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Ex-presidente de sindicato teria inflamado ação

Acordo foi fechado sem aval de assembleia; ontem, houve protestos na frente das cinco garagens das Viações Santa Brígida e Sambaíba

Por Diego Zanchetta
Atualização:

SÃO PAULO - A falta de líderes reconhecidos da paralisação ficou clara na manhã desta quarta-feira, 22. Nenhum representante dos grevistas compareceu à audiência de conciliação ocorrida na sede da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), na região central. Por esse motivo, o superintendente do Ministério do Trabalho, Luiz Antonio de Medeiros, teve de ir pessoalmente à garagem da Santa Brígida, de onde partiu a mobilização, para se reunir com funcionários.

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Anteriormente, só compareceram à DRT integrantes do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus, que não apoiavam a paralisação, e advogados do setor das empresas de ônibus. Ou seja, não havia com quem negociar o fim da greve.

Por volta das 12h15, após a definição de quatro representantes para ir à DRT e da saída do superintendente Medeiros, vários funcionários gritaram: "Fora, sindicato! Fora, sindicato!".

Um dos representantes dos trabalhadores é Anderson Reis, de 33 anos, empregado da Santa Brígida. Segundo ele, os funcionários paralisados não aceitaram reajuste inferior a 22%.

Bastidores. Nas garagens, fala-se que um ex-presidente do sindicato dos motoristas teria ajudado a dar início à paralisação de 48 horas nos ônibus paulistanos. Tudo começou em uma reunião a portas fechadas da cúpula do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotoristas), ocorrida na segunda à noite. No encontro, foi decidido que a proposta patronal de 10% seria aceita mesmo antes de ouvir a categoria, em assembleia marcada para terça, às 16 horas.

Presente naquele encontro, o atual secretário de Finanças do Sindmotoristas, Edvaldo Santiago da Silva - que já presidiu a entidade -, teria inflamado os profissionais a se rebelarem contra a decisão e o sindicato. Segundo profissionais ouvidos pela reportagem, Santiago teria ido, às 4h de terça, até a garagem da Santa Brígida na Vila Jaguara, zona oeste de São Paulo, e mostrado uma foto do encontro, afirmando que o sindicato estava fechando o acordo por conta própria. A informação começou a ser repassada para outros profissionais, até chegar à Viação Sambaíba, a maior da cidade. Procurado, Santiago não quis falar e se limitou a negar que tenha feito isso.

O dia desta quarta foi de protestos na frente das cinco garagens de Santa Brígida e Sambaíba. Os gritos de guerra dos trabalhadores não eram contra as empresas, mas contra o sindicato e o presidente da entidade, José Valdevan de Jesus Santos, conhecido como Noventa. "Valdevan pode esperar, a sua hora vai chegar", cantavam. Sindicalistas eram hostilizados.

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À tarde, o motorista Tales de Souza Oliveira, de 35 anos, entregava panfletos na garagem da Santa Brígida, falando que o movimento seria mantido até a Copa. "Esse sindicato fatura R$ 20 milhões por mês e só apronta com a gente há mais de 20 anos. Nós não temos nada a reclamar da empresa, a revolta é contra o sindicato, com o que ele faz por trás da gente", diz ele, que não é sindicalizado.

Valdevan Noventa foi eleito presidente do Sindmotoristas no ano passado, representando vitória da oposição. A entidade tem histórico de brigas pelo poder que já deixou 16 mortos nos últimos 14 anos. Na votação do ano passado, houve um tiroteio e oito ficaram feridos. "Nó elegemos esse pessoal achando que tudo mudaria, que as coisas ficariam mais transparentes e nos deram uma punhalada nas costas. Isso é inadmissível", diz José Gomes, de 41 anos, há oito na empresa Gato Preto, outra que aderiu em massa.

Haddad e Justiça. O grupo de motoristas e cobradores grevistas prometeu voltar a trabalhar na madrugada desta quinta-feira. A decisão foi anunciada à noite, após a reunião na DRT e está condicionada a uma reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT), às 10h desta quinta. A intenção da DRT é que Haddad reabra as negociações da campanha salarial, que se encerrou após uma assembleia da categoria na segunda-feira à noite.

Ao mesmo tempo, o sindicato patronal das empresas de ônibus (SP Urbanuss) obteve liminar ontem à tarde no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que obriga a circulação de, no mínimo, 75% do total das linhas de ônibus. Se a decisão do dissídio de greve não for cumprida, será aplicada multa ao sindicato dos motoristas e cobradores, com valor a ser fixado "oportunamente", segundo decisão da desembargadora Rilma Aparecida Hemetério.

Segundo Luiz Antonio Medeiros, as empresas não aceitaram negociar com grevistas. Agora ele espera que Haddad possa ajudar a abrir a discussão.

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