Ex-secretário diz que delegado 'passou dos limites e vai pagar'

Malheiros Neto renunciou ao cargo na Secretaria de Segurança Pública após ser acusado de achaque ao PCC

PUBLICIDADE

Foto do author Marcelo Godoy
Por e Marcelo Godoy
Atualização:

O advogado Lauro Malheiros Neto defendeu nesta quinta-feira, 8, o afastamento imediato do delegado Nelson Silveira Guimarães, a quem acusa de não ter tomado providências quando soube que os investigadores Augusto Pena e José Roberto Araújo eram suspeitos de seqüestrar Rodrigo Olivatto de Morais, o enteado de Marcos Camacho, o Marcola. Em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo de secretário-adjunto da Segurança, Malheiros Neto disse ao Estado que já está processando o delegado e a ex-mulher do investigador Pena, Regina Célia Lemes de Carvalho, que o acusou de receber dinheiro que Pena obtinha por meios ilícitos. No fim, Malheiros Neto deu um conselho à Polícia Civil: "Ela não merece que uma minoria denigra a imagem dos bons policiais. Cortem na própria carne". Leia, a seguir, a íntegra da entrevista. 1. Quando, exatamente, o senhor tomou a decisão de deixar o cargo? Como dito na carta do pedido de minha exoneração, a qual enviei ao Exmo. Sr. Governador José Serra, tomei tal atitude em razão das caluniosas noticias que venho sendo alvo nos últimos dias, aliás, diga-se de passagem, disformes das próprias manchetes, pois me vinculam a acontecimentos ocorridos em época anterior à assunção de meu cargo. Já no texto das notícias, fica explícita a disparidade entre as chamadas e a versão dos fatos. Tomei tal decisão na condição de homem público e ciente das atribuições de meu cargo que exigem dedicação exclusiva e, assim, impossível nesse momento ter a necessária tranqüilidade para exercer com plenitude minhas funções e ao mesmo tempo repelir as sórdidas e infundadas acusações que me foram proferidas. Tal pasta é de essencial importância na vida das pessoas e requer que seus dirigentes tenham dedicação integral na condução dos problemas da segurança do Estado. Dedicação essa que exerci até então, sendo na assistência do titular da Pasta, Dr. Marzagão, também responsável por muitas das ações que resultaram na queda dos homicídios no Estado, no aumento das prisões de criminosos, na prisão de centenas de bandidos ligados ao PCC (sem disparar um tiro), na apreensão de 84,2 toneladas de drogas e em recolher mais 23 mil armas ilegais, dentre outras ações de notório benefício para a segurança da população. Também pedi minha exoneração em respeito e consideração ao Sr. Governador do Estado e ao Sr. Secretário da Segurança, mas, principalmente, em respeito à população do Estado de São Paulo, que precisa de alguém que possa disponibilizar integralmente seu tempo ao serviço público, o que hoje, infelizmente não tenho em razão dos ataques que sofro por pessoas sem qualquer senso de responsabilidade, colocando em risco toda a segurança de uma população, maculando toda a instituição a qual pertence, por questões de interesses próprios que julga terem sido feridos. 2. Chegou a conversar com o dr. Marzagão sobre sua decisão antes? Como foi essa última conversa? Foi uma decisão que julguei ser a mais correta para o momento, pois desde que assumi o cargo de Secretário Adjunto da Segurança, dediquei as 24 horas do meu dia, os 07 dias da semana, fins de semana e feriados ao árduo trabalho que exerci. Dediquei-me de corpo e alma ao cargo, sem hora para parar, chegando a varar madrugadas a dentro nas ruas de São Paulo sempre em apoio aos nossos policiais, sempre para a eles mostrar que não somente eles estavam nas ruas naquelas madrugadas, mas o Governo também estava ao seu lado, em patente reconhcimento dos serviços que prestam. Digo que a Polícia do Estado de São Paulo é uma das melhores polícias do mundo, formada por competentes, valorosos e vocacionados policiais, os quais não merecem ser colocados em descrédito pela ação de poucos não bem intencionados. Enquanto estive no cargo combati com veemência o crime em todas as suas formas, organizada ou não, mas, principalmente, combati aqueles que maculam o bom nome da polícia. E quem realmente me conhece sabe disso!! Mas, para isso criei muitos inimigos, pois nunca me rendi e nunca me renderei a pressões e chantagens, motivo pelo qual estou passando por essa execração, mas, digo, sempre de cabeça erguida, pois sei qual é a verdade dos fatos, verdade essa que certamente aparecerá, e não me arrependo em combater quem quer que seja, principalmente aqueles que usam de suas atividades policiais para