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Ex-fazenda nazista é parcialmente demolida

Governo registra boletim de ocorrência; intenção de destruir instalações no interior foi noticiada pelo ‘Estado’ em abril

Por José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo
Atualização:

SOROCABA - A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo registrou boletim de ocorrência após constatar a destruição parcial da antiga Fazenda Cruzeiro do Sul, no município de Paranapanema, sudoeste do Estado de São Paulo. No local funcionou uma colônia nazista na década de 1930.

 

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Os técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico constataram o fato no dia 9, durante uma vistoria. O conjunto da fazenda encontra-se em estudo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e não poderia ter sofrido nenhuma intervenção. Em abril deste ano, reportagem do Estado havia alertado para a intenção dos adquirentes da propriedade de demolir as instalações.

Após a publicação, o Condephaat notificou os proprietários sobre o processo de tombamento, mas a determinação para preservar o local não foi cumprida. Conforme relata o boletim de ocorrência, um antigo armazém foi totalmente destruído, enquanto um edifício identificado como curral teve a estrutura do telhado e as paredes demolidas.

Há indícios de que não foi uma destruição causada por chuva ou vento, mas provocada por ação humana. Ainda segundo o registro, os tijolos que exibem a inscrição da suástica nazista foram encontrados partidos ao meio, alguns deles alinhados em pilha, de modo organizado, enquanto outros, com inscrições diversas, estavam íntegros.

A Polícia Civil vai investigar quem fez ou autorizou a demolição. Os proprietários, que compraram a fazenda no início do ano para plantar cana, serão ouvidos. Eles não foram encontrados nesta terça-feira, 14, pela reportagem.

O caso também será encaminhado à Procuradoria Geral do Estado para providências judiciais. De acordo com pesquisadores, a fazenda foi palco de um esquema escravista nos anos 1930.

A fazenda foi comprada no início do século passado por Luis Rocha de Miranda, simpatizante do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). A propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso cimentada, uma estação de trens particular e silos aéreos importados dos Estados Unidos.

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Orfanato. Simpatizantes de Adolf Hitler, que ascendeu ao poder na Alemanha em 1933, os donos da propriedade trouxeram 50 meninos de um orfanato carioca para viver e trabalhar na fazenda. Os garotos tiveram os nomes trocados por números e eram obrigados a participar de ritos nazistas, além de receber castigos físicos e trabalhar em troca de roupa e comida.

Em 1937, após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, as crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local terminaram apagadas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von Bohlen und Halbach como local de férias para a família.

Os tijolos com a suástica só foram notados duas décadas depois, quando o ex-proprietário José Antonio Rosa Maciel descobriu o material quando demolia uma granja de porcos.

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