''Estas notas não são aceitas''

DEPOIMENTO - Sérgio Pompeu, EDITOR DO ESTADÃO.EDU

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Por Redação
Atualização:

Nunca tinha ido ao Oriente Médio até desembarcar no Catar em dezembro, para acompanhar um congresso de educação. Correu tudo tão bem que resolvi ficar mais uns dias, por conta. O problema é que mudei de hotel e meu cartão de crédito não passava na bendita maquininha do estabelecimento. Depois de dias falando com meu hoje ex-banco no Brasil, negociando uma solução, o gerente assegurou que eu poderia sacar com meu cartão de débito em qualquer caixa automático. Perdi dois dias inteiros indo a todos os caixas que encontrei. Como não conseguia sacar, parei até de comer, para não gastar os últimos US$ 200.Fui acertar a conta numa tarde de sexta-feira, já pensando em como faria para me hospedar e comer até quarta-feira. O sorrisinho do indiano na recepção me trouxe de volta para o presente. "Estas notas não são aceitas no Catar, senhor." Eu tinha de deixar o hotel. Só depois soube que o problema com as minhas notas era que elas tinham o Benjamin Franklin "errado" (de carinha). Liguei para minha mulher em São Paulo, contei o que tinha acontecido e subi para o quarto, para fazer as malas. Mas como dormir na rua num lugar onde ninguém fica na calçada? Enquanto isso, minha mulher conseguiu um telefone para emergências da Embaixada do Brasil. Eu estava no quarto, tentando fazer as malas, quando recebi uma ligação. Era Claudia Assaf, chefe do Serviço Consular da embaixada. Já eram umas 8 da noite. Grávida de 8 meses, Claudia saiu de casa para tirar o compatriota do sufoco. Ela quitou a diária com a verba para emergências da embaixada, me levou a um shopping, pagou um jantar e, de quebra, passou contatos de brasileiros em Doha. Minha avaliação do serviço prestado pelo Itamaraty no exterior se divide em antes e depois de Claudia. Mas agora, ao viajar, quero distância do Ben Franklin. Quando voltar ao exterior, vou com notas miúdas.

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