espúrios interesses. Se pudesse hoje escolher entre voltar ao passado e ficar inerte trancado em meu gabinete, recebendo cumprimentos e sendo simpático a tudo e a todos, consentindo que alguns poucos espuliassem o bom nome da polícia paulista, o que certamente não estaria me trazendo os problemas aos quais hoje enfrento, ou, novamente fazer como fiz, combater sem medo de represália a quem quer que seja, não cedendo a chantagens, ameaças e espúrios interesses pessoais, digo, faria tudo de novo, pois sei que fiz o certo, e tenho certeza que meu sucessor sob o comando do Dr. Marzagão fará o mesmo. Para tudo há um começo. Não nego que estou tendo grandes problemas pessoais por isso, mas, quando aceitei tal cargo público coloquei de lado minha vida pessoal em prol do interesse público, e isso vem sendo aLcançado, pois aqueles que tiveram seus interesses contrariados, aqueles que sempre agiam nas sombras, resolveram mostrar suas caras, e agora é só uma questão de tempo para que a verdade venha a tona. Missão cumprida!! 3. Como pretende fazer sua defesa daqui para frente? Já estou processando criminalmente o Dr. Nelson e a Sra. Regina, ex-mulher do policial Augusto, senhora a qual sequer conheço, mas que já advoguei em seu desfavor nos tempos em que exercia a advocacia, em caso de família o qual não posso tecer maiores comentários em razão do sigilo profissional que cerca tais casos, pois sou ético. Óbvio que quem quer que seja não nutre muita simpatia pelo advogado da parte contrária, principalmente em demandas de família em que sempre os ânimos estão acirrados, tomam de raiva as ações do advogado, esquecendo-se que aquele é apenas um profissional. Mas nesse caso, a antipatia de Regina por mim foi longe demais. Aliás, a qual ouvida em 08/04 passado, na sedo do Ministério Público de Guarulhos, em momento algum fez qualquer alusão ao meu nome, e tampouco qualquer acusação contra mim. O que gera maior estranheza, é que posteriormente, por motivos até então desconhecidos, passa aquela senhora a proferir infundadas acusações. Maior coincidência ainda, na ocasião em que o Dr. Nelson também passa a infundadamente me acusar. Muito estranho!!! Quanto ao Dr. Nelson, este tenta a mim atribuir sua desídia quando na condução na Diretoria do Demacro, pois os fatos que recaem sobre os policiais ocorreram durante sua gestão, ocorreram em 2005/2006, ocasião em que, aliás, eu ainda sequer tinha assumido meu cargo. Posso dizer isso sem medo de errar, pois ele me atribui a remoção de policiais que estavam "afastados" a mando do próprio Dr. Nelson, eis que ciente que tais policiais praticaram crimes gravíssimos em 2005/2006. Mas, não explica porque apesar de saber de tais graves fatos contra aqueles policiais não determinou a imediata instauração de procedimento disciplinar a respeito, e tampouco fez tais ditos afastamentos na forma prescrita em Lei, colocando o caso sob o crivo do Delegado Geral à época dos fatos, o qual por despacho, anotação na folha funcional dos policiais e publicação no Diário Oficial faria o afastamento. Na verdade nada disso houve, não se sabe por qual motivo, motivo esse que somente o próprio Dr. Nelson poderia declinar, o porque não instaurou o procedimento adequado. E mais, já que ciente dos atos dos policiais, porque os manteve em seu Departamento por mais dois anos, em plena função policial. Mantidos em plena função policial, pois, como dito, não estavam afastados, eis que não existe "afastamento por telefone". O afastamento é ato formal e legal. Em relação aos fatos sob investigação contra os policiais, tais assentamentos somente constaram nas fichas funcionais daqueles policiais em fevereiro de 2008, ou seja, em janeiro de 2007, quando assumi o cargo nada constava nos assentamentos dos policiais a respeito do caso, inclusive, ainda trabalhavam sob o comando do Dr. Nelson. Muito estranho??!!! Agora esse senhor tenta a mim imputar sua desídia, de maneira infundada e tresloucada, colocando em instabilidade toda a segurança de um Estado, colocando em risco o crescente progresso do bom nome de sua Instituição, a Polícia Civil de São Paulo. E sobre esses fatos o Dr. Nelson está respondendo processo administrativo na Corregedoria Geral da Polícia, a qual confiamos e esperamos que o caso seja apurado com a maior seriedade. 