Excesso de algas na Billings ameaça parar bombeamento

Na próxima semana deve começar a transposição de 4 mil l/s para o Alto Tietê, mas Cetesb ainda definirá limite para cianobactérias

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Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - Considerada essencial para evitar o colapso do Sistema Alto Tietê e o rodízio oficial no abastecimento à população, a transposição de água da Billings para a Represa Taiaçupeba, na Grande São Paulo, poderá ser suspensa, dependendo do nível de contaminação do reservatório por cianobactérias (algas). Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a obra entra em operação na semana que vem e uma “eventual” interrupção do bombeamento “não vai interferir na produção de água”. 

A possibilidade de suspensão do bombeamento é admitida pela estatal em um “plano de contingência para cianobactérias”, elaborado a pedido da Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb), que definirá níveis de alerta com base no número de células do micro-organismo presentes na água. Isso indicará a necessidade de redução ou suspensão do bombeamento de 4 mil litros por segundo da Billings para o Alto Tietê. Os níveis ainda estão em estudo, segundo a Cetesb.

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Resultados do monitoramento feito pela própria companhia na Billings em agosto mostram que a presença dessas algas na represa já extrapola os limites definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em sete dos nove pontos de coleta. No braço Rio Grande, de onde a água será transposta por tubos até o Rio Taiaçupeba-Mirim, havia 68.495 células de cianobactérias por mililitro, 37% mais do que o teto: 50 mil/ml.

Já no braço do Rio Pequeno, que também será utilizado pela Sabesp para socorrer o Alto Tietê, a presença de algas supera em oito vezes o limite, chegando a 402.630 células/ml. Ao contrário do Rio Grande, esse braço da represa fica ligado ao corpo central da Billings e recebe a água do canal do Rio Pinheiros. 

Piora. As algas se formam em mananciais onde há alta concentração de nitrogênio e fósforo, provocada, principalmente, pelo lançamento de esgoto não tratado, e podem produzir toxinas com efeitos adversos à saúde. Segundo Pedro Côrtes, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em recursos hídricos, a tendência é que a concentração de cianobactérias no reservatório piore nos próximos meses, por causa do aumento da temperatura.

“A floração das cianobactérias ocorre principalmente no segundo semestre, porque ela está relacionada a temperaturas mais elevadas, acima de 22°C, e a um período de maior insolação. De imediato, isso tem impacto ecológico no manancial, sobre os animais silvestres que bebem a água bruta. Mas também pode trazer problemas para o abastecimento humano, porque força a Sabesp a usar algicidas para combater essas algas, o que pode deixar a água tratada com sabor e odor, além de aumentar o custo de tratamento”, afirma Côrtes. 

O plano de contingência só foi revelado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) à Justiça em resposta a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra a transposição por supostas irregularidades no licenciamento ambiental e possíveis riscos ao meio ambiente. Orçada em R$ 130 milhões, a obra tem como objetivo levar 4 mil litros por segundo da Billings, que está cheia (85,9% da capacidade), para a Taiaçupeba, onde fica a estação de tratamento do Alto Tietê, que está quase vazio (15,2%). Ela foi prometida para maio, mas deve entrar em operação só na semana que vem.

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Para o promotor Ricardo Manuel Castro, do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) do MPE e um dos autores da ação, o plano “só reforça que o Ministério Público está certo ao apontar toda a irregularidade que há no licenciamento da obra sem a realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) e o perigo de essa transposição disseminar a poluição existente na Billings para o Alto Tietê, que ainda não está comprometido”.

Os dados da Cetesb mostram que a Represa Taiaçupeba tinha, em agosto, 2.950 células de cianobactérias, 95% abaixo do existente no braço Rio Grande. “Com a transposição, vai aumentar sobremaneira a carga de cianobactérias e a concentração de metais pesados, repercutindo negativamente na qualidade da água que vai ser distribuída para a população”, diz Castro

Os dados da Cetesb mostram que a Represa Taiaçupeba tinha, em agosto, 2.950 células de cianobactérias, 95% abaixo do existente no braço Rio Grande Foto: Robson Fernandjes/Estadão

Sem interferências. A Sabesp informou em nota que “a interrupção eventual do bombeamento do Rio Grande (Billings) para a Represa Taiaçupeba, em função da quantidade de cianobactérias, não vai interferir na produção de água do Sistema Alto Tietê”. A estatal afirmou que os níveis de alerta se referem à qualidade da água bruta captada e estão em análise pela Cetesb. 

Já a agência ambiental informou que “estabelece critérios e ações que visam à proteção do Rio Grande tanto quanto à saúde humana, a proteção à vida aquática e o uso de água para abastecimento público” e que a água tratada do reservatório atende aos padrões de potabilidade do Ministério da Saúde e continuará atendendo após a transposição.

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