secretaria de Estado de Segurança está elaborando nova requisição ao Ministério da Defesa, com o estabelecimento das previsões legais para a operação. "Como nós temos a previsão de formar 7 mil homens em 2011, temos um cronograma. E a presença das forças do Ministério da Defesa no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro nos dará a garantia dessa nossa cronologia", explicou Cabral. "É, na verdade, uma antecipação enorme de datas e de conquistas, mas, ao mesmo tempo, uma tranquilidade para que possamos continuar fazendo, sem comprometer nosso calendário de UPPs."

 

 

De acordo com o governador, o ministro Nelson Jobim já teria aceitado a permanência das tropas, faltando apenas detalhes técnicos. O Estado apurou que a Defesa editará uma nova Diretriz Ministerial para resguardar as tropas de complicações legais, em casos de eventual e necessário uso da força. Na quinta-feira, o ministro editou a Diretriz Ministerial n.º 14, que determinou apenas o reforço do apoio da União ao Estado, com a disponibilidade de blindados das Forças Armadas. Por nota, o Ministério da Defesa confirmou que vai avaliar "com celeridade" os eventuais novos pedidos de ajuste no apoio militar. Bastidores. Os militares, porém, estão preocupados com a mudança da missão no Rio de Janeiro, que deixará de ser apenas de vigilância de perímetro, isto é, de controle das entradas e saídas do morro, para se tornar uma tarefa quase policial, desempenhada no interior do Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. A legislação sobre operações de "Garantia da Lei e da Ordem (GLO)" abriga a nova missão do Exército. No entanto, uma mudança técnica será necessária para deixar claras as novas atribuições da Tropa. O receio do comando das Forças Armadas, no entanto, é de que a duração da missão, somada ao novo perfil de operação nos morros, coloque os militares em contato íntimo com o narcotráfico, o que pode contaminar setores do Exército. Nesse período de quase oito meses, o efetivo de 800 homens do Exército deverá ser mantido. Já se sabe que o modelo de atuação não será nos moldes de UPP. As tropas terão um comando militar e poderão reagir em caso de risco à segurança. O NOME COMPLEXO DO ALEMÃOCOMUNIDADE NA ZONA NORTE DO RIONa década de 1950, o imigrante polonês Leonard Kaczmarkiewicz, conhecido pela população como "alemão", adquiriu terras na Serra da Misericórdia, dando assim início à ocupação.

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