4. O senhor acredita que sua demissão do cargo fará com que as acusações sejam amenizadas? Como disse, sai do cargo para ter a tranqüilidade suficiente para defender-me das infundadas acusações que são perpetradas contra mim, pois meu anterior cargo exige dedicação integral e tranqüilidade para decisões. Também pedi minha exoneração para que amanhã não seja acusado de usar a máquina do estado para me defender. Na mesma vertente, creio que também deva ser o Dr. Nelson afastado de seu cargo, mas não por telefone, e sim de maneira correta, eis que responde a processo administrativo instaurado pela Corregedoria, na semana passada, para apurar sua desídia na instauração do procedimento acima citado, bem como por estar sendo por mim processado. Tal medida deverá ser de rigor para que também a ele não haja a possibilidade de se utilizar dos "meios policiais do estado", para que assim seja a prova produzida em quaisquer dos procedimentos isenta de qualquer favorecimento. Um litígio limpo, sem subterfúgios e favorecimentos, aos quais como advogado que sou sempre fui acostumado à ética. 5. Por que o senhor acredita que o dr. Nelson Silveira Guimarães esteja encabeçando essa "campanha sórdida"? Infelizmente o Dr. Nelson é daqueles que não concebe a idéia em ser subordinado aos mais jovens, principalmente aqueles que no passado foram seus subalternos, o que é o meu caso. Também ele é daqueles que não admitem que o cargo público, como o próprio nome diz, é público e não privado, pois todos os problemas que enfrento com o Dr. Nelson vêm desde o momento em que ele saiu da Diretoria do DEMACRO em meados de setembro de 2007, ocasião da mudança do Delegado Geral. Aliás, vale ressaltar que quando assumimos a SSP, em janeiro de 2007 o Dr. Nelson era o Diretor daquele Departamento, e continuou a ser até meados de setembro, portanto, não há que se falar em perseguição como ele tanto gosta de bradar pelos cantos. Em 1993 exerci o honroso cargo de Delegado de Polícia no Departamento de Homicídios, na Divisão que o Dr. Nelson era o divisionário, portanto, meu superior hierárquico. Nessa ocasião conheci o investigador de polícia Augusto, o qual era um dos investigadores dentre os diversos daquela equipe. Lógico que trabalhando na mesma equipe de investigação foi mantido relação profissional com aquele policial, o qual de pronto digo, à época em que trabalhava comigo naquele equipe sempre foi um excelente e prestativo policial. Vale acrescentar que ambos, em 1993, éramos subordinados ao Dr. Nelson, então divisionário. No tempo que estive na polícia nunca tive qualquer mácula funcional, sempre honrando o cargo que exercia e o bom nome da Polícia Civil, Instituição essa que tenho em apreço. De lá para cá, nunca mais tive contato com o Dr. Nelson, vindo a reencontrá-lo quando assumi o cargo de Secretário Adjunto, sendo que, desde então passei a ter inúmeros problemas de insubordinação daquele senhor, aos quais sopesei a todos, sempre problemas voltados com o inconformismo de um jovem advogado, ex-delegado de polícia, antes seu subordinado, estar assumindo um cargo de tão elevada importância. Mas, até por respeito e saber que geralmente policiais mais velhos ainda não aceitam tais coisas, sempre relevei a questão. Tanto é que ele permaneceu na direção daquele Departamento. Contudo, com a mudança do Delegado Geral, o Dr. Nelson não entendeu que é comum na polícia a mudança da cúpula da polícia, da equipe de trabalho do novo Delgado Geral, vindo à mim atribuir sua saída. De lá para cá passou a fazer as mais desmedidas ameaças para tentar voltar ao "poder", ameaças essas proferidas através de altas autoridades policiais, as quais serão arroladas em momento oportuno, chegando ao ponto de tresloucadamente engendrar essa armação contra minha pessoa. Realmente ele passou dos limites, mas, certamente pagará por isso, e esses fatos que tanto me abalaram e tanto abalaram a Polícia Civil, certamente, no futuro, servirão para fortalecer ainda mais a mim, e àquela Instituição. Em suma é isso. Realmente incrível!!!! 6. O senhor esteve no Palácio quarta-feira? Com quem conversou? Não estive no Palácio. 7. A queda do senhor é uma "vitória" da banda podre da polícia? Posso garantir que a Polícia Civil de São Paulo não tem "banda podre", talvez uma "pontinha meio passada", mas que em momento algum será capaz de macular seu bom nome, mesmo porque os policiais sabem quem são, apenas tem medo de represália quando tentam estirpá-los. Eu não tive e não tenho, e que isso sirva de incentivo aos bons policiais. E como conselho digo, cuidem de sua instituição, cuidem de nossa Polícia Civil, ela é muito maior e mais forte do que pensam. Ela não merece que uma minoria denigra a imagem da maioria de bons policiais. Cortem na própria carne.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.